• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – A HISTÓRIA DO CÂMBIO NO BRASIL

1.4 DOS CHOQUES DO PETRÓLEO ÀS CRISES CAMBIAIS DE 1970 A 1980

Essa década foi marcada por eventos que desestabilizaram o balanço de pagamentos de forma significativa. Logo antes, em setembro de 1969, os ingressos de empréstimos passaram a ser condicionados à prévia anuência do BACEN, como vimos, porque os juros internacionais passaram a ser flutuantes e a demanda externa reduzida devido à desaceleração dos países desenvolvidos (GAROFALO, 2002). Ainda em 1970, aboliu-se a exigência de apresentação da fatura consular para o desembaraço de importação29 e se continuou a conceder diversos incentivos fiscais para a importação de máquinas e equipamentos industriais sem similar nacional capazes de aumentar a capacidade produtiva da nação. A década de 1970 foi marcada também por diversos estímulos fiscais dados às exportações. Foi, igualmente, nesta década que surgiram os primeiros sistemas on-line do governo.

O endividamento externo brasileiro continuou a ser controlado pelo Banco Central. Em agosto de 1970, o BACEN resolveu30 exigir que fossem submetidas a esse órgão para análise e aprovação os financiamentos externos de importação de bens com prazo de pagamento superior a um ano, em função das diretrizes da política de endividamento internacional. Além disso, nessa época, a interveniência de corretor de câmbio ainda era obrigatória, exceto para as operações inferiores a mil dólares americanos.

Neste mesmo ano, estabeleceu-se a nova Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM)31, que passou a ser utilizada para auxiliar a aduana a identificar os produtos importados e exportados por meio de um código padronizado internacionalmente onde se podia verificar a incidência de tributos e exigências administrativas para liberação do desembaraço de importação e exportação. Constituiu, assim, a base para a elaboração das estatísticas de comércio exterior.

29

Decreto 66.175/1970. 30 Resolução BACEN 152/1970. 31

Em 12 de julho de 1971, foi regulamentado32 o drawback - um incentivo à exportação – que permitiu aos exportadores importar mercadorias com suspensão dos tributos, condicionada à posterior exportação, ou isentar do imposto de importação a recompra de estoques importados de produto que originariamente não se pretendia exportar ou restituir-se dos tributos pagos na importação de produto que obteve agregação de valor no Brasil e o qual não se pretende mais exportar.

Em abril de 1972 foi permitido33 aos bancos operar em câmbio manual dentro de estabelecimentos hoteleiros, desde que aqueles mantivessem os devidos registros contábeis nas suas posições de câmbio. Em maio do mesmo ano, o CMN tentava desestimular a captação de empréstimos internacionais em um contexto de grande liquidez externa, assim como aliviar a pressão sobre o endividamento externo brasileiro.

Em fins de 1973, houve o primeiro “choque do petróleo”, tendo o preço do barril subido de três para doze dólares. Como consequência, a partir de julho de 1974, as reservas internacionais começaram a apresentar sinal negativo. Além disso, segundo Garofalo (2002), “no início de 1974, por exemplo, equipamentos, componentes, matérias-primas, tudo era importado sem qualquer imposto de importação”. O autor afirma que estas medidas eram fruto do período do milagre econômico brasileiro, quando importávamos em abundância, tendo contribuído, juntamente com o aumento do preço do petróleo, para o déficit nas contas externas.

O aumento do preço do petróleo gerou a necessidade de aumentarmos as exportações em geral e de reduzirmos as importações menos importantes para preservar as compras do óleo. O modelo de substituição de importações foi priorizado e, para isso, eram necessários recursos; estes escassos no país devido à insuficiência de poupança interna. Já no mercado internacional a situação era inversa. Sobravam recursos que, em muitos casos, eram originários dos próprios exportadores de petróleo. O resultado natural foi que aumentamos nosso endividamento externo devido à necessidade de substituir as importações por produtos fabricados internamente, cuja produção demandava máquinas estrangeiras.

A partir daqui, diversas medidas foram implementadas para restringir a importação de produtos considerados supérfluos. A CACEX decidia sobre as licenças prévias de importação, condicionando-as às necessidades de caixa do país, à política de substituição de importações e à proibição de importação de produtos com similares nacionais.

32 Decreto 68.904/1971.

Em setembro de 1977, condicionou-se34 a emissão da Guia de Importação emitida pela CACEX ao recolhimento, em cruzeiros, da importância correspondente ao valor FOB da respectiva Guia. Essa quantia seria restituída ao fim de trezentos e sessenta dias. O recolhimento de que tratava esta Resolução abrangia as importações em geral, sem distinção da qualidade do importador, da origem e procedência da mercadoria e de eventuais reduções ou isenções fiscais a que a operação, a mercadoria e/ou o importador fizessem jus. Era o chamado depósito prévio na importação, uma espécie de recolhimento compulsório, cujo objetivo era justamente o de desestimular as importações.

Essas medidas surtiram efeitos diretos no balanço de pagamentos. Em 1978, apresentávamos superávit de 11,9 bilhões de dólares (GAROFALO, 2002). Em janeiro de 1979, o CMN reduziu, até sua total extinção, o recolhimento para emissão de guias de importação.

A inconstância de regras e objetivos dificultava a decisão de investimentos dos empresários. Do lado das exportações, inclusive, retiravam-se e colocavam-se incentivos, tais como crédito prêmio de exportação e impostos sobre as exportações, dependendo do cenário externo naquele momento. Na maioria das vezes, as decisões de política econômica eram condicionadas por fatores externos, quase sempre fora do controle do país, tendo gerado uma dinâmica constante de liberações e restrições.

Em 22 de novembro de 1978, o CMN definiu35 que os depósitos oriundos de empréstimos internacionais que viessem a ser constituídos a partir de 23 de novembro de 1978 estariam disponíveis consoante o seguinte cronograma: vinte por cento, cento e cinquenta dias após a constituição do depósito; quarenta por cento, trinta dias depois, e mais quarenta por cento, após sessenta dias. Logo em seguida, em abril de 197936, aumentou para cinquenta por cento o depósito instituído anteriormente. Essas medidas tinham como objetivo, novamente, desestimular a demanda de recursos do exterior.

Mais tarde, em 1979, o barril de petróleo subiu de preço novamente para cerca de trinta dólares (SOUZA, 2007), agravando ainda mais a situação das reservas. Passou-se a restringir mais ainda o acesso do cidadão à moeda estrangeira. Esse problema obrigou o governo brasileiro a alterar a política de endividamento externo mais uma vez, passando agora a incentivá-la ao invés de restringi-la. Era esperado um aumento do déficit em transações correntes e os empréstimos serviriam para financiá-lo.

34 Resolução 443 do CMN/1977. 35 Resolução 497 do CMN/1978. 36 Resolução 532 do CMN/1979.

Durante o período da política de minidesvalorizações, ainda houve uma maxidesvalorização em sete de dezembro de 1979, da ordem de trinta por cento, para compensar a eliminação de subsídios fiscais imposta pelo GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), e o fim da política de depósitos prévios sobre importações. Essa desvalorização alterou a taxa de venda de Cr$32,70 para Cr$42,53. O período é considerado como sendo de taxas de câmbio fixas com ajustes nominais sem prazo ou intervalo predeterminado, com o objetivo exclusivo de manter a taxa real, incorporando a inflação do período à taxa nominal, e de incentivar as exportações. Logo após, de dezembro de 1979 a dezembro de 1980, a correção da taxa de câmbio foi pré-fixada em 40% (GAROFALO, 2002). Essa medida mostrou-se equivocada e a moeda nacional foi muito valorizada em relação ao dólar.