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DROGAS E POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL

O fenômeno das drogas e suas interfaces na sociedade brasileira atual tem se apresentado de forma cada vez mais complexa. Por conseguinte, os formuladores de políticas públicas na área, ao elaborar leis ou implementar ações, projetos e

programas, quer seja no campo da prevenção, do tratamento e recuperação, da redução de danos, da repressão, da legislação, da reinserção social, entre outros, devem levar em consideração essa complexidade de variáveis sob pena de estarem incorrendo em graves equívocos como bem demonstram as experiências levadas a efeito a nível internacional, tendo como exemplo o fracasso da “Guerra às Drogas” empreendida pelo governo dos Estados Unidos.

Assim sendo, de acordo com Morais (2005), é de fundamental importância que, ao se formular políticas públicas no campo das drogas, se atente para a utilização de meio adequado para se “interferir em algum aspecto desse fenômeno.”

Nenhuma lei, por mais complexa e severa, nenhum programa preventivo, por mais racional e sedutor, são suficientes para resolver os diversos problemas relacionados às drogas. Deve-se, primeiro, definir o alvo da ação: reduzir o consumo de drogas em geral, o consumo em adolescentes, a violência do tráfico, o uso compulsivo, atenuar o abuso ou elevar o preço da droga? Cada uma dessas metas demanda instrumentos específicos. A interferência em um desses fenômenos pode repercutir no curto, médio e longo prazo em outro ou outros. Por vezes, essa repercussão pode ser perversa (MORAIS, 2005, p. 258).

No entendimento de que é necessário projetar os efeitos antes de se atuar, o autor cita a experiência norte-americana na guerra deflagrada com vistas ao desmantelamento dos cartéis colombianos. “Era uma ação necessária, que deveria resultar em redução da oferta de cocaína. No entanto, resultou também em uma reestruturação do mercado da cocaína favorável à redução de seu preço” (MORAIS, 2005, p. 258).

Worm (2016) aponta que o processo de formulação, implementação e execução de políticas públicas dirigidas à problemática das drogas, especialmente o crack, constitui-se em um dos maiores desafios da contemporaneidade colocados aos governos e à sociedade em função da heterogeneidade da população a ser atendida e dos diversos setores da administração que necessitam ser acionados durante as variadas etapas de execução da política.

[...] porque demandam ações de vários setores, da área da saúde, segurança pública, educação, assistência social, desenvolvimento econômico e social, urbanização, cultura, desporto. Tais ações têm como público-alvo sujeitos que pertencem a todas as classes sociais, sem distinção de idade, gênero, raça, nível de escolaridade ou qualquer outro elemento. [...] Demandam estrutura e articulação entre as diferentes esferas da Federação em seus diferentes níveis governamentais e sociedade, cujos sujeitos afetados não pertencem a um único grupo ou classe social, mas a um conjunto heterogêneo de pessoas vivendo em diferentes realidades (WORM, 2016, p. 95).

No Brasil, a orientação geral referente ao enfrentamento da questão das drogas, encontra-se na Política Nacional Antidrogas (PNAD), instituída através do Decreto nº 4.345, de 26 de agosto de 2002, que em seu Artigo 1º estabelece os “objetivos e diretrizes para o desenvolvimento de estratégias de prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social, redução de danos sociais e à saúde, repressão ao tráfico e estudos, pesquisas e avaliações decorrentes do uso indevido de drogas.”

Cabe lembrar que em 2004, essa nomenclatura foi alterada para Política Nacional sobre Drogas (PNAD). No Anexo do Decreto, estão elencados os Pressupostos Básicos da PNAD, sendo que no subitem 2.1, encontra-se claramente expressa a essência desse instrumento normativo que é a busca incessante de uma sociedade onde não ocorra o uso de drogas ilícitas ou o abuso de drogas lícitas. O subitem 2.2 busca estabelecer uma diferenciação no tratamento a ser dirigido aos traficantes e a abordagem às pessoas reconhecidas como usuárias de drogas ilegais, aos indivíduos flagrados em abuso de drogas socialmente aceitas, bem como aos dependentes.

Por sua vez, o subitem 2.3 preconiza a não discriminação dos indivíduos pelo fato de serem usuários ou dependentes de substâncias psicoativas, enquanto que o Item 2.5 reconhece o direito a um tratamento adequado a toda pessoa com problemas derivados do uso indevido de drogas.

Enfim, tratam-se de 16 pressupostos, sendo que alguns dos mesmos ainda serão abordados no decorrer desse estudo, haja vista que se referem às mais diversas áreas de enfrentamento às drogas: prevenção, tratamento, reinserção social, redução de danos, repressão, entre outras. O Sistema Nacional de Políticas públicas sobre Drogas (SISNAD) foi instituído em 2006, conforme já citado, através da Lei 11.343. No Capítulo I – Dos Princípios e dos Objetivos do SISNAD, pode-se sobrelevar à ênfase dada à participação19 dos atores sociais, ou seja, à responsabilidade compartilhada20 nas

ações e políticas de enfrentamento às drogas. Reconhece-se também a intersetorialidade21 que envolve as etapas do processo e a necessidade de que as

políticas sobre drogas estejam integradas tanto nacional quanto internacionalmente.22

19 Inciso IV – a promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para o estabelecimento

dos fundamentos e estratégias do Sisnad;

20 Inciso V – a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e sociedade, reconhecendo a

importância da participação social nas atividades do Sisnad.

21 Inciso VI – o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com o uso indevido de

drogas, com a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito;

22 Inciso VII – a integração de estratégias nacionais e internacionais de prevenção do uso indevido, atenção

e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito;

Ainda no que se refere aos princípios do SISNAD, em seus incisos IX e X, (transcritos a seguir) percebe-se que não se adotou “um modelo em exclusão a outros, mas criou um sistema no qual coexistem alguns modelos, com uma política híbrida, em que se conjugam esforços de prevenção, redução de danos e combate à oferta das drogas” (WORM, 2016, p. 22).

IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e a natureza complementar das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas; X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social (BRASIL, 2006, s/p).

Em sua tese intitulada Drogas e Políticas Públicas, Morais (2005) objetivou levantar informações acerca dos principais obstáculos encontrados no Brasil no que diz respeito às políticas sobre drogas. Na busca desses dados, destaca que realizou entrevistas com representantes no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) de quatro Ministérios: Justiça, Relações Exteriores, Saúde e Educação. Importante evidenciar que o CONAD é o órgão responsável pela formulação da Política Nacional sobre Drogas (PNAD). O autor entrevistou ainda dois representantes da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD).

Relata o autor do estudo que, na percepção dos entrevistados, dentre os principais entraves que interferem na formulação, implementação e êxito nas políticas públicas encontram-se a ausência de informações sobre a periculosidade representada pelas drogas à sociedade, a incompatibilidade ou alheamento da sociedade brasileira ao projeto antidrogas, a falta de debates profundos que possam quebrar pré-noções sobre o assunto e a escassez de recursos financeiros.

Um dos aspectos mais negativos das políticas públicas sobre drogas diz respeito à falta de intersetorialidade no atendimento às pessoas que se encontram em processo de Uso Prejudicial de Drogas (UPD); essa é uma das constatações a que chegam Teixeira et al. (2016), em seu trabalho23:

As políticas públicas têm se mostrado pouco integradas e com barreiras de acesso, acentuando as inequidades para as pessoas que fazem UPD e que

23 Artigo que se propõe a “analisar à luz dos paradigmas existentes os modelos e as abordagens que

permearam o desenvolvimento das Políticas Públicas sobre Drogas no Brasil no âmbito do poder Executivo Federal no século XXI.” Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/csc/v22n5/1413-8123-csc-22-05-1455.pdf

se encontram em extrema vulnerabilidade social. A ampliação e a reorientação de políticas públicas que priorizem acesso e tratamento no âmbito de uma rede de cuidado humanizada e intersetorial, com práticas orientadas por valores e princípios de participação, de intersetorialidade e de equidade, fundamentos do Sistema de Saúde Brasileiro (SUS) e do movimento internacional da promoção da saúde (PS) mostram-se promissoras e vêm conquistando espaços no campo das drogas no Brasil (TEIXEIRA et al., 2016, p. 1457).

Nesse sentido, Worm (2016) enfatiza que tanto a pobreza quanto a exclusão social constituem-se em fatores que devem ser considerados quando da elaboração de políticas públicas sobre drogas, sendo que as mesmas devem ser integradas e abrangentes.

No subitem 2.6 do documento Pressupostos Básicos da Política Nacional sobre Drogas (PNAD), pode-se verificar que, dentre as políticas públicas sobre drogas no Brasil, as implementadas na área da prevenção recebem um especial destaque, senão vejamos: “Priorizar a prevenção do uso indevido de drogas, por ser a intervenção mais eficaz e de menor custo para a sociedade” (BRASIL, 2003, p.10).

Sanchez et al. (2005, p. 600), nesse mesmo entendimento, apontam que os “programas efetivos de tratamento” apresentam um custo muito maior que os de prevenção, ou seja, de “intervenção precoce.” Assim sendo destacam ainda os autores que, além das motivações que levam determinados jovens a fazer uso de drogas, os programas de prevenção devem buscar aprimoramento no sentido de reforçar nos possíveis usuários as motivações internas que, conforme estudos, demonstram o porquê de grande parcela de jovens não se iniciarem no uso de substâncias psicotrópicas, independentemente de estarem expostos aos mesmos fatores de riscos.

Tive a oportunidade de participar, em Brasília, do 1º Fórum Nacional Antidrogas24 (da mesma forma que participei também da segunda edição25 do mesmo),

onde foram profundamente debatidos os mais variados aspectos referentes ao enfrentamento às drogas, através de Grupos de Trabalho compostos por representantes das mais diversas áreas e oriundos de todas as regiões do Brasil.

O Relatório do 1º Fórum Nacional Antidrogas, ao apresentar as conclusões do Grupo de Prevenção, ressalta que, levando-se em consideração a existência de padrões de consumo diferenciados: recreativo, abusivo e dependência, as ações de prevenção não devem ser pautadas na busca da supressão do uso do álcool ou outras drogas, haja vista ser esse um objetivo questionável e utópico. Reconhece-se que

24 Realizado de 27 a 29 de novembro de 1998 no Colégio Militar em Brasília/DF. 25 Realizado em dezembro de 2001.

existem padrões de consumo que não requerem tipo algum de intervenção. Acrescenta-se ainda que a legalidade ou ilegalidade de determinadas substâncias não apresenta qualquer relação com essa questão, pois se verifica a existência tanto o uso recreativo quanto o abuso ou a dependência da mesma forma entre as drogas lícitas e ilícitas. Dentre diversas outras observações, aponta ainda o citado documento:

Não existe uma política ideal, nem única de prevenção. Cada modelo deverá considerar as peculiaridades e a realidade socioeconômica e cultural em que a população está inserida. Deverá ser desenvolvido por um período de tempo previamente estabelecido e ser avaliado continuamente. Deverá formar pessoas e intervir pedagogicamente e criativamente sobre os problemas decorrentes do uso de drogas. Por fim, deverá mobilizar vários e diferentes atores sociais, pois prevenir o abuso de drogas é uma tarefa não apenas de especialista, mas também, da sociedade como um todo (BRASIL, 1998, p. 32).

Em seu já citado trabalho, Morais (2005, p. 238) alerta que, mesmo se cogitando que a prevenção seja o meio mais importante de “controle das drogas,” há que se refletir para que a mesma não se constitua num modelo de doutrinação, isto é, esteja assim impregnada de “ideais comportamentais e morais indiferentes à heterogeneidade social e à liberdade pessoal para a escolha de estilos de vida.” Ressalva ainda o autor que os programas e as ações de prevenção não devem ser iniciativas isoladas e vagas, ou seja, “sem definição de meios para alcançá-las e parâmetros sobre sua eficiência.”

Os agentes executores de programas de prevenção às drogas, especialmente direcionados a públicos compostos por adolescentes e jovens, devem estar preparados para essas atividades de forma a buscar repassar informações qualificadas e isentas, evitando assim o alarmismo, o terrorismo psicológico e a pedagogia do medo. “O alarde preventivo-doutrinário instiga o fascismo, a informação sem a efetiva interação eleva o risco contido no uso.” Informações sobre drogas são importantes, entretanto, há que enfatizar que “os jovens precisam receber sólida formação que privilegie a sensibilidade, a intelectualidade, a honestidade e o espírito coletivo” (MORAIS, 2005, p. 241).

São diversos os desafios colocados à sociedade e ao poder público com relação às políticas públicas de prevenção às drogas.

Sem dúvida, as ações de prevenção ao abuso de drogas só alcançarão real efetividade se houver um investimento significativo e de qualidade na educação básica, na melhoria das condições de vida, na oferta de emprego, sobretudo para jovens de comunidades mais pobres, no reforço cultural de valores que desfavoreçam a drogadição abusiva e na valorização do diálogo e apoio familiar (MINAYO & DESLANDES, 1998, p. 40 - 41).

Os contextos sociais onde a prevenção às drogas pode e deve ser desenvolvida são bastante diversos, no entanto, a escola constitui-se em ambiente privilegiado para a execução de atividades e programas preventivos, haja vista sua população ser constituída por crianças, adolescentes e jovens.

Sabe-se que a maior susceptibilidade às drogas ocorre no período em que os indivíduos estão em pleno ciclo escolar. Isso acontece devido a variadas motivações e fatores. Portanto, mesmo não sendo um problema DA escola e sim NA escola, é obrigação do poder público, em especial de forma municipalizada, implementar programas de prevenção às drogas através da rede de ensino.

Em sua Tese de Doutorado, “Prevenção ao Abuso de Drogas na Prática Pedagógica dos Professores do Ensino Fundamenta,” Fonseca (2006) destaca o quanto o ambiente escolar se constitui em um espaço com maior vulnerabilidade à iniciação às drogas. Quanto aos níveis de intervenção, algumas correntes de pensamento defendem que apenas dois (primário e secundário) cabem à escola. Todavia, a autora entende que o ambiente escolar tem condições de agir no 3º nível de intervenção, não no que diz respeito ao tratamento, mas no que se refere ao encaminhamento adequado da situação:

A prevenção primária tem o objetivo de intervir antes que o consumo de drogas ocorra, promovendo um estilo de vida saudável nos alunos envolvendo desde crianças bem novas até o jovem adulto. Seu fundamento é educar para a saúde. Tem como foco a formação do caráter, a tomada de decisão, a adesão aos princípios da vida, o conhecimento da natureza e do efeito de certas substâncias psicoativas. A prevenção secundária deve ser vista como um prolongamento da primária, uma vez que essa pode não ter alcançado os objetivos. Destina-se aos estudantes que apresentam uso leve ou moderado de drogas, que não são dependentes, mas que correm este risco. [...] Já a prevenção terciária confunde-se com tratamento, dirige- se ao usuário dependente e tem como objetivo “evitar a recaída”, apoiá-lo na recuperação e reintegrá-lo na escola, no grupo de amigos, na família. A função da escola é prestar auxílio ao aluno, encorajando a formulação do pedido de ajuda, incentivando a procura de terapia e indicando alternativas de tratamento (FONSECA, 2006, p. 63).

Faz-se necessário evidenciar que os programas de prevenção às drogas no ambiente escolar devem ser regulares, contínuos e sistêmicos e, dessa forma, demandam que os professores estejam capacitados para a sua execução. Por conseguinte, compete ao poder público proporcionar a capacitação requerida aos profissionais da educação para que a sua prática pedagógica possa contribuir efetivamente com a sociedade e a família na melhor formação dos estudantes. Nesse mesmo entendimento, Fonseca (2006) destaca que:

[...] as práticas educativas precisam ser sistemáticas, regulares e fundamentadas em ações planejadas e contínuas. O professor, como o profissional de formação pedagógica, psicológica, social e cultural deve ser o mais preparado para desenvolver a educação preventiva, consolidada na aprendizagem contínua da cultura da prevenção. Como consequência, o processo preventivo na escola inclui, necessariamente, a formação do professor (FONSECA, 2006, p. 05).

A relação escola-família é também de fundamental importância para o efetivo trabalho de prevenção às drogas. Em seu artigo Sanchez et al. (2005), demonstram que entrevistaram 62 jovens, com idade entre 16 e 24 anos, sendo que desses, havia 32 que nunca experimentaram drogas ilícitas e 30 que delas já haviam feito uso pesado. Constatou-se que as “principais razões que impediram o uso foram: informação e família.” Os autores ressaltam o papel da estrutura familiar “em que os pais mostram preocupação com seus filhos,” bem como buscam fazer um alerta a respeito do “processo de desmoralização da família vem sofrendo frente à sociedade” (SANCHEZ, et al., 2005, p. 603).

Praticamente inquestionável a constatação nas mais diversas culturas que a prevenção mais importante e eficaz às drogas é a orientação da família. No entanto, muitos são os trabalhos e estudos que abordam a questão do enfraquecimento do papel da família enquanto primeira instância educativa. Percebe-se que, cada vez mais, os pais têm se omitido em seu papel de formar valores adequados para que os filhos se transformem em adultos saudáveis, equilibrados e com condições de fazer escolhas mais acertadas na vida. A ausência dos pais se verifica cada vez mais nas reuniões de pais, entregas de boletins e outros momentos em que os mesmos deveriam se fazer mais presentes na vida dos filhos acompanhando seu desenvolvimento.

Em seu estudo, “Motivos que levam jovens a recusar drogas: subsídios a propostas de prevenção à drogatização na escola, com ênfase na saúde cerebral,” Flores (2004) apresenta as seguintes reflexões acerca da família:

A família é a base na vida de um jovem, deve estar presente, oferecer apoio em todas as situações, boas ou ruins, dialogar sem condenar e, sempre que for possível, elogiar as ações positivas, fortalecendo a auto-estima do adolescente. Segundo Ramos (2003), a função paterna na estrutura familiar parece ser um forte aliado na prevenção à dependência de drogas. Assim sendo, seria interessante que o pai conseguisse demonstrar afetividade e acolhimento pela criança, mas também que estabelecesse limites claros e firmes quanto a atitudes corretas e incorretas durante o desenvolvimento infantil e juvenil de seus filhos, orientando-os para uma vida equilibrada (FLORES, 2004, p. 61- 62).

paterna, em entrevista à Revista Veja26, o psicanalista francês Charles Melman afirma

categoricamente que a família acabou:

Assistimos hoje a um acontecimento que talvez não tenha precedente na história, que é a dissolução do grupo familiar. Pela primeira vez a instituição familiar está desaparecendo, e as consequências são imprevisíveis [...] Nesse processo, podemos constatar que o papel de autoridade do pai foi definitivamente demolido. [...] Hoje, com o declínio da figura paterna, nossos jovens podem estar menos propensos a batalhar pelo sucesso, a estabelecer um ideal de vida. [...] nossos jovens foram criados em condições que promovem a busca rápida do prazer máximo e sem obrigações (MELMAN, 2007, np).

Em face dessas constatações, pode-se concluir que cabe também ao poder público fomentar políticas públicas, principalmente, através das escolas, via intervenções de caráter pedagógico, que busquem atrair e envolver as famílias tanto no que se refere ao seu papel enquanto principal instância educativa quanto na importância de sua parceria nos programas de prevenção ao uso ou abuso de drogas lícitas e ilícitas, pois se percebe, conforme já ressaltado, no cotidiano da prática escolar, que as famílias estão se envolvendo, cada vez menos, como parceiros nas atividades. Essa ausência e omissão dos pais demonstra o quanto os mesmos, cada vez mais, estão delegando a outras instâncias a educação dos filhos. Verifica-se uma verdadeira “terceirização” na educação dos filhos por parte de muitos pais.

Outro importante “campo de batalha” no qual devem ser implementadas políticas públicas de prevenção aos efeitos nocivos das drogas encontra-se na área da saúde pública. Em seu estudo, “Prevenção ao uso de drogas: análise crítica da produção

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