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C OMPORTAMENTO ESPONTÂNEO , ALIMENTAR E REAÇÃO A ESTÍMULOS MECÂNICOS DOS BAGRES C OPIODONTINAE P INNA , 1992 (S ILURIFORMES , T RICHOMYCTERIDAE ) DA C HAPADA

4.5. R EAÇÃO A ESTÍMULO MECÂNICO

Os testes de reação a estímulos mecânicos foram realizados em média um ano após a chegada dos espécimes ao laboratório. Os testes foram realizados individualmente, em aquários neutros (i.e. aquários novos para todos os indivíduos) de 25 l, sem tocas disponíveis, aeração ou filtro, sob iluminação de 140 lux. Foram testados 10 indivíduos de cada espécie: G. spinosum,

Copionodon sp. n. e C. orthiocarinatus.

Testes efetuados a priori mostraram que nenhuma das três espécies aqui estudadas reage a estímulos mecânicos leves na superfície da água (leves batidas na superfície da água com um lápis). Sendo assim, procurou-se aplicar um estímulo mecânico que afetasse os animais, como um estímulo mecânico brusco, a fim de simular uma enchente, comum no hábitat natural dos copionodontíneos, possuindo significado biológico para estes peixes. Após um período de aclimatação de uma hora, um mixer de capuccino (mini mixer de capuccino, marca Maker Café) era utilizado para aplicar o estímulo na superfície d’água. Sua haste de metal de extremidade circular era introduzida na superfície da água, a uma distância aproximada de 20 cm acima do indivíduo a ser testado, que se encontrava no fundo do aquário. Esta haste era acoplada a um motor, que a fazia girar a aproximadamente nove mil RPM (150 Hz), de forma a gerar um vortex de água desde a superfície até o local onde o indivíduo se encontrava (Figura 1). Este aparelho permaneceu ligado por dois minutos, na mesma posição.

87 Figura 1. Esquema do aparato utilizado no teste de reação a estímulo mecânico. A. Aparelho vibratório, com haste inserida na superfície d’água; B. Vortex formado pelo estímulo mecânico.

Todas as reações exibidas durante este intervalo de tempo (dois minutos) e até 40 minutos após a aplicação do estímulo foram registradas, o repertório comportamental exibido pelas três espécies de copionodontíneos foi organizado em uma tabela. O tempo de reação ao estímulo mecânico apresentado por cada indivíduo também está apresentado em forma de tabela, para melhor visualização dos dados. Os tempos de reação foram analisados pelos testes não- paramétricos de Wilcoxon e Kruskal-Wallis (ZAR, 1996).

5. RESULTADOS

5.1. OBSERVAÇÕES NATURALÍSTICAS

A partir das observações realizadas em ambiente natural foi montada uma tabela descritiva e comparativa com as principais características ambientais e comportamentais das espécies subterrâneas, G. spinosum e Copionodon sp. n., e da espécie epígea, C. orthiocarinatus (Tabela 1). Em algumas ocasiões era difícil a distinção das espécies troglóbias (G. spinosum e

Copionodon sp. n.) em ambiente natural, e, nestes casos, as observações destas foram agrupadas

88 Tabela 1. Descrição do ambiente e comportamento exibido no hábitat natural para os bagres copionodontíneos troglóbios e epígeos da Chapada Diamantina, Bahia central. Prof., profundidade, M.O., matéria orgânica.

Troglóbios C. orthiocarinatus

Hábitat Poções de 0,2 a 0,5 m de prof., lênticos ou com correnteza variando de fraca a forte.

Rio Coisa Boa: trecho principal do rio, com correnteza variando de fraca a forte; ou poções de 0,3 a 0,7 m de prof., lênticos ou de correnteza fraca a moderada.

Rio Xavier: trecho principal do rio com correnteza variando de fraca a forte; ou poções de 0,2 a 0,4 m de prof., lênticos ou de correnteza fraca a

moderada. Substrato Rocha-mãe, areia, cascalho, seixos,

matacão, pouca M.O.

Rio Coisa Boa: regato com rocha-mãe,

quantidades variáveis de M.O. e areia; poções de rocha-mãe, quantidades variáveis de M.O., seixos, cascalho e matacão.

Rio Xavier: regato com rocha-mãe, quantidades variáveis de M.O, seixos, cascalho e matacão; poções iguais ao descrito acima.

Atividade Estacionários ou natação exploratória, às vezes contra-correnteza.

Preferência por natação exploratória, contra- correnteza ou ainda estacionários.

Distribuição espacial Fundo, desentocados, ou escondidos sob seixos, raramente na coluna d’água.

Expostos no fundo ou escondidos sob o “teto” da rocha-mãe, raramente na coluna d’água.

Preferência por áreas rasas. Reação à luz Indiferentes. Não foi observado. Reação a estímulo

mecânico

Reação fóbica acentuada, fuga. Reação fóbica acentuada, fuga. Comportamento

agonístico

Indivíduos maiores perseguiram e afugentaram menores,

engalfinhamentos.

Alguns indivíduos perseguiram e afugentaram outros, não necessariamente menores que o primeiro.

Hábito gregário Solitários ou em grupos de até 46 indivíduos.

Grupos de três a 70 indivíduos, com tendência a “encardumear”, raramente solitários.

89 As diferentes localidades de ocorrência das espécies troglóbias apresentam basicamente as mesmas características físicas (fundo de rocha-mãe, com cascalho, matacões e areia, água em geral escura e avermelhada, devido ao alto teor de matéria orgânica). Observou-se que tanto os indivíduos solitários quanto os grupos, ocorrentes em cavernas distintas, apresentaram o mesmo padrão de comportamento: natação calma e exploratória principalmente no fundo, em algumas ocasiões desentocados (expostos) ou escondidos entre seixos. Estímulos mecânicos bruscos (como por exemplo, a entrada do observador na água) geralmente eram respondidos com natação agitada à procura de abrigo ou natação contra a correnteza, em sentido mais à montante.

Quanto à espécie epígea C. othiocarinatus, tanto os indivíduos solitários quanto os que apresentaram hábitos gregários exibiram basicamente o mesmo padrão comportamental: natação calma e exploratória principalmente no fundo, expostos ou sob um “teto” formado pela rocha- mãe. A reação dos indivíduos a estímulos mecânicos bruscos consistia em natação agitada sempre para longe do estímulo. É interessante ressaltar que apesar das diferenças de substrato encontradas entre os dois rios (Coisa Boa e Xavier), a espécie apresentou o mesmo comportamento de natação de fundo em ambas as localidades. Ainda, não foram observadas interações com girinos ou piabas constantemente presentes nos trechos subterrâneos de rios, mesmo que estivessem próximas aos grupos de bagres.

As transcrições das anotações de campo encontram-se nos Anexos II.

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