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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 DOENÇA PERIODONTAL E PERDA ÓSSEA

Na rotina dos consultórios odontológicos, a doença periodontal é bastante comum. Ela provoca um processo inflamatório dentre outras características como será explanado a seguir.

A doença periodontal, segundo Gomes Filho et al. (2006), é caracterizada como o desequilíbrio entre a ação das bactérias, fatores externos e a reação de defesa do organismo. Ela se manifesta pela inflamação da gengiva, podendo progredir até a esfoliação do dente pela reabsorção do tecido ósseo e perda do ligamento periodontal.

De acordo com Kayal (2013), na doença periodontal a infecção começa no epitélio gengival originando a gengivite, e sob certas condições, vai avançar para o tecido conjuntivo subjacente, causando a periodontite. A patogênese da periodontite envolve tanto a resposta imune inata e adquirida. A resposta inflamatória resulta na liberação de uma variedade de citocinas e outros mediadores da inflamação, propagação e recrutamento de células inflamatórias para o tecido gengival. A progressão da inflamação para o tecido conjuntivo adjacente leva à destruição do tecido conjuntivo e do osso alveolar, característica fundamental da doença periodontal.

O epitélio juncional, conforme o estudo de Kayal (2013), separa o tecido conjuntivo do periodonto da cavidade oral. Esse epitélio é fino e permeável que permite o fluxo de toxinas bacterianas e mediadores inflamatórios. A defesa no periodonto ocorre em resposta a um agrupamento de microrganismos que residem no biofilme localizado na superfície do dente. A progressão da lesão da gengiva para o tecido periodontal se dá em quatro fases: inicial, precoce, estabelecida e avançada baseada em achados clínicos e histológicos.

A lesão inicial, segundo o autor, acontece 2 a 4 dias após o acúmulo de placa na gengiva e é localizada no sulco gengival, incluindo o epitélio juncional e a região mais coronal do tecido conjuntivo. Clinicamente há um aumento do fluxo do

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fluido crevicular. As células polimorfonucleares (PMN) começam a migrar para a área, seguindo um gradiente quimioatraente, formado por substâncias da placa e das células do hospedeiro. Já a lesão precoce ocorre após vários dias do acúmulo de placa. Nessa fase, há um aumento no número e no tamanho dos vasos, o que acarreta a vermelhidão da gengiva marginal. Linfócitos e PMNs são predominantes nessa fase da gengivite. Essa fase da lesão pode persistir por muito tempo antes de progredir para a lesão estabelecida.

Na lesão estabelecida há um aumento do infiltrado inflamatório no epitélio juncional e no tecido conjuntivo. Em indivíduos jovens há a predominância no infiltrado de linfócitos, já nos mais velhos destacam-se os plasmócitos como dominantes. O epitélio juncional é substituído por epitélio da bolsa fragilmente aderido e possibilita a migração mais profunda do biofilme bacteriano. Nesse epitélio da bolsa há um intenso infiltrado com leucócitos, predominantemente PMNs, é mais permeável permitindo o acesso de substâncias dentro e fora do tecido conjuntivo (KAYAL, 2013).

A lesão avançada, conforme descreve o estudioso, é caracterizada pela predominância das células inflamatórias plasmócitos. Essas células estendem-se mais profundamente para dentro do tecido conjuntivo, há uma severa degradação das fibras de colágeno e migração mais apical do epitélio juncional. A bolsa aprofunda o biofilme e continua a progredir apicalmente em um ambiente anaeróbico. Nessa fase ocorre a perda de inserção de tecido conjuntivo e reabsorção óssea.

Glowacki et al. (2013) relatam que na doença periodontal, a destruição do tecido está associada com uma diminuição em processos reguladores locais, entre os quais há uma diminuição da expressão de FOXP3 (forkhead Box P3) por linfócitos reguladores.

Sima e Glogauer (2013) descrevem que a doença periodontal crônica e agressiva é caracterizada pelo fracasso na resolução da inflamação local contra bactérias periodontopatogênicas localizadas no biofilme subgengival. Afirmam que a reabsorção óssea alveolar é resultado das alterações da resposta imune inata e adaptativa para os patógenos periodontais e que estudos com animais e humanos mostram que as citocinas, quimiocinas e fatores de crescimento derivados de

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macrófagos estão presentes em número elevado nas fases destrutiva e reparadora da periodontite.

O estudo de Papadopoulos et al. (2013), com ratos, aponta que a Porphyromonas gingivalis é o agente etiológico primário da doença periodontal crônica e que ratos deficientes em TNF são resistentes à perda do osso alveolar após infecção oral com P. gingivalis.

A pesquisa desenvolvida por Arizon et al. (2012), com camundongos deficientes das células de Langerhans, resultou em uma perda aumentada de massa óssea. Os autores revelam o papel imunoregulatório das células de Langerhans inibindo a produção de IFN-γ e a ativação de RANKL em células T CD4 com a função de promover a osteoclastogênese.

Já Han et al. (2013) exibem em seu estudo com ratos, a infecção periodontal por P. gingivalis e a associação com a reabsorção óssea dependente de RANKL, pois esta é acompanhada por um aumento da infiltração local de células T e B que expressam RANKL.

A infecção oral por A.actinomycetemcomitans (Aa), segundo Bezerra et al. (2012), estimulou uma resposta local com aumento do número de PMN e da expressão de TNF-α no epitélio juncional e perda de inserção. Esse quadro foi revertido por tratamento com antibióticos. A infecção por Aa também aumentou TNF- α no tecido conjuntivo, o número de osteoclastos e das células T CD8 nos linfonodos. Dessa forma, a infecção oral por Aa resulta em características importantes da destruição periodontal.

Em outro estudo, Madeira et al. (2012) demonstram que Aggregatibacter actinomycetemcomitans (Aa) induz à perda do osso alveolar e à produção local de mediadores inflamatórios, incluindo o MIF (fator inibidor da migração de macrófagos). Em uma pesquisa com camundongos knockout para MIF, ficou elucidado que o MIF tem função no controle do crescimento bacteriano na doença periodontal, porém, contribui de forma significativa para a progressão da perda óssea ao afetar diretamente a diferenciação da atividade dos osteoclastos.

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Bainbridge et al. (2010) relatam em seu estudo que Porphyromonas gingivalis produz a enzima serina fosfatase em contato com as células epiteliais gengivais in vitro. Em um modelo de doença periodontal em ratos, a serina fosfatase de P. gingivalis é necessária para a reabsorção óssea alveolar máxima, e na ausência dessa enzima, mais PMNs são requisitados para os tecidos gengivais .

Queiroz-Junior et al. (2013) descrevem seu experimento com um modelo de doença periodontal em ratos induzida por ligadura: os animais receberam diferentes doses de naloxona (antagonista opióide não-seletivo) ou veículo, localmente no tecido gengival. A naloxona aumentou significativamente a perda do osso alveolar em relação aos ratos tratados somente com o veículo. Em contrapartida, o antagonista opióide não afetou a perda de inserção das fibras, porém, induziu a um aumento significativo nos níveis de mieloperoxidase , no número de osteoclastos e citocinas nos tecidos periodontais. Os autores concluíram com esse estudo que os opióides endógenos protegem o hospedeiro contra a progressão da perda óssea alveolar inflamatória.

Assim, de acordo com os relatos anteriores, a resposta imune frente aos patógenos periodontais tem como consequência a perda óssea alveolar.

2.2 UTILIZAÇÃO E EFEITOS DOS MEDICAMENTOS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO

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