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ECONOMIA SOLIDÁRIA NO CENÁRIO BRASILEIRO ATUAL

FOTO 7 Desfile realizado na V Feira com confecções e acessórios da Ecosol/PB

1 ECONOMIA SOLIDÁRIA

1.3 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO CENÁRIO BRASILEIRO ATUAL

No cenário brasileiro, estudiosos do tema consideram que as primeiras organizações econômicas solidárias foram às cooperativas que surgiram no país, no final do século XIX, apresentando-se de forma pouco expressiva até meados do século XX. Idealizadas a partir do modelo dos tecelões de Rochdale, aparecem inicialmente na cidade de Limeira, São Paulo, como forma de organização da população pobre, e não como possibilidade de organização de uma sociedade com capacidade de inserção nos seus bens e serviços. (MELO NETO, 2005; SINGER E SOUZA, 2000).

Já no final do século XX, a Ecosol (re) surge no país e começa a se desenvolver ao longo dos anos 1980. Expandiu-se, vigorosamente nos anos 1990 e no início dessa primeira década do século XXI, através de novas formas alternativas de organizações de produção, tendo em vista o agravamento da crise do desemprego a partir das políticas neoliberais, que foram sendo adotadas no país nesse período, e da reestruturação econômica, com o fim da proteção aos setores industriais, e a privatização das empresas estatais. (BARBOSA, 2007; SINGER E SOUZA, 2000; ANTUNES, 2006).

Nessa década, adicionou-se a esse quadro a adoção do modelo de trabalho flexível intensificaram-se os mecanismos de superexploração do trabalhador, ampliando-se com

isso o quadro de crescimento inusitado de trabalhadores fora do setor formal da economia e sem direitos sociais, configurando-se em um contexto social marcado pelo desemprego e pela expansão das cooperativas industriais e de produção, como resposta dos trabalhadores às novas formas de exclusão e exploração do mundo do trabalho.

Em estudos realizados sobre a Ecosol no Brasil nesse período, Singer (2010, p.9) assim se coloca:

A Economia Solidária surge no Brasil com força, na década de 1990, em função da tragédia social representada pela explosão do desemprego em massa, da miséria e da exclusão social como frutos da contra revolução neoliberal, que globalizou a economia no Brasil e de dezenas de outros países, privando estados nacionais do poder de regular a economia de seus países e entregando a definição dos rumos da economia mundial aos interesses privados de algumas centenas de transnacionais.

Umas das iniciativas solidárias que surgiram no país nesse período foram as cooperativas oriundas de algumas fábricas falidas. Um exemplo notório pode ser visto no Nordeste, no Estado de Pernambuco: trata-se da experiência da Usina Catende, que foi transformada em cooperativa de produção pelos trabalhadores, sob ameaça de perderem seus empregos.

Em outras palavras, para evitar o fechamento definitivo da empresa, evitando a dilapidação de seu próprio patrimônio, com a manutenção de 2.300 famílias com seus empregos, os trabalhadores recuperaram-na em moldes da diversificação industrial e agrícola de culturas, construção e consolidação de uma empresa autogestionária – A Companhia Agrícola Harmonia -, e assim garantiram seus empregos e as possibilidades de geração de novos postos de trabalho, a partir de seu desenvolvimento9.

Essa experiência marcou a história de luta e resistência da população que, excluída de seus direitos, passou a atuar em experiências alternativas de produção, na busca de garantir a reprodução ampliada da vida e não do capital, além de objetivar também a autonomia dos trabalhadores (as), devolvendo-lhes seu lugar de sujeitos de direito na sociedade.

Em seus estudos sobre os EES no Brasil, Gaiger (1999) reconhece a existência de diferentes formas de associação de trabalhadores (as), viáveis como forma de economia alternativa para a geração de trabalho e renda. Diferente por não se apresentar conforme a lógica do capitalismo, mas sim fundamentada nos princípios da cooperação, aqui

9 Para melhor compreensão dessa experiência, consulte: MELO NETO, José Francisco de. Usina Catende: para além dos vapores do diabo. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010.

compreendida como a existência de interesses e objetivos comuns, responsabilidades partilhadas no processo produtivo, partilha dos resultados obtidos pelo conjunto dos associados e plena união dos esforços e capacidades. Dessa forma, os trabalhadores (as) associados (as) podem recriar suas vidas, sem deixar de considerar os limites e contradições dessas novas experiências.

Entendemos que, o (re) surgimento desse fenômeno no Brasil, assim como em vários outros países, se deu a partir das crises e fragilidades do capitalismo que abriu espaços para novas formas de organização produtiva para a população “excluída dos direitos” e não excluídas “pelo mercado”. Afinal, todos (as) de certa forma estão incluídos (as) no mercado, uma vez que compram algo para sobreviver. (OLIVEIRA, 2000, p.89).

A seguir, mostraremos de forma detalhada, através de um quadro, as tipologias dos EES, ressaltando a diversidade de experiências que vêm sendo desenvolvidas no país na perspectiva da Ecosol.

Organizações Solidárias Atividades Econômicas Cooperativas

Associações Grupos informais

Redes Solidárias/de cooperação Clube de Trocas

Fundo Rotativo Bancos comunitários,

Empresas de Autogestão, etc.

Produção de Bens Prestação de Serviço

Créditos e Finanças Solidárias Comércio Justo

Consumo Solidário Trocas, etc

Quadro 1 - Tipologias dos Empreendimentos da Economia Solidária no Brasil Fonte: Pesquisa sobre Ecosol 2005

Como podemos observar, a Ecosol procura organizar-se como a concreta expressão de uma nova forma de produção e distribuição, grupos coletivos organizados de forma democrática reunindo trabalhadores (as) excluídos do mercado formal de trabalho, os quais passam a adotar uma identidade social e política quanto a forma de “fazer economia”, sendo os protagonistas e o principal segmento do movimento da Ecosol. (CHAVES & PINTO, 2007).

Assim a Ecosol passa a ser entendida como uma forma de integração desenvolvida para legitimar social e legalmente os que estão a margem da sociedade no país. Veja a seguir como a organização do Movimento da Ecosol vem se desenvolvendo na Paraíba, cenário de nossa investigação.

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