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Para entrar nas discussões alusivas ao estado de Pernambuco dos anos 1960, é necessário retomar aquilo que fora a região na qual este está inserido durante os anos que os antecederam. Desse modo, falar a respeito dos últimos anos da década de 1950 é considerar também que eles podem ser entendidos como um ensaio para a década seguinte.

Não só em termos nacionais, mas também regionais e locais, a palavra de ordem era a mesma: modernizar. Desse modo, desenvolver o Brasil tirando-o economicamente do atraso, ou seja, do rol das nações subdesenvolvidas, (particularmente tendo uma região com altos índices de pobreza como o Nordeste), passou a ser um desafio não simplesmente humanitário, mas essencialmente necessário.

Assim, com tais pretensões, é criado ainda durante o governo JK o Grupo de Trabalho do Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), cujo intuito era tentar pensar alternativas para amenizar ou resolver os problemas estruturais e naturais da dita região. Nas palavras de Antonio Paulo Rezende:

A criação da SUDENE contribuiu para aprofundar os debates, depois do relatório do Grupo de Trabalho do Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) sugerir saídas para resolver questões econômicas, antes vistas só na perspectiva climática, que condenava a região ao subdesenvolvimento. 88 Conforme ressalta Joseph Page, 89 a SUDENE surge como um órgão federal subordinado ao presidente da república. Dessa maneira, percebemos que as dificuldades vividas no Nordeste eram encampadas nesse momento como uma bandeira a ser

87 Antes das observações que serão traçadas a partir de agora, convém fazer aos leitores uma pequena nota. Entendemos que os aspectos políticos, econômicos e sociais se tangenciam e não os compreendemos de maneira isolada, no entanto, a divisão que foi feita aqui desses aspectos é simplesmente para fins didáticos.

88 REZENDE, Antonio Paulo. O Recife: histórias de uma cidade. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2005, p. 126.

89 PAGE, Joseph. A Revolução que Nunca Houve: o nordeste do Brasil (1955-1964). Rio de Janeiro: Record, 1972, p. 27.

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hasteada e honrada pelo Estado Nacional. Na lei 3692/59, parágrafo 2º, fica expresso que a SUDENE possuía como finalidades:

a) estudar e propor diretrizes para o desenvolvimento do Nordeste;

b) supervisionar, coordenar e controlar a elaboração e execução de projetos a cargo de órgãos federais na região e que se relacionem especificamente com o seu desenvolvimento;

c) executar, diretamente ou mediante convênio, acôrdo (sic) ou contrato, os projetos relativos ao desenvolvimento do Nordeste que lhe forem atribuídos, nos têrmos (sic) da legislação em vigor;

d) coordenar programas de assistência técnica, nacional ou estrangeira, ao Nordeste. 90

É possível constatar, portanto, que o desenvolvimento aparece como questão central ao pensar o Nordeste daquela época. No entanto, é importante considerarmos que apesar de tal iniciativa, o insucesso foi evidente. Nas palavras de Lúcia Lippi Oliveira:

Órgão criado para diminuir as diferenças entre o Nordeste e o Sul-Sudeste, a Sudene falhou, segundo a análise do sociólogo Francisco de Oliveira. O número de empregos industriais criado foi insuficiente para resolver os problemas estruturais da região, os padrões de miséria foram mantidos, e as migrações não cessaram. Em termos de concentração de renda, nada mudou.91

A intervenção planejada do Estado em uma região que contava com aproximadamente 1/3 da população do país, poderia contribuir não só para apaziguar as tensões sociais, mas também para inaugurar um momento de esperança na vida de uma grande massa de despossuídos. O que aconteceu é que tal tentativa passou de esperançosa a frustrada.

Podemos observar que o setor industrial aparece como o menor percentual do PIB global da região Nordeste nos anos 1960, atrás do setor de serviços e agropecuário. Duas décadas depois, observa-se um pequeno aumento percentual a saber:

90 Disponível para consulta em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/128705/lei-3692-59. Acesso em 08 jun. de 2011 às 01h41min.

91 Disponível para consulta em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Economia/Sudene. Acesso em 11 jul. 2011 às 03h23min.

45 TABELA 1 - Participação do PIB Setorial no PIB Global da Região Nordeste do Brasil – 1960/1980 (%)

Período Agropecuária Indústria Serviços Total

1960 30,5 22,1 47,4 100,0

1980 17,3 29,3 53,4 100,0

Fonte: SUDENE/ Contas Regionais 92

Como podemos perceber nos dados acima, as políticas da SUDENE no período tiveram um tímido efeito para o setor industrial. Convém ressaltar que a época ilustrada na tabela tratou-se do período quase inteiramente de ditadura militar, no qual houve um investimento maciço de capital estrangeiro no país.

Nas análises de Raimundo Moreira, 93 esta pouca expressividade deve-se a diversos fatores, tais quais, principalmente, as limitações do mercado regional, 94 a modernização das unidades fabris em detrimento da implementação de novas 95 e o investimento oriundo de um número pequeno de empresas ao passo que geralmente as de grande porte eram as poucas que se dispunham a investir por possuírem menos vulnerabilidade aos riscos. 96

Em termos locais, convém ressaltar que os valores absolutos da produtividade entre aos anos 1960 e 1970 caem mais expressivamente na indústria alimentar (5%) e principalmente na indústria têxtil (7,8%) nosso objeto de estudo. Os percentuais positivos mais expressivos ficam com a indústria de material elétrico e de comunicação (4,5%) conforme pode ser observado no Anexo B (p. 125).

O número ascendente nestes ramos industriais revela-nos que eles figuravam como prioridade para tirar a região do “atraso”. É importante observarmos que esses

92 Disponível para consulta em: http://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obed001d.html. Acesso em 14 jul. 2011 às 16h04min.

93 Ver MOREIRA, Raimundo. O Nordeste Brasileiro: uma política regional de industrialização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p. 150-157.

94 Ibidem, p. 151. 95 Ibidem, p. 153. 96 Ibidem, p. 152.

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instrumentos não serviriam necessariamente para “resolver” os problemas da região, mas principalmente para atender às demandas capitais das próprias indústrias instaladas. Apesar de o número de estabelecimentos industriais entre 1960 e 1970 ter aumentado 38,93% e o pessoal empregado 18,24%, 97 Vânia Moreira pontua observações que nos ratificam que as políticas modernizadoras não foram capazes de acabar com a miséria pois a população estava “sem acesso à terra, à saúde, à educação, ao saneamento básico (...)”. 98