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4. A TIVIDADES DESENVOLVIDAS NO C ONTEXTO DA U NIDADE DE S AÚDE P ÚBLICA E

4.2. Doenças de Notificação Obrigatória

Foi publicada a Portaria nº 22/2016, de 10 de fevereiro, que torna obrigatória a notificação laboratorial a partir de 01 de janeiro de 2017, dos casos de doenças de notificação obrigatória

(DNO), através do Sistema Nacional de Vigilâncias Epidemiológica (SINAVE).

O SINAVE é um sistema de vigilância em saúde pública, que identifica situações de risco, recolhe, atualiza, analisa e divulga os dados relativos a doenças transmissíveis e outros riscos em saúde pública, bem como prepara planos de contingência face a situações de emergência ou tão graves como de calamidade pública.

O SINAVE permite a atuação de uma rede de âmbito nacional, envolvendo os médicos, os serviços de saúde pública, os laboratórios, as autoridades de saúde e outras entidades dos setores público, privado e social, cujos participantes contribuem para um sistema nacional de informação.

O SINAVE desmaterializa a notificação obrigatória de doenças transmissíveis e outros riscos em saúde pública, permitindo ao médico notificar em tempo real a ocorrência de uma doença transmissível à autoridade de saúde local para a implementação de medidas de prevenção e controlo, limitando a disseminação da doença e a ocorrência de casos adicionais. Funciona ainda como um instrumento para a monitorização contínua da ocorrência das DNO (Anexo H) em Portugal.

De acordo com o Relatório de Monitorização do SINAVE (Pinto et al., 2016), a distribuição da incidência cumulativa de casos notificados por 100 000 habitantes mostrou que onze das vinte e quatro USP apresentaram valores superiores à média regional, existindo contudo USP com valores substancialmente abaixo da média regional, nomeadamente a USP Marão e Douro Norte (29,52 casos/100 000 hab.), tenso sido notificados 31 casos.

A Região de Saúde do Norte foi a que apresentou o maior número de casos notificados (1 507 casos), seguida pela Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, com 1 494 casos notificados, sendo a Região Autónoma da Madeira a que apresentou menor número de casos notificados (49 casos).

No decorrer do estágio, colaboramos com a equipa na vigilância epidemiológica de DNO, através do SINAVE. Os dados obtidos referentes ao ACeS Douro I - Marão e Douro Norte, no ano de 2016, correspondeu a 64 doentes/utentes (25 homens, 30 mulheres, 9 omisso), sendo a Campilobacteriose com mais número de doentes/utentes (Anexo I).

Foi publicado em Diário da República o Despacho nº 5681-A/2014, de 29 de abril, que define quais as DNO, em que está incluída a Campilobacteriose humana.

A Campilobacteriose é uma doença causada pela bactéria campylobacter, é a zoonose mais frequentemente reportada na UE, e que tem a carne de frango como a principal fonte de infeção. A infeção por Campilobacteriose em seres humanos pode ser adquirida através da ingestão de leite cru não pasteurizado ou água, mas é o consumo de carne de aves, sobretudo de carne de frango fresca que constitui a principal fonte de infeção para os consumidores (Hue et al., 2010; Humphrey, O’Brien & Madsen, 2007).

Segundo a European Food Safety Authority (EFSA) e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, em 2009, foram registados 108 614 casos de salmonelose em humanos, tendo-se verificado uma tendência de queda significativa no número de casos. Nesse mesmo ano, o agente causador de doença de origem alimentar mais comum foi o Campylobacter, com 198 252 casos humanos, tendo sido detetado em carne de frango fresco (EFSA, 2011).

Em Portugal, no ano de 2009, foram registados, oficialmente, 11 surtos com origem alimentar. Do total de 251 pessoas que evidenciaram sinais de doença, resultaram 90 hospitalizações e 1 caso fatal (EFSA, 2011).

Em 2010, os Estados-Membros da Europa notificaram um total de 5 262 surtos, envolvendo 43 473 pessoas, das quais 4 695 resultaram em hospitalizações e 25 mortes. Na sua maioria, estes casos foram causados por bactérias (Campylobacter jejuni) (EFSA, 2012).

A EFSA reportou recentemente que a Campylobacter continuou a ser o agente de gastroenterite mais frequentemente declarado em infeções no homem na UE. Em 2012, a Campilobacteriose humana foi a zoonose mais frequentemente declarada, com 214 268 casos confirmados. Entre 2008 e 2012, verificou-se um aumento do número de casos confirmados desta doença na UE, assim como uma tendência sazonal (EFSA & European Centre for Disease Prevention and Control, 2014).

Os principais fatores de risco para a ocorrência de infeção por Campylobacter sp, segundo Blaser (1997), são: i) idade inferior a 5 anos e entre os 20 e 29 anos; ii) sexo masculino; iii) consumo de carne mal processada, nomeadamente de aves; iv) consumo de leite não pasteurizado e produtos lácteos; v) consumo de água não tratada.

As infeções por Campylobacter sp provocam alguns sintomas como a diarreia, cólicas, dores abdominais e febre no período de dois a cinco dias, após a exposição ao microrganismo sendo, geralmente, autolimitadas, não ultrapassando a duração de uma semana. A diarreia pode ser

sanguinolenta e de elevado volume, podendo levar a estados de desidratação (Allos, 2001; Sahin et al., 2011; J. Silva et al., 2011; Veiga et al., 2009).

Quase todas as pessoas infetadas com Campylobacter sp recuperam sem qualquer tratamento específico, sendo a reidratação oral recomendada e, normalmente, suficiente para o restabelecimento total. Este tipo de prática é importante de forma a contrariar um possível estado de desidratação (Coker, Isokpehi, Thomas, Amisu & Obi, 2002; J. Silva et al., 2011; Luangtongkum et al., 2009).

Nos casos mais graves, para além da substituição de fluídos e de eletrólitos, poderá ser necessário a instituição de uma terapêutica antimicrobiana (e.g., macrólidos, fluoroquinolonas). A terapia com antibióticos neste tipo de infeções é sempre feita com uma certa prudência, sendo normalmente aplicada apenas a doentes que apresentem febre alta ou diarreia com sangue, a doentes imunocomprometidos e a doentes em que os sintomas pioram ou persistem por mais de uma semana após o diagnóstico (Ledergerber et al., 2003; Triblle et al., 2010).

Algumas práticas no nosso dia a dia podem ajudar a prevenir infeções de Campylobacter (Altekruse, Stern, Fields & Swerdlow, 1999; Coker et al., 2002; Triblle et al., 2010):

 Cozinhar bem todos os produtos avícolas, assegurando a sua total cozedura; Lavar as mãos com sabão antes de preparar alimentos; Lavar as mãos com sabão após manusear alimentos crus de origem animal e antes de tocar qualquer outra coisa; Evitar a contaminação cruzada na cozinha usando tábuas separadas para alimentos de origem animal e outros alimentos, limpando cuidadosamente todas as tábuas de corte, bancadas e utensílios com água quente e sabão depois de preparar os alimentos crus de origem animal; Evitar consumir leite não pasteurizado e água de superfície não tratada; Certificar que as pessoas com diarreia, especialmente as crianças, lavam as mãos cuidadosa e frequentemente com sabão para reduzir o risco de propagação da infeção; Lavar as mãos com sabão após o contacto com fezes de um animal de estimação.

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