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Dos novos padrões da violência

No documento MAPA DA VIOLÊNCIA 2013 (páginas 90-93)

9. FATORES EXPLICATIVOS

9.1 Dos novos padrões da violência

No capítulo sete tivemos a possibilidade de nos aprofundar nos novos padrões da violência que emergem e se consolidam na última década. Nomeávamos como processo de interiorização o surgimento de novos polos dinâmicos da violência no interior dos estados tradicionalmente violentos. Disseminação ao deslocamento dos eixos da violência para UFs ou áreas tradicionalmente tranquilas ao longo de todo o país, que originam um segundo deslocamento: dos municípios de grande porte para os municípios de pequeno e médio porte, periféricos até então nos mapas da violência.

Quais seriam os determinantes das mudanças acontecidas na última década? Tentaremos aqui sintetizar diversas abordagens já realizadas em mapas anteriores, principalmente no mapa de 2012 que focaliza esses novos padrões da violência no país.

Em primeiro lugar, a reestruturação do modelo de desenvolvimento da produção brasileira que vem acontecendo desde o último quartel do século passado. Sobre o tema, uma grande variedade de estudos analisou os caminhos desse processo de desconcentração das atividades econômicas do país desde os mais diversos ângulos. Não é nossa intenção fazer uma revisão do tema, pretendemos simplesmente apontar alguns balizamentos para o entendimento do fenômeno e sua relação com a violência.

Em um estudo publicado no ano 2000, com dados de 1989/97, João Sabóia detecta uma mudança no padrão locacional da indústria brasileira, que aumentaria a

importância do interior dos principais estados industrializados e de alguns estados fora do eixo Sul-Sudeste. Por outro lado, estariam surgindo novas aglomerações industriais

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de pequeno porte nas mais distintas regiões do país, caracterizadas por baixos salários e pequeno nível de diversificação industrial23( grifo nosso).

Paralelo à modernização das últimas décadas, houve também intenso processo de mudanças locacionais, tanto intra quanto inter-regional, tanto dentro dos estados quanto entre os estados24, com esvaziamento do principal polo industrial do país, a região metropolitana de São Paulo e a reconcentração industrial no interior de São Paulo e, de modo mais amplo, em diversos outros estados do país, especialmente em cidades de porte médio. Também foi generalizada em todo o país, segundo Sabóia, essa desconcentração industrial em direção ao interior dos estados. Apesar da queda do emprego nos principais polos industriais tradicionais, novas aglomerações foram-se consolidando nas mais diversas regiões do país.

“As mudanças mostram sensível alteração na dimensão espacial do desenvolvimento brasileiro, em que uma possível continuidade da desconcentração das últimas décadas deve ser acompanhada pelo aumento da heterogeneidade interna das regiões brasileiras, com o surgimento de ilhas de produtividade em quase todas as regiões, o crescimento relativo maior das antigas periferias nacionais e importância maior do conjunto das cidades médias perante as áreas metropolitanas. As tendências indicam certa continuidade da desconcentração em direção ao interior de São Paulo e aos principais estados do Sul e do Sudeste e, até mesmo, para o Nordeste, no caso das indústrias intensivas em mão-de-obra25”.

A emergência desses novos polos de crescimento, atraindo investimentos e gerando emprego e renda, tornam-se também atrativos para a criminalidade por serem áreas onde os mecanismos da segurança são ainda precários ou incipientes, sem experiência histórica e aparelhamento para o enfretamento das novas configurações da violência.

E não só atrativa para a criminalidade, os saldos migracionais positivos desses novos polos originam grandes contingentes de população flutuante, com escassas

23

SABÓIA, J. Desconcentração industrial no Brasil nos anos 90: um enfoque regional. Pesq. Plan.

Econ., Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, abr. 2000. 24

DINIZ, C.C. & CROCCO, M.A. Reestruturação econômica e impacto regional: o novo mapa da indústria brasileira. Nova Economia. Belo Horizonte, v6, n.1, jul. 1996.

25

PACHECO, C.A. Novos Padrões de Localização Industrial? Tendências Recentes dos

Indicadores da Produção e do Investimento Industrial. Brasília. IPEA, Textos para discussão n. 633, março de 1999.

MA P A DA VIOLÊNCIA 2013 | Homicídios e Juventude no Brasil 92 raízes familiares e culturais, gerando condições favoráveis de inserção violenta nos novos locais.

Em segundo lugar, investimentos em segurança nas capitais e nas grandes regiões metropolitanas, prioritárias a partir do novo Plano Nacional de Segurança Pública, de 1999, e do Fundo Nacional de Segurança instituído em fins de 2000. Nesse sentido, foram canalizados recursos federais para diversos níveis da esfera estadual, principalmente para aparelhamento dos sistemas de segurança pública nos grandes conglomerados que lideravam o mapa da violência do período. Isso dificultou a ação da criminalidade organizada, que migra para áreas de menor risco e/ou estrutura (interior/outros estados).

Em terceiro lugar, melhoria na cobertura dos sistemas de captação de dados de mortalidade, principalmente no interior do país ou em estados com cobertura deficiente, com o que diminui a subnotificação existente. Assim, fatos que antes não eram registrados começam a aparecer nas recentes estatísticas de mortalidade.

Por um ou outro motivo, consolidam-se configurações espaciais que rearticulam o dinamismo da letalidade homicida centrada, até o momento, em um número limitado de grandes centros urbanos.

Toda migração (de pessoas, de polos, etc.) apresenta fatores expulsivos – do local de origem – e fatores atrativos – no local de destino. Quais seriam, neste caso, os fatores impulsores da mudança?

 Fatores Expulsivos:

 Estagnação econômica nas grandes capitais e regiões metropolitanas tradicionais com a concomitante reversão dos fluxos migratórios para o local de origem ou para novos polos.

 Investimentos na segurança e consequente melhoria da eficiência repressiva dos aparelhos de segurança.

 Fatores Atrativos:

 Surgimento de novos polos de crescimento no interior de diversos estados, atrativos de investimentos, de população e também de criminalidade e violência.

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 Deficiências e insuficiências do aparelho de segurança em áreas de baixos níveis de violência: escassa experiência e baixa eficiência repressiva.

Quais são as consequências desse deslocamento? A disseminação da violência homicida ao longo do território nacional. Locais que até poucos anos atrás eram considerados tranquilos, pouco violentos, hoje assistem a uma pesada escalada de violência. O contrário também acontece em uns poucos centros, alguns de grande peso demográfico e consequente incidência nas estatísticas nacionais. Assim, sem grandes mudanças nas estatísticas globais do país, assistimos a uma decidida reconfiguração na distribuição interna, uma convergência que, sem aumentar a intensidade global – em torno de 27 homicídios por 100mil habitantes – origina a disseminação em unidades que, até uma década atrás, eram aparentemente imunes.

No documento MAPA DA VIOLÊNCIA 2013 (páginas 90-93)

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