• Nenhum resultado encontrado

2.5 Abordagens de adaptação das organizações

2.5.1 Ecologia populacional

O modelo de ecologia populacional, baseado no modelo de seleção natural da ecologia biológica, procura explicar as mudanças organizacionais a partir da análise da natureza e da distribuição dos recursos no ambiente. As pressões do ambiente tomam a competição por recursos a força central nas atividades organizacionais.

Já a perspectiva de dependência de recursos procura enforcar às táticas e as estratégias usadas pelos dirigentes na administração de seus ambientes tão bem quanto suas organizações. Os três estágios, segundo Hannan, Freeman (1977) de variação, seleção e retenção constituem um modelo geral de mudança organizacional para explicar como as estruturas organizacionais são criadas, sobrevivendo ou falindo, e difundidas por toda a população.

A variação dentro e entre organizações, segundo os autores, é o primeiro passo para a mudança organizacional. Algumas variações podem surgir das tentativas dos membros em gerar alternativas com o intuito de buscar soluções para os problemas,

63

enquanto que o modelo de seleção racional da teoria organizacional tradicional procura dar ênfase as mudanças planejadas.

Para Hannan, Freeman (1977) dois tipos de variação podem criar a possibilidade de pressões externas de seleção que afetam o rumo da mudança organizacional. Primeiro, existem variações entre organizações em sua forma total - entre indústrias, dentro de indústrias, entre o setor público e privado, e nas comunidades locais. Assim, as variações podem ser introduzidas na população organizacional, quando as novas organizações são criadas.

Em segundo lugar, as variações dentro das organizações podem provocar mudança ou transformação. O crescimento, por exemplo, segundo os autores, é uma origem comum da variação dentro das organizações, assim como o aumento da complexidade que pode ocasionar problemas de controle, forçando, assim, uma mudança nas práticas organizacionais. Transformações nos membros e líderes, variações nos procedimentos e desvios ocasionais nas práticas padrões - intencionais ou acidentais - podem dar ao ambiente tuna oportunidade de produzir uma transformação interna na organização.

De acordo com o modelo de ecologia populacional, a seleção de estruturas organizacionais novas ou modificadas ocorre como resultado das restrições ambientais. Os critérios do ambiente organizacional podem ser selecionados para assegurar a sobrevivência, enquanto outros desaparecem ou mudam para poderem disputar as necessidades do ambiente. Por exemplo, se o critério de seleção favorece a racionalidade administrativa e as estruturas controladas formalmente, por exemplo, as organizações estruturadas burocraticamente serão escolhidas no lugar das organizações não-burocráticas.

Para Hannan, Freeman (1977) os ambientes são descritos de acordo com os recursos ou informações que eles tomam viáveis às organizações. O acesso à informação baseia-se fortemente nas teorias de percepção, cognição e tomada de decisão, com os membros da

organização agindo com base nas informações coletadas no seu próprio ambiente. Dessa forma, a mudança organizacional pode ser explicada pela variação da informação que em muitos casos, é filtrada através da percepção que os membros da organização têm em relação ao seu ambiente.

Mudanças na tecnologia de informação, melhorias nos métodos de busca e armazenamento de informações, a quebra de barreiras ao fluxo de informação, e inovações que acentuam o entendimento das pessoas sobre seu ambiente são aspectos da mudança social que aumentam a probabilidade de mudanças nas estruturas organizacionais.

A abordagem de recursos trata o ambiente como constituído de recursos pelos quais as organizações competem, enfatizando a quantidade de recursos e em que condições eles estão disponíveis.

Aldrich (1979) apresenta seis dimensões que geralmente são usadas para caracterizar os meios nos quais os ambientes tomam os recursos disponíveis às organizações, ou seja, capacidade ambiental, homogeneidade-heterogeneidade, estabilidade- instabilidade, concentração-dispersão, domínio, consenso-dissenso e o grau de turbulência.

A capacidade ambiental de um ambiente refere-se à riqueza ou pobreza ou ao nível de recursos disponíveis para a organização. Segundo Aldrich (1979, p. 63)

“ as organizações tem acesso a mais recursos nos ambientes ricos, mas tais ambientes também atraem outras organizações. A estocagem e a acumulação de recursos provavelmente não são tão vigentes nos ambientes ricos quanto nos pobres. Os ambientes pobres também promovem práticas competitivas encarniçadas, e, além de recompensarem a eficiência no uso dos recursos. Duas alternativas se abrem para as organizações nos ambientes pobres; mudar-se para um ambiente mais rico ou desenvolver uma estrutura mais eficiente. Esta última alternativa pode ser conseguida melhorando-se as práticas operativas, fundindo-se com outras organizações, tomando-se mais

65

agressivas diante de outras organizações ou passando para um subambiente protegido através da especialização'’.

A homogeneidade-heterogeneidade ambiental refere-se ao grau de similaridade ou diferenciação numa população de organizações, indivíduos ou outras unidades sociais. De acordo com Aldrich (1979), um ambiente homogêneo é mais simples para as organizações, já que é possível desenvolver modos padronizados de reação. Muitas organizações tentam tomar seu ambiente mais homogêneo limitando os tipos de clientes atendidos, os mercados em que ingressa e assim por diante.

A estabilidade-instabilidade ambiental refere-se à extensão da rotatividade de elementos ou de partes do ambiente. A estabilidade, tal como a homogeneidade, permite a padronização. A instabilidade leva à imprevisibilidade, à qual as organizações resistem.

A concentração ou a dispersão do ambiente envolvem a distribuição dos elementos no ambiente.

A dimensão consenso-dissenso sobre o domínio se refere ao grau em essas reivindicações são reconhecidas ou questionadas por terceiros, tais como os órgãos governamentais. Quando todas as partes interessadas concordam em que determinada organização tenha o direito e a obrigação de operar de uma dada maneira numa área específica, pode existir um consenso de domínio.

Por fim, a turbulência ambiental mostra a interconexão causal entre os elementos do ambiente. Num ambiente turbulento há um alto índice de interconexão causal. Por exemplo, uma mudança na variável econômica pode alterar o comportamento de outras variáveis ambientais como a política e a ecologia.

As dimensões ambientais discutidas por Aldrich (1979) afetam a distribuição de recursos nos ambientes, e juntas podem ser usadas como um esquema de cálculo para

descrever as mudanças sociais em relação as mudanças organizacionais. Mudanças que removem ou adicionam restrições e recursos do ambiente afetarão a diversidade populacional de uma organização, dirigindo à atenção para as mudanças sociais.

Da mesma forma, a retenção em estruturas organizacionais em uma população ou em atividades e estruturas específicas dentro de organizações pode ser afetada pelas características ambientais e organizacionais.

Por exemplo, a mudança tecnológica, especialmente na estrutura da transmissão e recuperação de informação eletrônica, tem simplificado a tarefa de preservar valiosas informações.

A estabilidade social e seus efeitos são vistos mais claramente na principal função do Estado em criar e manter as organizações. Como principal restrição à formação e persistência organizacionais, o papel do Estado aparece em muitos aspectos: estabilidade política e legitimação ideológica, sistemas educacionais, melhorias nas redes de transporte e comunicação, pianos de economia nacional e outros investimentos estatais afetam as bases nas quais os recursos tomam-se disponíveis aos empresários organizacionais.

A estabilidade na estrutura e nas atividades de organizações individuais é o foco central da análise organizacional tradicional, e a maior parte das características da burocracia típica contribui para a retenção de uma estrutura organizacional específica. Documentos e arquivos são os materiais personificados das práticas passadas e são referências para que as pessoas busquem procedimentos apropriados para seguir. Especialização e padronização de tarefas limitam a discussão dos membros e protegem as organizações contra variações não-autorizadas, embora a perda de união dentro da organização cria oportunidades de desvio que são difíceis de serem contornadas. A centralização de autoridade e formalização de atribuições também limitam a discrição, canalizando as atividades dos membros em rumos que os tomam calculáveis para as altas

autoridades. Estruturas e procedimentos burocráticos ajudam a preservar as estruturas organizacionais existentes.

Em síntese, a variação, seleção e retenção constituem os três estágios do processo de mudança organizacional na perspectiva da ecologia populacional. A variação cria o material base a partir do qual a seleção deve ser feita; mecanismos de retenção preservam a forma selecionada. O modelo pode ser aplicado a retenção ou eliminação seletiva de novas organizações ou seus componentes.

Uma vez explicitados os fundamentos básicos da abordagem da ecologia populacional, procura-se discutir a abordagem escolha estratégica e determinismo ambiental.