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QUADRO 6 DESEMPENHO (competitividade)

2.3 T ECNOLOGIA E INOVAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA DA CANA DE AÇÚCAR

As inovações, enquanto elementos centrais da dinâmica competitiva das cadeias produtivas agroindustriais, podem redefinir os rendimentos agrícolas e industriais e implicar em reestruturações sobre trabalho, aprendizado, instituições de pesquisa, investimento público e privado de uma região. Em suma, o progresso técnico é um dos principais fatores que influenciam a reorganização da cadeia produtiva, seu ambiente produtivo e suas interações competitivas, bem como podem alterar a composição econômica de uma região geográfica (FARINA, 1999; ROSÁRIO, 2006).

Rosário (idem) destaca que ao sair do cenário de vantagens comparativas estáticas (terra barata; mão-de-obra abundante e pouco qualificada; proteção do Estado) para outro totalmente dinâmico baseado nas vantagens competitivas, a agroindústria sucroenergética tem feito um esforço para criar e renovar essas vantagens por meio de adoção de inovações e de

capacitação tanto no que se refere à produção nos setores agrícola e industrial quanto à esfera organizacional.

Destaca ainda que na cadeia produtiva da cana-de-açúcar apenas aquelas firmas mais dinâmicas adotam novas tecnologias e que isto pode, no médio prazo, comprometer a participação do Brasil (ou da região Nordeste do país, por exemplo) no mercado internacional, uma vez que poucos produtores estarão aptos a cumprir as exigências desse mercado.

Todavia, diante da evolução do número de usinas instaladas com as mais altas tecnologias disponíveis, talvez não seja o caso do Brasil perder espaço no mercado internacional, mas certamente aquelas regiões que concentrarem unidades com dificuldade de modernização e de inserção na dinâmica tecnológica da cadeia produtiva poderão ter suas participações comprometidas.

O estudo do IEL e SEBRAE (2005) traz um levantamento das principais inovações que têm ocorrido nos recortes macro da cadeia produtiva da cana-de-açúcar no Brasil. É possível, a partir de um estudo com recorte regional das unidades produtoras, identificar qual tipo de empresa inovadora é predominante e se há um distanciamento das unidades estudadas em relação ao desenvolvimento tecnológico do setor.

2.3.1INOVAÇÃO DE PRODUTO E PROCESSO NAS ÁREAS AGRÍCOLA E INDUSTRIAL

Na área agrícola a mudança considerada mais impactante é a mecanização das etapas de plantio, tratos culturais e colheita (corte). Isto demanda maior sincronismo campo- indústria e a conseqüente introdução de inovações nos processos gerenciais dessas atividades que, por sua vez, demandam investimentos (financeiros) e recursos humanos tanto para identificar e implantar as inovações, como para executar as adaptações necessárias.

É especialmente impactante a mecanização da colheita, pois possibilita realizar o corte da cana crua, e ao que parece solucionar questões relacionadas à poluição do meio ambiente e à exploração do trabalho, bem como à exposição dos trabalhadores a condições insalubres. Além disso, eleva a qualidade da matéria-prima enviada às usinas, aumentando a produtividade e reduzindo os custos totais (nas operações agrícola e industrial).

Por outro lado, pode levar a um outro tipo de passivo social: o desemprego. Em média uma colheitadeira substitui o trabalho diário de 214 cortadores de cana (segundo informações da pesquisa de campo). Essa substituição possivelmente gera um impacto significativo principalmente naquelas localidades onde a taxa de emprego depende substancialmente do setor.

Outra tendência tecnológica identificada na produção sucroenergética é a massificação da irrigação que, somada ao desenvolvimento de novas variedades, pode estender o período de corte24 da cana crua e, consequentemente, a duração da atividade industrial, elevando a competitividade do SAG da cana frente, por exemplo, ao milho americano que pode ser armazenado e disponibilizado ao longo do ano.

A colheita mecanizada da cana crua e as novas experiências com irrigação estimulam uma série de mudanças na estrutura agrícola do setor, conforme destaca o estudo. Inicialmente o desenvolvimento de variedades com crescimento ereto e menos palha e desenvolvimento ou adaptação de técnicas mais eficientes de irrigação. Depois o desenvolvimento da gestão via mudanças nas técnicas de plantio e corte; sincronização das atividades de carregamento e transporte; uso racional de máquinas e equipamentos. Conseqüentemente, investimentos em máquinas para colheita, equipamentos para irrigação e softwares para agricultura de precisão.

24 Em média dura 6 meses no NO/NE (novembro a março) e 8 meses em São Paulo. A previsão é que, com a irrigação, este período passe para 10 meses nas duas regiões (já observado em algumas usinas paulistas, segundo

Tais mudanças potencializariam a produtividade e a logística do sistema agropecuário da cana dotando-o de competitividade. Mas existem dificuldades intrínsecas como a necessidade de conhecer as diversas localidades para adaptar variedades mais eretas e com menos palha e até mesmo lidar, diante das mudanças, com o conteúdo tácito do conhecimento regional/local embutido nas etapas de produção, corte e transporte.

Além disso, recursos humanos detentores de conhecimento técnico necessário para operar e fazer a manutenção das máquinas, utilizar os sistemas de informação baseados em imagem de satélite e programação de safra, por exemplo, são fatores difíceis de construir no curto prazo.

Por outro lado, os autores destacam que a colheita de cana crua já está trazendo outras conseqüências, não tão positivas: necessidade de aumentar o tamanho dos talhões para obter eficiência com o uso da tecnologia, estimulando a concentração das propriedades fundiárias/industriais25; redução dos postos de trabalho não qualificado.

Isto para não citar o distanciamento que a mudança na estrutura tecnológica agrícola proporciona entre aquelas unidades produtivas que possuem capacidade de investimento, e têm investido ao longo do tempo, e aquelas que não se modernizaram. Fator que fortalece uma tendência de concentração do setor num número reduzido de firmas e que se estende à questão regional – que já influenciada por outros aspectos, como o clima.

Já na área industrial a ênfase é na automação das usinas e destilarias, com objetivo de melhorar processos como programação de corte e de mix de produção a depender da variedade de cana utilizada e da região, bem como obter um produto padronizado e de melhor qualidade.

A figura abaixo mostra um resumo simplificado do processo industrial da cana- de-açúcar e a geração de seus principais produtos.

Figura2 - Resumo simplificado do processo industrial da cana-de-açúcar (apud Goes et al., 2008)

Com a valorização dos subprodutos do refino do açúcar e a possibilidade de criação de produtos com maior valor agregado, o desenvolvimento de tecnologias e a automação dos processos tornaram-se mais essenciais.

O quadro a seguir traz um resumo dos subprodutos do processamento da cana-de- açúcar que são tendências da diversificação no setor e provavelmente cada vez mais comporão o mix das usinas.

SUBPRODUTO APLICAÇÃO ASPECTOS RELEVANTES

Melaço rico

Indústria de

alimentos, ração animal, álcool etílico, levedura, outros.

Estima-se que um quarto da produção mundial de melaço é usado na produção de etanol.

Melaço pobre Ração fermento animal, para panificação.

No Leste da Ásia, o melaço é usado no processo de fermentação para a produção de Glutamato Monossídico, ácidos (cítrico, fórmico) e aminoácidos (lisina).

Bagaço Energia para combustão, álcool, papel, papelão, compensado, adubo, ração

O uso energético (vapor e eletricidade, mediante queima) possibilita preços do bagaço até mesmo superior ao preço da cana por tonelada. A co-geração é também uma possível fonte de receita através da venda de crédito de carbono.

Ponta e palha da

cana Ração cobertura do solo animal,

Também podem ser utilizadas para geração de energia. Contudo, falta tecnologia para tornar economicamente viável a coleta e transporte desses materiais.