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A edição do filme é um dos processos mais importantes para a criação dele. É aqui que os diretores direcionam o seu olhar através de todo material captado. É uma tarefa complexa, já que exige um trabalho minucioso de percepções sobre as histórias expressas pelas personagens, que no caso do filme documental, são reais. Para a edição das filmagens, utilizamos o programa Adobe Premiere Pro, que é um dos melhores e mais completos programas do mundo para edições profissionais. Coletamos no total pouco mais de três horas de gravação. E posteriormente, assistimos tudo o que foi gravado, várias vezes, para ter uma visão ampla do todo.

Feito isso, foi necessário criar blocos de “temas’’ que apareceram nas narrativas de cada uma, para iniciar a montagem de uma linha de tempo coerente com aquilo que se desejava ligar entre uma história e outra. Elaborei um organograma para organizar os temas centrais:

 Apresentação (nome, idade, de onde veio/nasceu)

 Família (relações familiares com a mãe, pai, irmãos)

 Trabalho e/ou Estudos

 Maternidade (para aquelas que são mães)

 Feminismos (resistências do cotidiano enfrentadas por serem mulheres)

 Sonhos

Que depois foram colocados em pastas com o nome de cada área. Durante a decoupagem (corte) inicial, fizemos o corte baseado nesse organograma de temas gerais.

E mais uma vez, assistimos diversas vezes os blocos de cada temática para ir delineando o que seria selecionado de cada narrativa. Atividade difícil, e ainda mais detalhista. Foi feita uma descrição dos pontos que achei mais interessante para conectar com as outras histórias e direcionar um sentido coeso, sem perder a sensibilidade e as poéticas marcantes expressas por cada mulher. Foram dias pensando, em como iria escolher dentre tantos detalhes emocionantes, o melhor de cada história, pois são histórias dentro de histórias que entre um corte e outro resultará em uma grande história coletiva, que traz as peculiaridades de cada mulher e ao mesmo tempo compõem um imaginário de mulheres que narram suas histórias de vidas através dessa cidade do sudeste goiano. Elas mostram traços de uma Catalão, cidade do interior de Goiás, com nuances socioculturais e políticas marcantes.

A entrevista coletada não é editada na mesma ordem que foi filmada e nem com a mesma sequência das mesmas. Tudo é modificado e pensado a partir de um olhar, uma interpretação que a direção vai ter sobre aquela realidade. É de uma responsabilidade muito grande ser o fio condutor de histórias que não são minhas, mas que me foram confiadas para direciona-las ao público através da minha sensibilidade com as narrativas encontradas.

É uma linha de trabalho minuciosa de cortes, sonorização, planos sequenciais, ordenar e ajustar elementos técnicos, narrativas até alcançar o resultado desejado. Foi um momento desafiador, delicado e mágico, pois a composição é um tanto quanto imprevisível, cada segundo das narrativas captadas fazem a diferença nas reflexões que serão apontadas e como isso virá a público.

Diante das narrativas apresentadas e a quantidade de informações a serem colocadas, o melhor formato para a película foi como um longa-metragem. Dentro dos parâmetros do Brasil, o filme longa metragem precisa ter ao menos setenta minutos de duração, suprindo então as necessidades do projeto. Toda a produção do documentário se desenvolveu ao longo de um ano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação do documentário Entre Elas, um filme independente, foi fruto de muita pesquisa, algumas vivências na área, apoio de amigas e amigos e persistência, pois é um fazer repleto de desafios. Através de sua produção, fazendo um filme na prática, ficou evidente que é possível sim, mulheres fazerem cinema, mesmo sem orçamento ou com um orçamento mínimo. Ter um projeto bem delineado e contar com colaboradoras e colaboradores nesse sentido é fundamental para que seja viável sua realização, o cinema é feito por várias pessoas.

É de fundamental importância um cinema realizado por mulheres, desde a direção a produção, para que mais filmes nasçam sob a ótica do olhar e experiências do mundo feminino.

O cinema ainda é um espaço predominante masculino, a diferença de gênero é muito alta, e mesmo sendo um cenário crescente para as mulheres, é preciso muita luta e união para que mais políticas públicas específicas sejam aplicadas para mudar esse panorama e incluir cada vez mais mulheres nos setores audiovisuais, nas mostras e festivais de cinema para garantir efetivamente a equidade.

O documentário é um exemplo de como a representatividade e protagonismo de mulheres no cinema se faz necessária e se tornará referência para que outras mulheres se inspirem a fazer cinema e também compartilhar suas histórias com outras mulheres.

Por meio da linguagem audiovisual o Ensino de História poderá utilizar o documentário para sensibilizar os educandos para problemas sérios de gênero ausentes na maioria das políticas públicas e servir como uma poderosa ferramenta didática para educadores na formação ética e cidadã do alunado bem como da comunidade local.

A narrativa de mulheres por meio do filme documental é uma forma de empoderamento dinâmica e universal, pois a imagem é capaz de chegar a muitas pessoas diferentes e ampliar o olhar de quem o assiste, levando novas perspectivas para suas respectivas realidades.

Conscientizar através da fala mútua pelo compartilhamento de histórias por meio da película fílmica traz para além da reflexão, todo o encantamento do cinema e sua capacidade de educar pela sensibilidade, com as emoções e sonhos utópicos e destópicos por uma sociedade mais justa e igualitária para todas e todos.

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