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CAPÍTULO 2 – A ESTRATÉGIA DE NEGÓCIOS NAS EMPRESAS E ECONOMIA

2.3. Economia Verde

A partir destes conceitos de estratégia e estes exemplos de tipos de estratégias, coloca-se agora um termo que está sendo bastante utilizado no mercado atualmente. A questão da economia verde. É importante fundamentar este ponto para que a inserção do tema da sustentabilidade na estratégia seja mais clara

O mundo precisa de uma nova economia. A maneira como se organiza hoje o uso dos recursos dos quais depende a reprodução social não atende os propósitos de favorecer a ampliação permanente das liberdades substantivas dos seres humanos, apesar da imensa e crescente prosperidade material (ABRAMOVAY, 2012).

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) lançou em 2008 a Iniciativa Economia Verde (GEI, da sigla em inglês) buscando levantar evidências sobre os riscos e custos sociais e econômicos gerados pelos atuais padrões de uso excessivo dos recursos naturais bem como destacar as oportunidades de uma transição para práticas mais sustentáveis. O objetivo central da iniciativa é apoiar o desenvolvimento de um plano global de transição para uma economia verde – que fosse dominada por investimentos e consumo de bens e serviços de promoção ambiental (PAVESE, 2011).

Entende-se por economia verde “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e as escassezes ecológicas”. Uma economia verde é aquela apoiada em três estratégias principais: (1) a redução das emissões de carbono, (2) uma maior eficiência energética e no uso de recursos e (3) a prevenção da perda da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Para se tornarem viáveis, essas estratégias precisam ser catalisadas e apoiadas por investimentos públicos e privados bem como por reformas políticas e mudanças regulatórias. Deve-se ainda buscar preservar, fortalecer e, quando necessário, reconstruir o capital natural como um ativo econômico crítico e fonte de benefícios públicos, especialmente para aqueles cujas vidas dependem intrinsecamente dos serviços advindos da natureza. O carro chefe da GEI é o desenvolvimento do relatório sobre economia verde, lançado em fevereiro de 2011, “Rumo à economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza”. O documento analisa aspectos macroeconômicos e questões ligadas à sustentabilidade e redução da pobreza relacionadas a investimentos em uma gama de setores desde energia renovável até agricultura sustentável. Espera-se que tais análises venham subsidiar a formulação de políticas que possam catalisar o aumento de investimentos nesses setores verdes. Além da produção de análises desse teor, a GEI fornece ainda serviços de consultoria para países e regiões, produzindo produtos de pesquisa bem como promovendo o estabelecimento de parcerias com uma ampla gama de atores,

incluindo a academia, organizações não governamentais, setor privado, entre outros, para a promoção e implementação efetiva de estratégias de economia verde.

Elaborado pelo PNUMA em parceria com economistas e especialistas mundiais, o relatório “Rumo à economia verde: caminhos para o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza” busca defender a proposição de que tornar economias verdes não implica necessariamente a redução do crescimento econômico e do nível de emprego. Ao contrário, tal transição permitiria fortalecer o crescimento através da geração de empregos decentes e consistiria em uma estratégia vital para a eliminação da pobreza. Espera-se que as evidências levantadas por esse estudo encorajam tomadores de decisão a desenvolver condições favoráveis para um aumento nos investimentos rumo a uma economia verde, com base em três estratégias principais:

1. Estimular uma mudança nos investimentos, tanto públicos como privados, buscando incentivar setores críticos à transição para uma economia verde;

2. Demonstrar como a economia verde pode reduzir a pobreza persistente através de uma ampla gama de setores importantes, incluindo agricultura, florestas, pesca, água e energia; e

3. Fornecer orientações sobre políticas que permitam essa mudança: através da eliminação de subsídios perversos, identificação de falhas de mercados, estabelecimento de marcos regulatórios ou estímulos a investimentos sustentáveis.

Conforme análise de Pavese (2011), o PNUMA coloca a agricultura, construção, pesca, silvicultura, abastecimento de energia, indústria, turismo, transportes, manejo de resíduos e água foram os dez setores avaliados pelo estudo e identificados como fundamentais para tornar a economia global mais verde. Para a transição desses setores para uma economia mais verde, em termos gerais, o estudo propõe a seguinte alocação de recursos:

- Imobiliário: US$ 134 bilhões a serem destinados a programas de eficiência energética.

- Energético: mais de US$ 360 bilhões.

- Pesca: US$ 110 bilhões, incluindo a redução de capacidade das frotas mundiais.

- Silvicultura: US$ 15 bilhões para o combate às mudanç as climáticas. • indústria: US$ 75 bilhões.

- Turismo: US$ 135 bilhões. - Transportes: US$ 190 bilhões.

- Gestão de resíduos: US$ 110 bilhões, incluindo reciclagem. - Água: um montante semelhante, incluindo saneamento básico.

Pavese (2011) coloca ainda que o relatório apresenta ainda resultados e recomendações por setores específicos, apontando as oportunidades setoriais geradas pela transição para a economia verde, incluindo a redução da pobreza, criação de empregos e fortalecimento da equidade social e manutenção e restauração do capital natural.

Almeida (2009), demonstra que existe um movimento da economia verde, e explica que as estratégias de mitigação e adaptação para o enfrentamento das mudanças climáticas globais apontam na direção de uma economia de baixo carbono. Aliadas ao sustentável dos demais serviços ambientais – como provisão de alimentos, fibras, água e recursos genéricos, entre outros, poderão levar o mundo à chamada economia verde. A economia verde caminha na contramão das práticas empresariais predominantes hoje, que competem por preço e não por qualidade (como vimos com os principais estrategistas neste documento), internalizam custos sociais e ambientais e buscam o menor preço para materiais fornecidos pela natureza e para o trabalho humano. Ou seja, a nova economia internalizará plenamente os custos sociais e ambientais ao precificar energia, matérias primas e insumos. Com isso, inviabilizará padrões insustentáveis de produção e consumo. Na economia verde não haverá lugar para, por exemplo, produtos para serem rapidamente descartados e substituídos, na crença, predominante hoje, de que isso

é bom para manter a roda da economia girando. A internalização de custos sociais e ambientais favorecerá a durabilidade dos bens que serão projetados para passar por consertos e atualizações.

Makower (2009) coloca que uma ironia da economia verde é que nas últimas duas décadas, enquanto os consumidores manifestaram tanto a ambivalência em direção à mudança dos seus hábitos de compras e o cinismo sobre a sinceridade das empresas em serem ambientalmente responsáveis, os produtos que compramos ficaram mais “verdes”, muitas vezes sem o conhecimento do público. A razão é que as empresas em cada setor estão continuamente melhorando sua eficiência, gastos em engenharia, melhoria na produção, menos gastos, processos de distribuição mais inteligente, entre outros. Muitas empresas aprenderam como entregar os seus produtos utilizando menos recursos e aumentando a produtividade. E consequentemente diminuindo o seu impacto no meio ambiente. Isto tudo porque faz sentido para o negócio.

Para o Instituto Ethos, em seu documento “Plataforma por uma economia inclusiva, verde e responsável” (2012), coloca que uma economia verde procura assegurar uma relação amigável entre os processos produtivos da sociedade e os processos naturais, promovendo a conservação, a recuperação e o uso sustentável dos ecossistemas e tratando como ativos financeiros de interesse público os serviços que eles prestam à vida. Esta economia deve caracterizar-se pela existência de investimentos públicos e privados, regras, instituições, tecnologias, políticas públicas, programas governamentais e práticas de mercado voltadas para:

• Melhoria permanente dos processos produtivos;

• Aumento da ecoeficiência e redução do consumo dos recursos naturais;

• Redução das emissões de gases de efeito estufa;

• Transformação de resíduos de um processo em insumo de outros; • Internalização dos custos das externalidades nos preços dos produtos; • Proteção dos mananciais, uso eficiente da água e universalização do

• Aumento da eficiência energética e ampliação das fontes limpas e renováveis nas matrizes energética e de transporte;

• Melhoria da mobilidade e da eficiência dos modais de transporte; • Recuperação e preservação dos ecossistemas; e

• Mitigação dos efeitos da mudança do clima.

Mas esta economia, segundo o Instituto Ethos, precisa também ser inclusiva, ou seja, os investimentos públicos e privados, as regras, as instituições, as tecnologias e os programas devem estar voltados também para o atendimento das necessidades e direitos de todos os seres humanos, sem o que não será possível construir ambientes sociais saudáveis para nenhuma atividade produtiva. A economia deve, portanto, promover o desenvolvimento equilibrado entre os capitais financeiro, humano, social e natural.

No documento, o Instituto Ethos coloca que faz parte desse propósito a distribuição equitativa da riqueza e das oportunidades para a geração de renda e acesso a bens e serviços públicos, assegurando condições de vida digna para toda a população, erradicando a pobreza e reduzindo as desigualdades sociais, o que requer a ampliação da participação da base da pirâmide no processo produtivo e no mercado de bens e serviços e a melhora na qualificação da força de trabalho e das relações trabalhistas, para que os direitos humanos sejam uma realidade para todo o conjunto da sociedade brasileira.

Além de inclusiva e verde, a economia deve ser responsável. É fundamental que sejam trabalhados também os valores éticos e de integridade paralelamente aos temas da economia verde e inclusiva. O desenvolvimento de valores éticos, cultura da transparência e mecanismos de combate à corrupção são indispensáveis para atingir os objetivos de uma economia inclusiva, verde e responsável.

Uma economia praticada segundo padrões éticos elevados implica: • Combate à corrupção e à impunidade;

• Valorização da integridade e da transparência; • Estímulo à concorrência leal;

• Estímulo à cooperação;

• Respeito aos direitos das diferentes comunidades, etnias e grupos sociais de se aproximar em seu próprio ritmo do estilo de vida contemporâneo.

Nesta economia, coloca o Instituto, a visão de sustentabilidade se completa pelo compromisso de não sobrepor os interesses privados aos interesses públicos e de manter esses padrões em quaisquer investimentos, estabelecendo relações éticas independentemente do nível das exigências locais.

A economia inclusiva, verde e responsável que se impõe ao mundo em razão dos desafios ambientais, sociais e éticos deve orientar-se pelos fatores estratégicos: valores e inovação. Precisa-se desenvolver os valores que darão suporte a atitudes que abram novos campos de visão, de produção de conhecimento e de comportamentos sustentáveis. Além disso, precisa-se estimular um maior investimento em pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, processos e relações mercantis e de produção, estimulando um ciclo de inovação na busca de sistemas sustentáveis de produção, distribuição e consumo de bens e serviços.

O Instituto Ethos ressalta os pontos principais das questões sociais, ambientais e econômicas, já citando as questões de sustentabilidade (que serão vistas no próximo capítulo) para explicar a economia verde, que precisa ser também inclusiva e responsável.

No documento final de 24 de julho de 2012, O Futuro que Queremos, resultado da Rio +20, realizado em junho de 2012 pela ONU, considera-se a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, como uma das importantes ferramentas disponíveis para alcançar o desenvolvimento sustentável, e que pode oferecer opções para formulação de políticas, porém não deve ser um conjunto rígido de regras. Ressalta-se que a economia verde deve contribuir para a erradicação da pobreza bem como o crescimento econômico sustentado, o reforço da inclusão social, melhorando o bem estar humano e a criação de oportunidades de emprego e trabalho digno para todos, mantendo o funcionamento saudável dos ecossistemas da Terra.

Dowbor (2011) coloca que nesta economia muitas coisas exigem que haja organização do serviço público e também das empresas e a mídia, em particular o sistema de publicidade, que precisa se reorientar para promover um consumo equilibrado e consciente, resgatando a sua capacidade informativa. Em outros

termos, trata-se de uma mudança cultural. Cada ato de compra, cada momento de utilização de um produto, deve nos levar a pensar em duas dimensões: se é bom para nós, sem dúvida, mas também se é bom para o conjunto da dinâmica social.

Estamos descobrindo que, apesar de nosso modo de pensar e viver não ser baseado nos paradigmas holísticos e de estarmos em meio a uma economia digital desumanizada, paralelamente nos movimentamos para o desenvolvimento de um senso de unidade e percepção do todo e, esperançosamente, para uma economia sustentável e solidária. Mas para que isso ocorra precisamos aprender novos meios para fomentar a confiança e a responsabilidade social e ambiental, o que significa que precisamos enviar esforços para desenvolver uma nova consciência e uma nova ética.” (GUEVARA; DIB, 2007)

A economia verde é uma nova forma de pensar o atual sistema que já está rodando faz algumas décadas. E neste novo paradigma as empresas precisam se preparar para seguir este conceitos que começam a sair do papel e ir para os fóruns internacionais, e logo mais serão políticas públicas. Para isso os conceitos de estratégia apresentados são fundamentais para a correlação com a economia verde, a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável. A teoria da administração nos mostra que a evolução de conceitos e pensadores é constante.

Entender a ligação entre a estratégia e o tema da sustentabilidade é fundamental, para isso é necessário ver a sustentabilidade como uma estratégia empresarial.

CAPÍTULO 3 –A SUSTENTABILIDADE NAS ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS NO

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