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2.3 ABORDAGENS INSTITUCIONALISTAS E DEFINIÇÕES DE INSTITUIÇÃO:

2.3.1 Economia institucionalista original/radical e neoinstitucionalismo

Dugger (1988) argumenta que o institucionalismo original, também chamado de institucionalismo radical (IR) – por remeter à raiz, à origem – é uma teoria profundamente crítica do capitalismo industrial. Seus pensamentos baseiam-se nas obras de Thorstein Veblen e, em menor escala, nas obras de John R. Commons. Outro autor importante relacionado a essa tradição é Wesley Mitchell. Para Dugger (1988), Veblen acreditava que era necessária uma mudança transformadora para que ocorresse um sistema econômico mais igualitário. Todavia, Veblen era descrente quanto a essa mudança.

De acordo com Dugger (1988), os institucionalistas, principalmente os ligados à tradição original, enfatizam que a economia capitalista funciona como um processo dinâmico e não como um equilíbrio estático. Esse processo é movido por circunstâncias que podem ou não resultar em benefícios para sociedade, ou seja, não caminham necessariamente para um equilíbrio ótimo. Sendo essencialmente uma sequência cumulativa de causalidade, às cegas e não teleológica, não existem elementos determinísticos aos quais, caso sejam adotados, necessariamente levam a um resultado pré-determinado. Isso, porque, o processo de mudança cumulativa pode resultar em deterioração cumulativa, gerar subdesenvolvimento ou conduzir a uma melhoria cumulativa, ou seja, não é necessariamente um movimento de cumulatividade positiva e benéfica em todas as circunstâncias.

Conceição (2002) destaca um importante legado do antigo institucionalismo de Veblen para o pensamento a respeito das instituições. O autor argumenta que o conceito de instituição, para Veblen, de um modo sucinto, seria um conjunto de normas, valores e regras e sua evolução. Esses elementos são resultados de um estado presente que molda o futuro, por meio de um processo de seleção e coerção, direcionado pela maneira como os indivíduos observam as coisas. Assim, existe uma conexão entre as especificidades do desenrolar da história e um enfoque evolucionário.

Hodgson (1998) argumenta que Veblen fez uma série de contribuições e estabeleceu a possibilidade de uma economia que ultrapassaria as limitações

estáticas, teleológicas e individualistas das teorias vigentes. O autor aponta que Veblen rejeitou a ideia dos indivíduos ou sociedade como fundamentos exclusivos para a ciência social. Em vez disso, ele desenvolveu uma estrutura evolucionária de explicação em linhas darwinianas, envolvendo muitos níveis de explicação e propriedades emergentes. O autor rejeita a percepção hedonista e utilitária em favor de uma concepção ativa e reconstrutiva da ação humana baseada nos hábitos e instintos. Mitchel (1910) também segue a linha de Veblen no entendimento de instituição. De acordo com o autor, as instituições são hábitos mentais preponderantes que se tornam maiormente aceitos de modo geral, tornando-se normas que norteiam as condutas.

Outra importante definição ampla sobre o que é instituição foi realizada por Commons (1931), que argumenta que os conflitos são os elementos importantes de estudo da economia institucional, e seus balizadores são os princípios da escassez, eficiência, análises do que pode acontecer ou se realizar no futuro. Assim, um entendimento mais amplo de instituição seria “[...] ação coletiva em controle, liberação e expansão da ação individual [...]” (COMMONS, 1931, p. 656, tradução nossa).

No final da década de 1960, segundo Conceição (2002, 2007), o pensamento institucionalista faz um retorno a sua tradição antiga do velho institucionalismo americano. Esse ressurgimento é materializado, em grande medida, pelas publicações científicas do Journal of Economic Issues, ligado à Association for Evolutionary Economics (AFFE), sendo os principais expoentes dessa vertente autores do pensamento original e novos, entre eles: Thorstein Veblen, John R. Commons, Karl Polanyi, Wesley Mitchell, John Clark, Clerence Ayres, J. Foster, John Galbraith, Kenneth Boulding, Gruchy, Hodgson, Ramstad, Rutherford, Samuels, Mark Tool, Stanfield, além de outros.

Hodgson (1994, 2006) auxilia no entendimento dos principais elementos fundadores do neoinstitucionalismo. Esses elementos são caracterizados como um retorno a sua tradição antiga, como já foi assinalado anteriormente. Hodgson (1994) discute esses pontos e destaca os principais. Inicialmente, a maioria dos autores neoinstitucionalistas pensam um agente econômico diferente do modelo de pensamento neoclássico otimizador e racional (homo economicus). Eles entendem a conduta humana como orientada por hábitos e rotinas, e, também ocasionalmente, orientada por inventividades. Igualmente, em relação à unidade de análise, não dão

uma ênfase privativa no indivíduo e possuem um escopo analítico mais amplo, que engloba as instituições como unidade analítica.

A percepção de economia é a de um sistema não fechado e inclui a ideia de tempo histórico, e não do equilíbrio, ou seja, defendem o conceito de processo com contínua readaptação, acomodação e mudanças. Logo, as preferências não são dadas, como defende a vertente neoclássica. Esse processo é caracterizado por uma causação cumulativa de uns elementos nos outros (reconstitutive downward

causation).

Ainda, segundo Hodgson (1994), esses autores defendem que o processo inovativo e tecnológico não é um elemento exógeno à análise econômica, mas sim um protagonista motor no desenvolvimento socioeconômico. Uma atenção especial também é dada para o papel desempenhado pelos conflitos de poder entre os indivíduos e as instituições, considerando-os muito relevantes para o entendimento das dinâmicas socioeconômicas.

Cavalcante (2014) argumenta que essa linha de pensamento entende que as instituições são oriundas de hábitos que se consolidam, ou seja, as instituições advêm de hábitos compartilhados que as estruturam e que, ao mesmo tempo, também estruturam regras sociais que direcionam a interação das pessoas. Logo, as instituições possuem duas facetas, controlar e ser suscetível às ações individuais.

Portanto, com base nesses autores, as instituições controlam e direcionam as ações da sociedade, mas também apresentam um processo evolutivo dinâmico e são suscetíveis a mudanças e transformações. Após a discussão do que é instituição para os neoinstitucionalistas e para o institucionalismo original, no próximo tópico será discutida a concepção de instituição para a NEI.