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Domínio motor e paralisia cerebral

CAPÍTULO I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. Multideficiência

1.3. Domínios Afetados na Multideficiência

1.3.1. Domínio motor e paralisia cerebral

A paralisia cerebral, tal como a multideficiência apresenta diferentes definições segundo vários autores.

A primeira descrição de paralisia cerebral surge em 1843, pelo médico Dr. William John Little, ortopedista de profissão e que observou e descreveu crianças com rigidez espástica (Barata 2016)

O termo PC foi posteriormente introduzido por Freud enquanto estudava a “Síndrome de Little” (1897, citado em Rotta, 2002), segundo este, o termo PC refere-se a uma desordem da postura e do movimento, que surge nos primeiros anos de vida da criança causada por desordem cerebral, e que interfere no desenvolvimento do sistema nervoso central.

Para Karel Bobath e Bertha Bobath (1976) a Paralisia Cerebral (PC) atinge o cérebro da criança quando este é ainda muito imaturo o que interfere no seu desenvolvimento motor, sendo o resultado de lesões ou mau desenvolvimento do cérebro de caráter não progressivo. A deficiência motora adquire padrões de postura e movimento considerados anormais assim como tónus muscular.

A Paralisia Cerebral de acordo com Bizarra (2008); Nelson (1994), é referente a um grupo heterogéneo de síndromes neurológicos resultantes de uma lesão nos primeiros momentos do desenvolvimento de um indivíduo.

Segundo Andrada 1986 citada por Barata 2016, refere-se à PC como uma desordem permanente e não imutável da postura e do movimento devido a um problema no cérebro antes da sua completa formação.

Segundo Rosenbaum et al. (2007), paralisia cerebral é “um grupo de desordens do desenvolvimento do movimento e postura, causando limitação da atividade, que são atribuídos a distúrbios não progressivos que ocorreram no

Atualmente o termo PC parece não ser o mais adequado porque traduz uma total ausência da função motora e psíquica o que não corresponde á realidade, desta forma, este termo é rejeitado pelos próprios e pelas famílias por ser redutor e por sugerir ausência de atividade cerebral, (Ferreira, Ponte & Azevedo 2000 citado por Barata 2016, Oliveira 2010, Andrada 2000).

Relativamente às lesões, são irreversíveis devido às células não serem regeneráveis, no entanto, pode existir algum desenvolvimento se for feita uma intervenção precoce estimulando outras áreas cerebrais (Monteiro, 2000 & Andrada, 1986 cit. por Barata 2016).

Este tratamento é denominado precoce porque se inicia por volta do primeiro ao quarto mês de idade e é muito importante devido à grande adaptabilidade e plasticidade do cérebro infantil apresenta nessa altura.

A paralisia cerebral é uma “perturbação persistente do controlo do movimento e da postura, causada por uma lesão não evolutiva do sistema nervoso central, durante o período de desenvolvimento cerebral, limitado em geral, aos três primeiros anos de vida Segundo Orelove e Sobsey (2004), esta é a causa orgânica mais frequentemente identificada na Multideficiência.

Na paralisia cerebral, é difícil encontrar dois casos semelhantes, uma vez que a lesão cerebral poderá afetar diferentes áreas do sistema nervoso central assim como provocar algumas comorbidades (Andrada, 1986 cit. por Barata 2016).

Como tal, as manifestações podem ser diversas e a gravidade da deficiência é variável. Algumas crianças têm perturbações ligeiras, quase impercetíveis, que as tornam desajeitadas a andar, a falar ou a manusear objetos. Outras estão gravemente afetadas com incapacidades motoras, impossibilidade em andar e falar, podendo apresentar dificuldades severas ao nível da aprendizagem.

Leite e Prado (2004) referem que a PC pode ser “classificada por dois critérios: pelo tipo de disfunção motora presente, segundo o tónus muscular e o quadro clínico resultante, que inclui os tipos extrapiramidal ou discinético (atetóide, córeico e distónico), atáxico, misto e espástico; e pela topografia das lesões evidenciada na distribuição anatómica (diplegia, hemiplegia, tetraplegia) ”.

A etiologia do PC pode-se definir segundo o momento em que surgem os fatores que desencadeiam a lesão cerebral, podendo esta ocorrer durante a gestação – fatores pré-natais (e.g. rubéola, intoxicações medicamentosas), aquando do nascimento – fatores perinatais (e.g. anoxia, hipoxia, trauma de parto, prematuridade e após o nascimento – fatores pós-natais (e.g. meningite, traumatismo crânio-encefálico), como apresentamos no seguinte quadro.

Tabela nº 3 - Etiologia da PC

Pré-natal (Maternos) Perinatal Pós-natal

Infeções congénitas (Herpes, toxoplasmose, rubéola, CMV, Sífilis)

Prematuridade Agressões ao SNC

(Traumatismo cefálico)

Agentes teratogénicos Complicações no trabalho de parto Infeções do SNC (meningites/encefalites) Vascular (Hipoxia, isquémia, trombose) Infeção do SNC Hemorragias intracraniana Deficiência de iodo Hiperbirrubinémia

(Kernicterus) Encefalopatia adquirida Malformação congénita do cérebro Complicações placentárias (abrupta, rotura prematura das membranas,

corioamniotite)

Afogamento e asfixia

Drogas maternas ou abuso de álcool

Hipoglicémia Convulsões neonatais

Epilepsia ou hipertiroidismo materno Colo incompetente ou hemorragia do 3º trimestre Trauma durante o trabalho de parto

Complicações obstétricas pré-natais, toxemia, problemas de fertilização, placenta prévia, hemorragias durante a gravidez, gravidez múltipla,

malnutrição, anomalias cromossómicas, história familiar de PC ou epilepsia

A classificação da paralisia cerebral atende também à caracterização do tónus muscular (força e controlo dos músculos) e à sua distribuição topográfica. Quanto ao tónus muscular, existem cinco quadros diferentes que diferem na localização da lesão e nas características evidenciadas, como é possível verificar nas imagens que se seguem. Segundo a distribuição topográfica, a classificação inclui cinco tipos diferentes, e relativamente à classificação quanto ao tónus muscular apresenta-se com 4 diferentes formas de PC.

A PC quanto à caracterização do tónus muscular assume 4 tipos diferentes, denominados espástico, discinético, atáxico e misto, conforme podemos ver na imagem que se segue.

Figura 4 – Caracterização tónus muscular - Adaptada da Associação de Paralisia Cerebral de Braga

Relativamente à sua distribuição topográfica, a paralisia cerebral pode afetar várias partes do corpo de acordo com a imagem seguinte.

Figura 5 - Diferentes Partes do Corpo Afetadas no PC (Classificação Topográfica)

Fonte: adaptado de https://enfermagemilustrada.com/plegia-paralisia-e-paresia- as-diferencas-2/

Existem alguns tratamentos que se podem fazer para tentar minimizar os danos causados nas áreas do cérebro que controlam a coordenação muscular e o movimento. As opções de tratamento existentes incluem fisioterapia, terapia da fala e ocupacional, ortóptica, atividades assistidas, intervenções farmacológicas e procedimentos ortopédicos e neurocirúrgicos (Andrada, 2000).

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