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CAPÍTULO II – DO CABIMENTO E PRÁTICA DA TRIBUTAÇÃO INDUTORA

2.1 Dos instrumentos e finalidades da tributação indutora

Prima facie ante a indexação comparada dos institutos normativos estrangeiros, cabe

a colocação da correta compreensão do verbete “indutora” como locução adjetiva do

substantivo tributação. Ocorre que a tributação extrafiscal, ou tributação indutora, seja ela na seara ambiental ou não, almejará um objetivo não arrecadatório. O imperioso é que uma prática indutora, de cunho tributante, terá como meta a arrecadação zero, seja ela inibidora ou estimulante.

Tal conjectura pode ser mais bem visualizada quando ponderados alguns exemplos. Primeiramente pode-se trazer o caso da tributação desestimuladora (majoração de alíquotas) aplicada ao consumo de cigarro no Brasil. Independentemente de o motivo desta política econômica ser os malefícios à saúde do consumidor ou os gastos públicos no tratamento das doenças relacionadas ao fumo, o resultado almejado será, como dito, a arrecadação nula, pois o ideal seria o desaparecimento voluntário de tal prática.

Em posse da experiência negativa da proibição taxativa e criminal para impedir a produção, comercialização e consumo de determinado produto, como foi o exemplo da lei seca que vigorou nos Estados Unidos da América no início do século XX, proibindo a produção, transporte e comercialização de bebidas alcoólicas, figuram os efeitos colaterais como o contrabando e aumento da despesa estatal no combate ao crime, ao passo que o desestimulo econômico se mostra mais eficaz, como é o caso das vendas e consumo de cigarros no Brasil.

cigarros no Brasil, bem como de prevalência (resultado entre a iniciação e a interrupção do consumo do tabaco), veiculados pelo Instituto Nacional de Câncer – INCA, com dados tabulados pela Secretaria Executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CONICQ), mostrados nos gráficos 1 e 2.

GRÁFICO 1 – Consumo per capita de unidades de cigarro no Brasil (2003 – 2014).

Fonte: Secretaria Executiva da CONICQ (2016)

GRÁFICO 2 – Produção de cigarro no Brasil (2000 – 2014).

Fonte: Secretaria Executiva da CONICQ (2016)

Como se pode perceber, dos gráficos 1 e 2, o desestímulo combinado das altas alíquotas tributárias incidentes sobre o cigarro com as políticas de conscientização e educação em relação aos malefícios decorrentes de seu uso, incorreram numa redução de cerca de 14%

no consumo, 4% na prevalência e em torno de 20 milhões (em média) de unidades de cigarros produzidos ao ano, desde o início dos anos 2000.

Em outra perspectiva, o estímulo fiscal detém o fito de aquecimento econômico, seja num plano local/regional, seja em determinado setor da economia. Tal prática visa a maior circulação de bens, serviços e capital, aumento quantitativo de postos de trabalho e enriquecimento econômico de uma forma geral, de modo a criar um ciclo virtuoso.

Como exemplo de estímulo tributário pode-se citar a criação de zonas francas, como a de Manaus – AM, ou, ainda em discussão, a criação da zona franca do Semiárido Nordestino centrada em Cajazeiras-PB. É válido notar o potencial de indução econômica que o sistema tributário alberga, e apesar do crescimento econômico, a região contemplada pela zona Franca de Manaus veio a apresentar externalidades negativas como, por exemplo: a redução da importância do setor primário para a economia do Estado; o crescimento populacional vertiginoso da cidade de Manaus; a concentração das atividades econômicas na cidade de Manaus e a estagnação econômica do interior (MACIEL, MACHADO E RIVAS, 2003), podendo ser qualificadas como falhas ocorridas pela negligência das políticas de desenvolvimento socioeconômicas.

Como enaltecido no início, a prática econômica indutiva põe de lado a arrecadação, pois os ganhos colaterais, prioritariamente socioeconômicos, atingem o finalismo estatal, consolidados no Art. 3º da Constituição Federal, com maior facilidade e linearidade, valendo a sua citação:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Trazendo o meio ambiente para tal contextualização, não se pode conceber a tributação ambiental, mais fortemente presente nos Estados europeus, como uma permissiva a degradação do meio ambiente. Além do princípio do “poluidor pagador”, que por vezes se mostra como uma permissão econômica para a poluição/degradação com base no princípio da

equivalência (capacidade contributiva em âmbito tributário), a tributação ambiental deve ter também um caráter extrafiscal, funcionando como medida de proteção ambiental. Nas palavras de Molina e Vasco (2005): “La fiscalidad ambiental abarca el estabelecimiento de tributos diseñados para proteger el medio ambiente y de medidas fiscales incorporadas a la regulación de los tributos ordinarios”.

Seguindo esta dinâmica, ainda em Molina e Vasco (2005), podem-se enaltecer as modalidades de instrumentos normativos de cunho econômicos tratados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE envolvendo a tributação ambiental: Encargos sobre emissões; Encargos de utilização; Impostos sobre recursos naturais; Licenças, direitos ou cotas negociáveis; Depósitos reembolsáveis; Tarifas por violação; Garantias de desempenho; Responsabilidade civil; e Subvenções em sentido amplo.

Encargos sobre emissões: pagamentos diretos baseados na medição ou estimação da quantidade e qualidade de uma substância contaminante. Os encargos de utilização, por sua vez, são pagamentos pelo uso de serviços coletivos, também podendo tratar-se de quantidades exigidas pelo uso de recursos naturais. Um exemplo seria a utilização das rodovias e outras vias públicas, favorecendo os meios de transportes com maior eficiência energética. (MOLINA E VASCO, 2005).

Impostos sobre recursos naturais são definidos como pagamentos sem contraprestação que se exigem pela manipulação de recursos naturais, semelhante aos encargos de utilização. As licenças, direitos ou cotas negociáveis são títulos para contaminar de caráter transferível, baseados no Protocolo de Kyoto. No caso dos depósitos reembolsáveis, a aquisição de certos produtos, mediante este sistema, exige desembolsar uma soma de dinheiro que será objeto de reembolso quando o produto for devolvido ao fabricante ou as instalações de tratamento de resíduos. (MOLINA E VASCO, 2005).

As tarifas por violação se impõem mediante mecanismos de direito privado aos agentes contaminantes que tenham preenchido as condições exigidas pela norma ambiental. Nas garantias de desempenho o agente econômico deve desembolsar uma soma de dinheiro que será devolvida quando tiver cumprido todas as exigências ambientais. (MOLINA E VASCO, 2005).

de apoio financeiro explícito outorgado aos agentes contaminantes ou aos usuários de recursos naturais com o fim de proteção ambiental. (MOLINA E VASCO, 2005).

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