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5 – Dos princípios metodológicos utilizados na análise

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (páginas 109-112)

Na tabela abaixo, as oito ilustrações que se encontram no manuscrito de A

Linguagem dos Pássaros, do Departamento de Arte Islâmica do Metropolitan Museum de Nova York, estão relacionadas com os textos de Attar a que se referem. A numeração crescente, convencionada para organizá-las na referida tabela, obedece à ordem de aparição dos textos de Attar na edição brasileira de A Linguagem dos Pássaros. Conforme explicitado anteriormente, apenas as imagens 5, 6, 7 e 8 são atribuídas a Kamal al-Din Bihzad. Por esse motivo, foram definidas como objeto de análise neste estudo.

No Título estabelecido para a imagem pelo

Metropolitan Museum NY, página correspondente no manuscrito e tradução.

Na edição brasileira está relacionada ao

capítulo/texto Página na edição

brasileira 1 A Ruffian Spares the life of a Poor Man (p.4v )

(Um rufião poupa a vida de um pobre homem) Invocação/ Parábola 13

2 The Concourse of the Birds ( p.11r)

(A conferência dos pássaros) Capítulo I: A reunião dos Pássaros/ A reunião dos Pássaros 35

3 Shaikh San'an beneath the Window of the Christian Maiden ( p.18r )

(Sheik Sanan debaixo da janela da donzela cristã)

Capítulo IV: Advertências da poupa sobre

a viagem/ História do Sheik San´na 72-86

4 Shaikh San'an and the Christian Maiden (p.22v)

(Sheik Sanan e a donzela cristã) Capítulo IV: Advertências da poupa sobre a viagem/ História do Sheik San´na 86-88

5 The Beggar who Professed his Love for a Prince (p.28r)

(O mendigo que declarou seu amor ao príncipe)

Capítulo XX: Perguntas de um quarto

pássaro/ O rei e o mendigo 110

6 Funeral Procession (p.35r)

(Cortejo Fúnebre) Capítulo XXVI: Desculpas de um décimo pássaro/ Palavras de um sufi a um filho aflito pela morte de seu pai

131

7 The Anecdote of the Man Who Fell into the Water

(p.44r) (A anedota do homem que caiu na água) Capítulo XXXIV: Pergunta de um décimo oitavo pássaro/ História de um homem que possuía uma longa barba

165

8 Shaikh Mahneh and the Villager (p.49r)

(Sheik Mahneh e o aldeão) vigésimo segundo pássaro e descrição do Capítulo XXXVIII: Pergunta de um primeiro vale, o Vale da Busca/ História

sobre Abú Said Mahnah

Dois princípios orientaram a análise da relação entre o texto de Attar e as imagens de Kamal al-Din Bihzad que apresentaremos a seguir. O primeiro deles está relacionado às abordagens teóricas apresentadas, sobretudo pelas pesquisas do professor David Roburg sobre como pensar essa mesma relação, considerando a singularidade da recepção das imagens para os persas.

Essa singularidade relaciona-se, por exemplo, ao que Roxburg denominou “hermetismo das imagens”, ou seja, olhar imagens na Pérsia incita o leitor à contemplação, como exercício de decifração enigmática, de construção de um sentido que tende ao infinito, tantos quantos forem os leitores que se posicionem diante daquelas mesmas imagens. Olhar as imagens na Pérsia é mantê-las ativadas em relação ao que significam, é experimentar de um exercício imaginativo e, portanto, criativo, longe de poder ser definido como descrição, e isso, sem dúvida, estabelece um novo paradigma para a relação palavra e imagem naquela civilização.

Elaborar um discurso com base em uma imagem, cujo significado está em movimento, implica, de forma equivalente, recriar continuamente o próprio discurso na busca pela forma adequada de dizer a respeito delas, como se dizer sobre elas exigisse um novo repertório, inventado pelo leitor a cada novo olhar – essa é uma experiência de metalinguagem. Trata-se, talvez, menos de desvendá-las do que de situar-se dentro do enigma, perpetuando sua potência.

Acreditamos que o caráter hermético das imagens persas esteja associado ao conceito de aniconismo, que, como preceito islâmico, estabelece o repúdio ao uso de imagens associadas à idolatria. Na busca por burlar esses preceitos, os artistas persas fazem uso de uma nova ordem espacial para abrigar as imagens dentro de suas composições pictóricas (o que está diretamente ligado à ausência de perspectiva na composição de suas imagens) a fim de distanciá-las de uma intenção representativa ou naturalista.

Desse contexto decorre a impossibilidade, citada pelo professor Roxburg, de considerar uma tradição ecfrástica na relação palavra e imagem para os persas, ou seja, aquela que visa “transpor uma imagem pela escrita, atualizar um sentido pictural”(KRANZ apud HOEK, 2006, p. 172), associado aos textos literários do período.

No que diz respeito a esse princípio, portanto, numa abordagem taxonômica, podemos dizer que as imagens persas têm uma relação não ecfrástica com os textos porque eles não se constituem uma descrição delas. Esses textos e imagens também não

podem ser considerados como tradução entre meios de expressão distintos pelo mesmo motivo. Acreditamos que esses textos e imagens estejam, talvez, mais bem localizados, quanto à relação que estabelecem entre si, a uma transposição autônoma – aquela em que, segundo Hoek (2006, p. 178), o segundo discurso (no caso as imagens de Bihzad) não pode ser julgado, levando-se em consideração apenas sua fidelidade ao primeiro (no caso o texto de Attar), já que ambos mantêm uma autonomia, apesar de inseridos lado a lado dentro de um livro e serem pensados, num primeiro momento, de forma incipiente, apenas como texto e ilustração.

Sendo assim, é na imersão do próprio contexto da pesquisa, que consideraremos tanto a imagem quanto a palavra persa como matérias de criação, inclusive na forma como desenvolvemos sua análise nos capítulos que se seguem. Desse modo, convidamos o leitor a adentrar pelos cenários poéticos de Attar e Bihzad, tal como se fosse possível, diante de seus textos e suas imagens, viver a experiência de um majli .

Outro princípio que utilizaremos como guia do processo de análise da relação do texto de Attar com as imagens de Bihzad vincula-se à percepção da existência de uma afinidade temática que aproxima as histórias que compõem os capítulos de A

Linguagem dos Pássaros, de Attar, sobretudo aqueles relacionados às imagens citadas. Identificamos no capítulo XX a temática do amor; no capítulo XXIV, a temática da morte; no capítulo XXXIV, a temática da unidade e, no capítulo XXXVIII, a temática do paraíso. Acreditamos poder supor que esses temas atuam, por serem intrínsecos à mística sufi, como ponto de contato entre as iluminuras de Bihzad e o texto de Attar, o que demonstra a importância de sua abordagem na introdução de cada capítulo, especificamente.

Além disso, evidenciaremos também, na relação entre o texto de Attar e as imagens de Kamal al-Din Bihzad, alguns símbolos que se destacam em suas composições pictóricas, realizando ora aproximações com o texto poético de Attar, quando tais aproximações existirem, ora mostrando possíveis distanciamentos.

As demais histórias que compõem os quatro capítulos mencionados, bem como outras, nas quais os temas do amor, morte, unidade e paraíso sejam recorrentes na obra de Attar, serão apresentadas brevemente, não apenas para efeito de contextualização das histórias entre si, mas por acreditar que, desse modo, o leitor será capaz de ampliar seu repertório simbólico e enriquecer sua percepção dos textos e das imagens bihzadianas estudadas.

os critérios anteriormente mencionados, obedecerá, portanto, nesta segunda parte da tese, à seguinte ordem: Capítulo 1: O enigma do amor entre o rei e o mendigo; Capítulo 2: O enigma da morte na história do filho que enterra seu pai; Capítulo 3: O enigma da unidade na história do homem que possuía uma longa barba; Capítulo 4: O enigma do paraíso no encontro do Shaik Manah com o aldeão.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (páginas 109-112)