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R ECEBER TODAS AS VIRTUDES E , EM PARTICULAR , A PAZ INTERIOR

No documento O Guia Espiritual - Miguel de Molinos (páginas 105-109)

E A PENITÊNCIA INTERIOR E EXTERIOR

R ECEBER TODAS AS VIRTUDES E , EM PARTICULAR , A PAZ INTERIOR

96. Existem quatro coisas mais necessárias para se atingir a perfeição e a paz interior. A primeira é a prece; a segunda, a obediência; a terceira, a comunhão frequente; a quarta, a mortificação. E agora, já que já tratamos da prece e da obediência, será conveniente tratarmos também da comunhão,

97. Você deve saber que existem muitas Almas que privam a si mesmas do infinito benefício desse precioso alimento. Elas julgam não estarem suficientemente preparadas e que nada menos do que uma pureza angélica é necessária para isto. Se você tem uma finalidade pura e um verdadeiro desejo de realizar a vontade de Deus, sem procurar a devoção sensível ou a sua própria satisfação, venha com confiança, porque você está, então, adequadamente disposto.

98. Todas as dificuldades, todos os escrúpulos, todas as tentações, dúvidas, medos, resistências e contradições devem ser rompidas nesta rocha do desejo pela vontade divina. E a melhor preparação para a Alma é se comungar sempre, porque uma comunhão dispõe à outra. Assim, eu irei mostrar os dois caminhos da preparação. O primeiro é para as Almas exteriores que têm bom desejo e vontade. O segundo é para as espiritualizadas que vivem internamente e têm uma luz e um conhecimento maiores de Deus, dos seus mistérios, das suas operações e sacramentos.

99. A preparação das Almas exteriores é se confessar e se retirar do convívio com as criaturas. Antes da comunhão devem se pôr em silêncio e considerar o que será recebido, e por quem. Vai ela ao maior dos ofícios do mundo, que é receber o grandioso Deus. Que singular favor e a própria pureza condescender em ser recebida pela fé (!), a majestade pela vileza (!), o criador pela criatura!

100. A segunda preparação, para as Almas interiores e espiritualizadas, deve ser o esforçar-se por viver com grande pureza e autonegação, em um retirar-se universal do mundo, através da mortificação e do recolhimento contínuos. Quando elas caminham desta forma, elas não têm necessidade de qualquer outra preparação, porque as suas vidas são uma contínua e perfeita preparação.

101. Se você não conhece estas virtudes em sua Alma, pela mesma razão você deve com frequência se aproximar da mesa soberana para recebê-las. Nunca deixe que o impeça o perceber-se vazio, defeituoso e frio. A comunhão frequente é o remédio que cura estas doenças e aumenta a virtude. Pela mesma razão é que, quando você está doente, deve ir ao médico, uma vez que se encontra com frio e com febre.

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102. Se você se aproximar com humildade, com o desejo de fazer a vontade divina, e com a licença do seu confessor, você poderá recebê-la todo dia, e todo dia você irá melhorar mais e mais. Nunca tema ver-se sem este amor afetado e sensível, que alguns dizem ser necessário. Esta afeição sensível não é perfeita, e geralmente é dada a Almas fracas e amáveis.

103. Você dirá que se sente indisposto, sem devoção, sem fervor, sem o desejo pelo divino alimento, a ponto de perguntar com que frequência você deve tomá-lo? Acredite, com certeza, que nenhuma destas coisas irá impedi-lo ou machucá-lo, enquanto você perseverar com firmeza neste propósito, de não pecar; e você se determinará a evitar toda ofensa. Se você confessar todas as de que se lembra, não duvide que está bem preparado para se aproximar da divina e celestial mesa.

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C A P Í T U L O X I V

SEGUE COM O MESMO ASSUNTO

104. Você deve saber que neste indescritível sacramento Cristo se une à Alma, a qual se torna una com aquele cujas fineza e pureza são as mais profundas e admiráveis, e as mais dignas de consideração e agradecimentos. Grande foi a pureza dele ao ser feito homem, maior do que a de morrer ignominiosamente na cruz por nossa causa. A doação inteira e total de si ao homem neste sacramento não admite comparação. Este é um favor singular e de infinita pureza, porque não há mais nada a ser dado, nem mais nada a ser recebido. Se nós pudéssemos apenas compreender isto! Se nós pudéssemos ao menos conhecê-lo!

105. Sendo o que é, Deus se comunica à minha Alma! Deus deseja uma união reciproca com ela, que por si só é apenas miséria! Ó Almas, se nós pudéssemos apenas nos alimentar nesta mesa celestial! Ou se nós pudéssemos nos consumir neste fogo ardente! Se nós pudéssemos nos tornar um e o mesmo espírito com este senhor soberano! Quem nos impede? Quem nos ilude? Senhor! Quem nos impede? Quem nos ilude? Quem nos afasta de nos consumirmos como salamandras no fogo divino desta santa mesa?

106. É verdade, ó Senhor, que você, ao entrar em mim, encontra uma criatura miserável; mas, ao mesmo tempo, você permanece em glória e brilho, em si mesmo. Recebe-me, portanto, ó meu Jesus, em si, em sua beleza e majestade. Eu sou infinitamente contente por minha vileza não poder prejudicar a sua beleza. Você entra em mim sem sair de si. Você permanece em meio ao seu brilho e a sua magnificência, apesar de estar na minha escuridão e miséria.

107. Ó minha Alma, quão grande é a sua vileza! (Jó Cap. 7) Quão grande a sua pobreza! O que é o homem, Senhor, para que se importe tanto com ele? Para que o visite e o engrandeça? O que é o homem, para que coloque tanta estima sobre ele, desejando deleitar-se com ele e nele habitar pessoalmente com a sua grandeza? Como, ó Senhor, pode uma criatura miserável receber uma majestade infinita? Humilhe-se, ó minha Alma, até a mais profunda nulidade. Confesse a sua falta de valor. Olhe para a sua miséria e perceba as maravilhas que o amor divino suporta para estar nesta incompreensível miséria, para poder se comunicar e se unir a você.

108. Grandeza de amor pela qual o amistoso Jesus se encontra na pequenez do seu hóspede, onde de certa forma se sujeita ao homem, no qual se entrega totalmente e se sacrifica por ele ao pai eterno! Ó Soberano Senhor, mantenha com força o meu coração, para que ele nunca mais volte à liberdade imperfeita, mas que totalmente aniquilado possa morrer para o mundo e permanecer unido com você.

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109. Se você reunir todas as virtudes no mais alto grau, venha, Alma bendita, venha com frequência a esta muito santa mesa, pois aí todas elas se encontram. Coma, ó minha Alma, desta comida divina, coma e continue, venha com humildade, venha com fé para se nutrir deste alvo e divino pão. Pois esta é a marca das Almas e de onde o amor tira as suas setas, dizendo: Venha, ó Alma, e coma esta saborosa comida, se você quer receber a pureza, a caridade, a castidade, a luz, a força, a perfeição e a paz.

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C A P Í T U L O X V

DECLARANDO QUANDO AS PENITÊNCIAS ESPIRITUAIS E CORPORAIS DEVEM SER

USADAS, E QUÃO DANOSAS ELAS SÃO QUANDO UTILIZADAS INDISCRETAMENTE,

No documento O Guia Espiritual - Miguel de Molinos (páginas 105-109)