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4.3 Análises das Entrevistas

4.2.7 Ecossistema de Negócio de Seguros no Brasil

Os obstáculos culturais e o ambiente de negócio do ramo de seguros no Brasil são fatores que engessam o processo de desenvolvimento do setor. Analisando o material levantado percebe-se que na opinião de vários entrevistados algumas características como, por exemplo, o excesso de regulação limita o processo de inovação. Trata-se de um mercado marcado pela regulação. “Uma startup quer mudar tudo, chega o órgão regulador e manda fechar. Sandbox regulatórios25, os órgãos reguladores nos EUA e Europa, pequenas áreas para eles operarem, espaço controlado. Um pedaço de inovação, mas com regras”, diz o Assessor de Diretoria de Órgão Regulador (Entrevistado 4). Ele defende o uso de ―Sandbox regulatórios‖ como uma forma de se ter mais flexibilidade para inovar em um ambiente tão regulado.

Segundo o Analista de Insurtech de Seguradora Nacional:

“Os órgãos reguladores precisam se modernizar, isso atrasa o desenvolvimento das seguradoras. Algumas regras são muito subjetivas e dão margem para duplo sentido. O presidente e diretoria dão apoio para quebrar a burocracia e processos, para acelerar, uma interação mais rápida, com foco no cliente. Eles acreditam na loja online, uma relação mais próxima com o cliente” (Entrevistado 9).

25

Esse regime consiste em uma autorização temporária dada pelos reguladores financeiros para que empresas inovadoras (selecionadas por meio de um processo seletivo) sejam autorizadas a conduzir seus negócios dentro de um regime regulatório mais flexível, desde que obedeçam a parâmetros previamente acordados junto ao regulador. Há, aqui, um desconto regulatório para empresas que, devido a seu estágio inicial, não teriam porte para cumpriras exigências regulatórias aplicáveis aos provedores de serviços financeiros clássicos (COUTINHO FILHO, 2018, p. 266).

De acordo com o Gerente de Compliance de Seguradora Brasileira:

“Aqui no Brasil somos mais reguladores do que lá fora, lá conseguimos contratar seguro de 1 dia. Na Europa se confia mais nas pessoas, aqui não. Aqui temos a impunidade, lá tem a certeza do benefício. A confiança lá fora é maior” (Entrevistado 3).

A partir da Lei no 4.594/64 do ano de 1964 e o Decreto-Lei no 73/66 de 1966, as vendas de seguros seriam intermediadas pelo corretor. A Lei e o Decreto são de anos em que a realidade das operações de negócio não contava com tanta tecnologia e velocidade para comunicação e operação de venda. Por anos, os corretores de seguros tiveram papel muito importante para ajudar as seguradoras na divulgação dos produtos ou serviços e auxiliar o cliente em escolher a melhor proposta para sua realidade, além de, realizar o pós-venda (BELLI, 2018). Com o surgimento da internet, os canais de comunicação com o cliente se expandiram e não se limitam mais a figura de um intermediador, no caso de seguros, os corretores.

Observou-se também menção a ameaça que o processo de inovação tecnológica representa para o corretor de seguros.

De acordo com Assessor de Diretoria de Órgão Regulador:

“A federação dos corretores e o mundo novo? A internet está colocando medo neles os chamados seguros massificados não precisam mais de corretores, é uma profissional em ameaça. Hoje em dia conversa tudo com a seguradora, não precisa de corretores, a internet ajuda com tudo” (Entrevistado 4).

O uso da internet está se tornando cada vez mais importante, fato esse que fez com que em 2017, houvesse a publicação da Resolução CNSP 359/2017 que, trata da permissão de uso de meios remotos para realizar contratos e pós-venda de seguro e de previdência.

O modelo de negócio dos seguros no Brasil é ditado, em sua maioria, por leis antigas que se baseiam em um cenário que não prevê o uso de tecnologias digitais. Cenário este que está mudando, mas não na velocidade para atender as necessidades do cliente e as tendências de outros mercados.

5 CONCLUSÃO

Neste trabalho analisou-se a percepção das pessoas no contexto de transformação digital dentro de seguradoras no Brasil.

Esse setor foi selecionado por ser fortemente marcado pela regulação, um canal de vendas muito centrado na figura do corretor, fortes investimentos em inovação tecnológica e em novos modelos de negócio, e pelo fato de o futuro do setor estar caminhando para o omnichannel.

Para entender como as empresas de seguro brasileiras estão se preparando para esse processo foram feitos inicialmente estudos bibliográficos, os quais

abordaram os temas de transformação digital, seguros, regulação, omnichannel,

empoderamento de equipe, Lean, agilidade, inovação, dados, Big Data, analytics e inteligência artificial, obtendo-se uma visão geral do cenário atual. Com base nestes estudos, foi possível elaborar um questionário com questões chave sobre a transformação digital no ramo de seguros.

Seguiu-se então uma pesquisa de campo na qual foram consultados técnicos de diferentes perfis, níveis de responsabilidade e empresas. O objetivo dessa consulta foi capturar o grau de entendimento e atualização dos participantes com relação aos temas Pessoas, Inovação, Agilidade, Soluções e Dados. A partir da análise das respostas foi possível compreender que pessoas em diferentes cargos possuem diferentes percepções sobre a Transformação Digital. Não-Gestores, Alta Gestão e Média Gestão possuem percepções diferentes de como realizar a gestão das pessoas dentro da empresa. Enquanto no fator Inovação, a diferença está apenas entre a Média e a Alta Gestão. Grande parte dos respondentes afirma sentir- se confortável em expor a opinião aos pares e superiores, o que demonstra que as empresas se importam com a opinião do funcionário, independente da hierarquia.

Ainda de acordo com o questionário, pode-se perceber que os temas Inteligência artificial, machine learning, uso de dados e analytics precisam ser melhores trabalhados na comunicação e entendimento dentro das seguradoras. Pois, mesmo tendo estudos avançados e investimentos, muitos funcionários da mesma empresa possuem percepções diferentes sobre o tema.

Visando preencher essas lacunas identificadas decidiu-se então por um aprofundamento em relação às estratégias que vêm sendo levadas a cabo pelas

empresas de seguros. Com esse propósito, foram selecionados para entrevistas aprofundadas tomadores de decisão e influenciadores do setor.

Este estudo das seguradoras brasileiras possibilitou compreender que a evolução tecnológica no setor de seguros é evidente e real. Porém, a tecnologia é apenas uma ferramenta para ajudar nos processos e atividades das pessoas que trabalham nas seguradoras, ela por si só, não gera a transformação digital desejada, depende de outros fatores, como a necessidade de mudança de cultura e desenvolvimento dos funcionários das seguradoras, conforme identificado por meio deste trabalho. Os funcionários das empresas de seguros precisam se capacitar mais na área tecnológica, fator que deve ser interesse do funcionário e da empresa, ambos precisam se conscientizar do desenvolvimento tecnológico necessário para o crescimento da empresa. Não são apenas os funcionários de TI que devem estar capacitados para atender aos clientes, cada vez mais utilizadores de novas tecnologias. Os conhecimentos em tecnologia já deixaram de ser uma área dentro das organizações, para serem pré-requisitos para qualquer profissional que deseja manter-se ativo no mercado de trabalho. Esses funcionários, em sua maioria, estão dispostos a se desenvolver e atualizar, porém, as seguradoras precisam se preparar para ajudar esses funcionários sendo mentores dessa jornada de desenvolvimento.

Diversas seguradoras estão se movimentando, porém, seus movimentos ainda estão muito focados apenas na tecnologia em si. Sem pessoas devidamente preparadas e processos bem definidos, a tecnologia não fará nada por si só, será um investimento vazio. Se os diversos canais de comunicação com o cliente não o atenderem em suas expectativas, qualquer investimento em tecnologia será em vão.

Os principais entraves identificados na pesquisa para as seguradoras implantarem a transformação digital são a educação tecnológica para os funcionários, a integração dos canais de vendas e a regulação baseada em modelos de negócios em processo de extinção. No entanto, as principais facilidades identificadas foram a capacidade tecnológica disponível, os ecossistemas de inovação e o acesso a dados.