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Situada a sul do Tejo, tendo pertencido inicialmente à Província Ulterior29 e, mais tarde, sido uma capital de civitas da Lusitânia30, Ebora terá beneficiado de uma «romanização» precoce31.

Assim o parece comprovar os vários populi romanos32 que foram surgindo e a migração de naturais da Península Itálica para zona de Évora após a pacificação do ter- ritório33, como se pode deduzir a partir de algumas placas epigrafadas do século I a.C. descobertas na região34.

Relativamente à cidade de Ebora em si, persistem ainda algumas dúvidas quanto à sua origem.

Segundo Alarcão, o nome «Ebora» denuncia uma origem céltica35, o que signifi- caria uma ocupação pré-romana da qual ainda não se encontraram vestígios ar- queológicos. Todavia, existem outras teorias, apontadas por Simplício36.

Devido à ausência de achados arqueológicos que confirmem a existência de um povoado pré-romano na actual cidade de Évora, Val-Flores considera que existe mesmo a possibilidade de esta ser, na verdade, uma construção original romana, próxima de antigos povoamentos. Contudo, este investigador diz não haver ainda dados suficientes

29 E, possivelmente, funcionado como um “pólo importante da administração” da mesma, VAL- FLORES, 2012, p.74.

30 Esta seria limitada essencialmente: a sul, pela civitas de Pax Julia (Beja); e a leste/nordeste, pela de

Emerita Augusta (Mérida, capital da Província Lusitana). Já a oeste/noroeste, há dúvidas sobre qual seria

aí a capital da civitas. Jorge Alarcão refere a possibilidade de o ser Alter-do-Chão, sem, contudo, avançar com certezas. ALARCÃO, 1990, pp.363-364.

31 VAL-FLORES, 2012, p.74. 32 Cf. Imagem 13.

33 O que terá ajudado à formação de uma elite local que, mais tarde, contribuiu para a municipalização de Ebora. VAL-FLORES, 2012, p.80. Beirante (1988, p.13) dá mesmo conta que “Évora era a cidade da

Lusitânia onde habitava maior número de famílias de origem romana, como Júlia, Calpúrnia, Canídia e Catínia”.

34 VAL-FLORES, 2012, pp.75-80.

35 ALARCÃO, 1988, p.159. É da mesma opinião Beirante (1988, p.11), apontando exemplos de outras localidades com nomes semelhantes que existiram na Península Ibérica (Ebora, Ebura, ou Eburobritti-

um), Gália (Eburodunum) e ilha Britânica (Eboracum). Évora encontra-se, de facto, na zona de influência

celtibérica pré-romana, FABIÃO, 1992, p.209. Cf. Imagem 14.

36 SIMPLÍCIO, 2006, p.2. Terão existido na Península dois povos com o nome de “Eburones”, aos quais diferentes autores atribuem a fundação de Évora. Um deles seria um dos “antigos povos de Hespanha”, o outro seria uma das tribos germânicas que se fixou na Península cerca de 700 a.C., teoria defendida por Gromicho (1962-1963, pp.29-30).

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para confirmar esta hipótese, tal como não os há para comprovar qualquer uma das ou- tras teorias apontadas, deixando a questão em aberto37.

Independentemente da sua origem, no século I d.C., Plínio, na sua obra, refere-se à cidade de Ebora (à qual chama Ebora Cerealis38) enquanto oppidum, como vimos anteriormente. Todavia, devido ao seu epíteto, o estatuto jurídico da cidade é ainda con- troverso. Existem duas hipóteses mais plausíveis: ou terá sido distinguida de oppidum a municipium por Octaviano, entre 31 e 27 a.C.; ou, então, teria sido considerada oppidum até à atribuição flaviana do estuto de municipium39.

Deste modo se depreende que Ebora Liberalitas Julia seria uma importante ci- dade romana. Segundo Sarantopoulos, teria mesmo sido “uma das mais importantes cidades do actual território português”40.

A sua estrutura urbana, à época romana, é ainda relativamente desconhecida, sa- bendo-se pouco mais do que o apontado por Simplício: que “detinha uma posição cen- tral relativamente ao actual aglomerado, ocupando a sua parte mais elevada”41.

Val-Flores sublinha que a planta da urbe romana de Évora não seria totalmente regular, o que tanto pode derivar da especificidade geográfica do sítio, como significar uma anterior ocupação42. Todavia, não estaria muito longe do urbanismo hipodâmico preconizado pelos romanos43.

Para a definição do cardo e do decumano maximus, apenas se haviam lançado hipóteses: Orlando Ribeiro apontava a actual Rua 5 de Outubro, que sai em frente à Sé em direcção à Praça do Giraldo, como a possível decumanus maximus da cidade ro- mana44. Todavia, novas descobertas arqueológicas indicam que esse não seria o caso: em escavações efectuadas em 2002, no pequeno largo junto ao Fórum Eugénio de Al- meida, na Rua Vasco da Gama, encontrou-se o troço de via que deverá ter constituído o decumanus maximus45, o que não exclui a possibilidade de a actual rua 5 de Outubro ser

37 VAL-FLORES, 2012, pp.135 e 142-144.

38 ESPANCA, 1980, p. 11. À luz de recentes descobertas arqueológicas, há também a hipótese de a “Ebo- ra” referida na obra de Plínio ser, na realidade, a actual Évoramonte. VAL-FLORES, 2012, p.143. 39 REIS, 2014, p.222. Ebora já foi mesmo erradamente considerada uma “colonia”. FARIA, 1999, p.33. 40 SARANTOPOULOS, 2005, p.23. 41 SIMPLÍCIO, 2006, p.3. 42 VAL-FLORES, 2012, pp.264-265. 43 Cf. Imagens 15 a 18. 44 Apud SIMPLÍCIO, 2006, p.4. 45 VAL-FLORES, 2012, pp.175-176. Cf. Imagens 19 e 20.

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um decumano. Já a cardus maximus corresponderia, aproximadamente, à antiga Rua da Mesquita, actual Rua D. Augusto Eduardo Nunes46.

Relativamente aos edifícios que a comporiam, a cidade de Ebora teria muito provavelmente todos aqueles que se espera de uma grande urbe romana: um Forum, aproximadamente no centro da cidade e onde se ergue ainda hoje o Templo; edifícios públicos47 e de lazer, como as termas (e aqueduto para as manter), teatro, anfiteatro48 e, talvez, um circo49. Sendo uma cidade importante em contexto romano e capital de civi- tas, poderá também ter tido outros templos50 e vários elementos arquitectónicos meno- res, como arcos honoríficos, colunas comemorativas, fontes monumentais ou estátuas51.

No que se refere a habitações privadas, haveria tanto domus (vivendas de famí- lias ricas), como insulae (prédios de cidadãos menos abastados).

Mais tarde, foi também construída uma muralha para procurar defender a cidade das invasões bárbaras.

O Forum, parcialmente escavado por iniciativa do Instituto Arqueológico Ale- mão, seria delimitado: a norte, no limite do Jardim Diana e, a sul, entre o Museu de Évora e a Sé, num total de 120 metros; a este, na linha da Pousada dos Lóios e da Bi- blioteca Pública e, a oeste, no Antigo Palácio da Inquisição, perfazendo 60 metros52.

Este é assim descrito por Val-Flores:

“Segundo Theodor Hauschild, em frente ao Templo estender-se-ia um ex- tenso foro, originalmente coberto por lajes de mármore, que conferia um notável efeito de riqueza estética à praça.

Em torno do edifício religioso, e como era frequente nestas construções, teríamos um pórtico em forma de U (…).

46 MASCARENHAS e BARATA, 1997, pp.61-70.

47 Uma novidade em território português: “Não menos decisiva é a alteração trazida pela construção de

edifícios públicos, até então inexistentes. Estes novos equipamentos colectivos exprimem bem os fenóme- nos da aculturação, dentro da sua notória variedade”, FABIÃO, 1992, p.252.

48Sobre teatros e anfiteatros em Portugal não se sabe muito ainda. “Por norma, as cidades capitais ti-

nham estes dois edifícios; mas, por enquanto, ainda os não encontrámos simultaneamente em nenhuma das cidades romanas de Portugal”, ALARCÃO, 1990, p.477. Estes exigiam grandes estruturas e seriam

construções praticamente certas nas cidades do Sul de Portugal.

49 Sobre circos, em Portugal, as informações são ainda menos. É provável que algumas cidades do Sul os tivessem, tornando-se a sua existência menos provável a Norte. ALARCÃO, 1990, p.478.

50 Algumas cidades teriam apenas um templo, localizado no Forum; outras, as mais populosas, teriam vários edifícios religiosos. ALARCÃO, 1990, p.475.

51 ALARCÃO, 1990, p.478; FABIÃO, 1992, p.254. 52 SARANTOPOULOS, 2005, p.24.

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[O acesso ao Templo] processar-se-ia por dois lanços de escadarias late- rais, sistema que (…) consolida o Templo ao culto do Imperador. (…)

As escavações processadas pelo arqueólogo alemão puseram a descoberto as fundações das escadarias, bem como um muro (com pilastras), que delimitava um espaço de transição entre o mesmo e os acessos, dotando o conjunto religioso de uma subtil nota de monumentalidade clássica. (…).

Teríamos, portanto, uma estrutura do tipo «imperial», que comportava dois grandes espaços, autonomizando-se a zona religiosa da civil por via de uma elevação face à última"53.

Sendo um município de Direito Latino, a cidade teria, certamente, uma Cúria ou Basílica54. Esta localizar-se-ia, possivelmente, na zona sul do Forum, uma vez que a “descoberta de um capitel jónico no subsolo do Museu de Évora poderá indiciar a exis- tência de um edifício de carácter administrativo” nessa área55. Outras hipóteses para a sua localização são os espaços ocupados pelos restantes edifícios contíguos ao antigo Forum, como sendo: o Convento dos Lóios, a Biblioteca Pública, o Antigo Palácio da Inquisição, ou a própria Sé Catedral da cidade56.

Apesar de ainda não se terem encontrado vestígios arqueológicos de um teatro romano em Évora, há testemunhos epigráficos indirectos sobre a existência de um57, além de que seria estranho, para uma capital de civitas, não usufruir de um edifício des- tes58. Neste sentido, as propostas relativas à sua possível localização sucedem-se. Val- Flores aponta várias hipóteses, entre elas a de que poderia ter sido construído a sul da Sé, uma vez que a lógica de ocupação urbana da zona é bastante sugestiva59.

53 VAL-FLORES, 2012, pp.179-181. Cf. Imagens 21 a 26. 54 VAL-FLORES, 2012, p.192.

55 SARANTOPOULOS, 2005, p.24. 56 VAL-FLORES, 2012, p.193.

57 ALARCÃO, 1990, p.477. Este testemunho trata-se de um objecto epigráfico destinado a ocupar a parte dianteira de uma bancada, sob o assento. Esta epígrafe poderia, por outro lado, adequar-se igualmente à estrutura de um anfiteatro, tese defendida por José d‟Encarnação, o primeiro a estudá-la. VAL-FLORES, 2012, pp.231-233. Cf. Imagens 27 a 29.

58 O mesmo se aplica ao anfiteatro, se bem que ainda não se encontrou qualquer vestígio, nem existem referências ao mesmo. A possibilidade da existência de um circo não é despiciente, mas é menos prová- vel. Por outro lado, relativamente aos edifícios relacionados com os espectáculos públicos que possam ter existido em Ebora, Sarantopoulos refere que “o estudo arqueológico do subsolo da Praça de Giraldo

poderá reservar algumas surpresas. Dada a sua forma sugestiva, será que poderia esconder outro edifí- cio relacionado com espectáculos públicos na Évora dos romanos?”, SARANTOPOULOS, 2005, p.32.

59 VAL-FLORES, 2012, pp.241-244. Opinião partilhada por Patrocínio (2007, p.133). Já Hauschild (2010, pp.34-35) afasta por completo esta possibilidade, considerando que a “localização de um suposto

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No que concerne ainda a edifícios públicos, conhece-se a existência de um com- plexo termal em Évora, situado no subsolo da actual Câmara Municipal. A sua presente situação arqueológica não permite uma avaliação exacta da dimensão da estrutura ter- mal. Segundo Val-Flores, os cerca de 250 m2 escavados até ao momento corresponderão a 5% do conjunto total, o que significaria que as termas teriam cerca de 5.000 m2.60

A existência de um complexo termal acusa ainda a existência mais do que certa de um aqueduto. André de Resende defendeu a existência de um aqueduto romano que abasteceria a cidade, do qual, no século XVI, ainda haveria vestígios, sobre os quais o ilustre eborense terá convencido D. João III a mandar construir o aqueduto renascentista da “Água de Prata”61. A sua posição foi, mais tarde, contestada devido à ausência de outras referências documentais ou vestígios arqueológicos que o confirmassem62. Toda- via, tanto a toponímia da rua que segue o percurso do actual aqueduto – a Rua do Cano – que já seria assim denominada em 1412, ou mesmo em 129063, várias décadas antes da construção daquele, bem como a comprovada existência de um complexo termal na cidade na linha do actual aqueduto, pareciam corroborar a tese de André de Resende. Bilou apresentou, em 2010, novos achados arqueológicos que apontavam nesse senti- do64, o que se veria comprovado, em finais de 2016, no decorrer do “Programa de Con- solidação e Valorização do Aqueduto da Água da Prata”65.

Relativamente a edifícios privados, estes são ainda pouco conhecidos no con- texto eborense. De facto, a tentativa de reconstituir os moldes urbanos é um trabalho muito complexo, dificultado, por um lado, pela reocupação da cidade e consequentes transformações e, por outro, pelo facto de cada cidade, apesar de seguir uma planimétri- ca relativamente fixa, ser singular, pois cada caso é um caso e era necessário que as

mais ou menos semicircular não corresponde, de modo nenhum, a uma planta de um teatro antigo, cons- truído, sempre, com a cávea semicircular na parte ascendente do terreno e não na zona descendente”. A

recente descoberta de uma possível domus com laconicum nesta zona vem a corroborar a tese de Haus- child (VAL-FLORES, 2017). Cf. Imagem 30.

60 VAL-FLORES, 2012, p.198. Cf. Imagens 31 a 33. 61 BILOU, 2010, pp.32-33.

62 SARANTOPOULOS, 2005, p.28.

63 VAL-FLORES, 2012, p.247; SARANTOPOULOS, 2005, p.28.

64 Estes são embasamentos e silhares no troço entre S. Bento de Cástris e a Torralva, vários silhares almo- fadados, uma estrutura junto à caixa de água do Convento da Cartuxa e alguns vestígios entre o Forte de Santo António e a Porta da Lagoa. BILOU, 2010, pp.37-42.

65“Os vestígios de material construtivo do período romano, alguma cerâmica da época, a deteção de

silhares de granito e de uma sapata de um pilar tendo por base a métrica construtiva Romana, constitu- em alguns dos fortes indícios de estarmos perante uma construção Romana”, Encontrado Aqueduto Ro- mano por baixo do Aqueduto da Água de Prata, 2016. Deste modo, as questões que actualmente dividem

os autores são a altura que teria esta estrutura arquitectónica e se chegaria ao Forum ou não. BILOU, 2010, p.42; SANTOS, 2017. Cf. Imagem 34.

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construções se adaptassem ao terreno66. Em Évora conservam-se ainda parte de uma domus67, na actual rua de Burgos, e vestígios de uma insula na Praça do Sertório68.

A muralha romana é, provavelmente, o vestígio mais problemático da cidade. Apesar de, no geral, o seu traçado ser possível de definir com alguma certeza69 e de se saber que a sua extensão seria de entre 1.080 a 1200 m70, envolvendo sensivelmente uma área de 115.000 m2,71 trata-se, porém, de um estranho caso, pois deixa de fora do seu recinto zonas que se sabe terem integrado a cidade para abarcar apenas os mais im- portantes edifícios públicos72. O facto de parecer ter sido construída no século III ou IV d.C., no contexto da aproximação bárbara do território alentejano, poderá significar que foi planeada e edificada em moldes de “emergência”73, o que explicaria essa anomalia.

Por outro lado, sabe-se que a muralha sofreu reconstruções nos períodos godo74 e islâmico, o que levanta algumas dúvidas sobre a sua “autenticidade”75. De facto, uma

66 VAL-FLORES, 2012, p.212.

67 VAL-FLORES, 2012, pp.172, 212-213. Cf. Imagens 35 a 37. Encontraram-se, em escavações, outros possíveis vestígios de domus no Paço dos Lobos da Gama e no Colégio dos Moços do Coro da Sé de Évora (actual Museu de Arte Sacra da Sé). BASÍLIO, 2017; VAL-FLORES, 2012, pp.218 e 264; VAL- FLORES, 2017.

68 SARANTOPOULOS, 2005, p.30; VAL-FLORES, 2012, p.219.

69 LIMA, 1996, p.13. No seu estudo sobre as muralhas de Évora, Balesteros e Mira (1993-1994, pp.8-17) cruzaram as investigações de Jorge Alarcão, Túlio Espanca, João de Almeida e Mário Saa, chegando à conclusão que, de um modo geral, a muralha romana teria os seguintes contornos: muro de suporte do Jardim Diana, seguindo pela Rua do Menino Jesus até ao Arco de D. Isabel, continuando, hipoteticamen- te, até à Torre do Salvador (actual edifício dos CTT), de onde iria até uma Torre no antigo Palácio dos Condes de Sortelha (actuais Paços do Concelho) ou até à Torre de S. Paulo, seguindo depois pela Traves- sa de Sertório até se unir à Torre do Sisebuto, inflectindo depois em direcção à Rua da Alcárcova de Ci- ma, onde são ainda hoje visíveis troços significativos da muralha, bem como dois torreões. Daí seguiria para o início da Rua 5 de Outubro, onde terá existido uma Porta – da Praça Grande ou da Selaria, mais tarde conhecida por Porta de Alconchel –, que terá sido destruída em 1530, flanqueada por duas Torres – Torre do Anjo e Torre de Caroucho (demolida). Daí até ao Largo de S. Vicente, onde existiria um Arco, os autores apresentam diferentes leituras. Passaria, depois, ao lado da Igreja de S. Vicente, prolongando- se pelo Largo da Misericórdia até às Torres das Portas de Moura. Passaria, então, ao lado das habitações da Rua dos Condes da Serra da Tourega (onde poderá ter existido uma Torre onde se encontra actualmen- te a Pensão Policarpo) até à Porta do Sol (que teria sido guardada por uma Torre, localizada na actual capela de S. Miguel Arcanjo, e que seria denominada “Mouchinha”). Segue-se um troço até à Torre da Casa dos Duques de Cadaval, marcado pela existência de novas Torres (dos Capitães da Cidade, do Con- vento dos Lóios, do Palácio dos Condes de Basto e das Cinco Quinas) e de uma Porta (da Traição, que é de época posterior). Cf. Imagens 38 e 39.

70 O primeiro número é apontado por Túlio Espanca, que Alarcão considera que talvez peque por defeito. ALARCÃO, 1988, p.159. O segundo número é apontado por Lima (1996, p.13).

71 SIMPLÍCIO, 2006, p.4.

72 VAL-FLORES, 2012, pp.157-158 e 263-264. Cf. Imagens 40 e 41.

73 VAL-FLORES, 2012, p.157. Terão, inclusive, sido descobertos restos de estatuária e placas epigrafadas inseridas na estrutura da muralha, o que corrobora o carácter de urgência na sua construção. Todavia, Alarcão considera que esta se pode atribuir aos inícios do século IV d.C., integrada num plano geral de fortificações das cidades peninsulares, ALARCÃO, 1988, p.159. De Man (2008, p.295) aponta que há ainda a possibilidade de a muralha ter sido construída em finais do século IV ou inícios do século V d.C.. 74 Lima apelida-a, inclusive, de “cerca romano-goda”. LIMA, 1996, p.13.

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crónica muçulmana (Al-Muqtabas V, de Ibn Hayyan) dá conta de as muralhas terem sido completamente arrasadas no século X pelo sahib de Badajoz, na sequência do ata- que à cidade por Ordonho76, o que, a ser verdade, significa que, actualmente, apenas as bases de assentamento dos vestígios que nos restam serão romanos. Este relato poderia, assim, elucidar o “enigma” da estatuária inserida na muralha se esta tivesse sido, de facto, construída em moldes de “emergência”, não pelos romanos, mas pelos árabes, aproveitando os contornos romano-godos e os materiais dispersos que encontraram77.

Finalmente, no que diz respeito a construções menores, em Ebora terá existido, ainda, pelo menos, um arco – possivelmente triunfal, mas poderia também ser uma por- ta da muralha78 – localizado na actual Praça do Giraldo e demolido no século XVI, para dar espaço à construção da Igreja de Santo Antão. Este arco é mencionado na corografia de Pinho Leal79, descrevendo-o como uma “soberba obra de bello marmore, em que se admiravam grandes e elegantes columnas e primorosos baixos relevos”80. A existência deste arco (ou, pelo menos, a sua romanidade) é posta em causa por Val-Flores, que considera a sua localização peculiar81, colocando a hipótese de ter sido, em vez de um arco triunfal ou porta da muralha, o pórtico de um edifício que ali existiria.

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