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Eastern Railroad Presidents Conference v Noerr Motor Freight

3. EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL O ABUSO DE DIREITO NA ÓTICA

3.2 Precedentes norte-americanos acerca de Sham Litigation: A Noerr Pennington

3.2.1 Eastern Railroad Presidents Conference v Noerr Motor Freight

Julgado em 1961, o caso Noerr, originou-se em uma ação ajuizada por companhias de caminhoneiros em face de sociedades empresárias ferroviárias, a associação de presidentes dessas sociedades, a Eastern Railroad Presidents Conference e uma sociedade empresária de relações públicas, conhecida como Carl Byoir & Associates. Tudo isso ocorreu, pois, segundo o que foi alegado pela parte autora, as companhias ferroviárias usaram do serviço do escritório Carl Byor para realizar uma forte campanha publicitária com o caráter de estimular manipular órgãos do Legislativo e do Executivo, buscando coibir a aprovação de um projeto de lei que beneficiaria fortemente os caminhoneiros92. Desse modo, por possuírem a convicção de que os réus conspiraram para restringir a concorrência e monopolizar o serviço de fretes para longa distância, os autores buscaram a condenação da parte ré nos parágrafos 1º e 2º do Sherman Act.93

Em tese defensiva, as companhias ferroviárias confirmaram que o objetivo das campanhas publicitárias era mesmo de influenciar a chancela de leis estaduais relativas a limites de peso dos fretes e de alíquotas tributárias, incentivando, dessa maneira, a criação de multas

88 BARBOSA, Denis; SALGADO E SILVA, Lucia Helena; ZUCULOTO, Graziela; Litigância Predatória no

Brasil, disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/6796/1/Radar_n22_Litig%C3%A2ncia.pdf

89 Para mais informações acerca do aspect econômico sobre sham litigation, verja em: KLEIN, Christopher C. The

Economics of Sham Litigation: Theory, Cases, and Policy. Federal Trade Commission, Bureau of Economics,

1989.p.3

90 Eastern Railroad Presidents Conference v. Noerr Motor Freight, Inc., 365 U.S. 127 (1961).

91 United Mine Workers of America v. Pennington, 381 U.S. 657 (1965). A redação desse tópico baseia-se,

diretamente, no que foi transmitido no julgado

92 SCHMIDT, Jeffrey et al. The Noerr-Pennington Doctrine, p. 7.

93 Trecho da decisão proferida pela Suprema Corte Americana no caso Eastern Railroad Presidents

Conference v. Noerr Motor Freight, Inc.: “The campaign so conducted was described in the complaint as "vicious, corrupt, and fraudulent," first, in that the sole motivation behind it was the desire on the part of the railroads to injure the truckers and eventually to destroy them as competitors in the long-distance freight business (…)”. Tradução livre: “A campanha conduzida foi descrita na reclamação como “feroz, corrupta e fraudulenta”, primeiro, no fato de que a a motivação apenas era o desejo das companhias ferroviárias de prejudicar as companhias de caminhoneiros e eventualmente destruir elas como concorrentes no mercado de fretes de cargas pesadas a longa- distância (...)”.

para cargas que excedessem seu peso. As sociedades empresárias, por outro lado, negaram, veementemente, que seus atos publicitários possuíam o escopo de excluir os concorrentes do setor rodoviário do mercado. O principal argumento dos réus eram de que sua campanha era para informar ao público em geral os nefastos danos causados as pistas e autoestradas por parte dos veículos pesados e, pincipalmente, originados de caminhões que não respeitavam o limite de peso que seu automóvel permite. Não satisfeitos, as companhias ferroviárias apresentaram reconvenção, afirmando que as condutas anticompetitivas eram realizadas pelos caminhões.

Passado as instâncias inferiores, o caso chegou até a Suprema Corte oriundo de um recurso interposta pelas ferrovias em desfavor a decisão dos tribunais, estes que proferiram sentença com base no Sherman Act.

Acerca do caso, a Suprema Corte dos Estados Unidos da América acolheu o recurso impetrado pelas companhias ferroviárias. De um lado ponderou os objetivos da lei concorrencial, do outro os princípios constitucionais protegidos pelo direito de petição94. Desse modo, alegou que o Sherman Act não prevê nada acerca de esforços para influenciar a aprovação de leis e; considerando que uma das estratégias para barrar o projeto de lei, os relatos contra os caminhoneiros se tornariam válidos nesse cenário.

Embora a forte fundamentação de que o objetivo das sociedades empresárias ferroviárias era meramente de enfraquecer de modo desleal os concorrentes, a Corte norte americana minimizou o fato. O argumento foi de que mesmo que a intenção das companhias fosse essa, desde que gozasse de proteção legal, a legislação antitruste nada poderia fazer para coibir atos políticos e que busquem informar a população interessada.95

94 Note-se, aqui, que o direito de petição é entendido em sentido amplo, e não apenas como o direito de

demandar judicialmente. Com efeito, o right to petition, em sentido amplo, corresponde ao “direito

constitucional – garantido pela Primeira Emenda – de as pessoas fazerem pedidos formais ao governo, seja por lobby ou por cartas escritas a autoridades públicas” (GARNER. A. Bryan A. Black’s Law Dictionary,, Editor in Chief, 7 ed., St. Paul, Minn., West Group, 1999, p. 1327, tradução livre). No original: constitutional right –

guaranteed by the First Amendment – of the people to make formal requests to the government, as by lobbying or writing letters to public officials.

95Texto original: “The right of the people to inform their representatives in government of their desires with

respect to the passage or enforcement of laws cannot properly be made to depend upon their intent in doing so.” Tradução livre : “O direito dos indivíduos de informar os representantes governamentais sobre seus desejos em relação à aprovação ou aplicação de leis não pode depender da intenção dos agentes ao fazer isso.”

Por último, os membros da Corte alegaram que condenar o direito de petição sob a égide do Sheman Act seria uma grande afronta e trairia grandes problemas constitucionais.