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Elisangela Argenta Zanatta

Denise Antunes de Azambuja Zocche

Cheila Karei Siega

Ingrid Pujol

INTRODUÇÃO

Contar a história da inserção teórica e prática do Processo de Enfermagem (PE) nos serviços de saúde da atenção básica e hospitalar de Chapecó, Estado de Santa Catarina, coloca em foco as práticas docentes, investigativas e extensionis- tas de enfermeiros que vislumbram a proposta de implantação e implementação do PE em pontos das Redes de Atenção à Saúde da cidade e região.

O ensino e a implementação do PE, na última década, têm sido foco de estudos dos grupos de pesquisa e críticas por parte dos serviços de saúde brasi- leiros, colocando em pauta as nuances entre a teoria e prática e a efetivação da integração entre ensino e serviço.

Iniciativas, como as do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), que deliberam aos conselhos regionais a demanda em fazer cumprir a obrigatorie- dade determinada pela Resolução n. 358/2009 quanto à realização do PE em serviços públicos ou privados onde se executam ações de enfermagem1 vêm

contribuindo para a implantação e implementação do PE nos diversos cenários da assistência de enfermagem.

Essas deliberações do sistema COFEN induziram mudanças nas instituições de saúde e ensino superior (IES) na região Oeste de Santa Catarina. Cabe desta- car que na cidade de Chapecó conta-se com três Instituições de Ensino Superior (IES) que oferecem cursos de graduação em enfermagem, nos quais as práticas de ensino, pesquisa e extensão são desenvolvidas. Destaca-se que o Hospital Regional do Oeste (HRO), que recebe estudantes destas IES e se caracteriza por ser referência na região e no estado, atualmente busca credenciamento junto ao Ministério da Educação (MEC) para tornar-se hospital de ensino.

O HRO busca avançar, portanto, suas ações além do campo de práticas de atividades curriculares na área da saúde, pois os hospitais-escola caracterizam-se pela referência na qualidade da atenção em nível hospitalar, na formação dos profissionais, no estímulo à pesquisa, no desenvolvimento e na gestão de tecno- logias em saúde. E, do mesmo modo, no estímulo à educação permanente em saúde para os profissionais já atuantes, mediante critérios específicos de seleção definidos para tal credenciamento, pautados nos eixos integradores de gestão, assistência, ensino e pesquisa.2

As atividades de ensino, pesquisa e extensão vêm sendo desenvolvidas ao longo dos anos 2000 em parceria com o HRO. Nesse contexto, o estabelecimen- to desta parceria foi fruto de trabalhos conjuntos realizados a partir dos debates que aconteceram nas Semanas de Enfermagem anuais que historicamente são realizadas em parceria com as três IES da cidade, instituições do serviço, além de escolas de formação técnica em enfermagem.

Desses encontros, um tema sempre era recorrente: o ensino do PE e a arti- culação das IES com o HRO para qualificar a prática assistencial dos enfermei- ros nos serviços de saúde, no que diz respeito à operacionalização de todas as etapas do PE. Nesse sentido, houve um interesse recíproco de docentes das IES em desenvolver ações que auxiliassem o HRO a implantar e implementar o PE. As ações foram desencadeadas gradativamente. Uma delas foi de suma importância para o processo de implantação e implementação: a criação da Co- missão do Processo de Enfermagem (COMPEnf) da Associação Lenoir Vargas Ferreira (ALVF). Integram a COMPEnf representantes do segmento ensino das três IES (docentes com expertise nos aspectos que envolvem o PE), represen- tantes da gestão (enfermeiro gerente de enfermagem e da Educação Permanente

em Saúde) e representantes da assistência (enfermeiros coordenadores de uni- dades). Destaca-se a representação da gestão e da assistência dos três hospitais que compõem a associação.

A COMPEnf foi constituída com o objetivo de estudar, discutir, analisar e qualificar a assistência de enfermagem prestada aos usuários da ALVF. Salienta-se ainda o importante papel de reciclar saberes e práticas do cotidiano dos profissio- nais de enfermagem a partir das necessidades que emergem das rodas de conversa, instrumentalizando-os com vistas à qualidade e segurança no cuidado prestado.3

Diante do exposto, pode-se afirmar que a implantação e implementação do PE no HRO toma forma e força com a criação da COMPEnf, pois até então os movimentos eram pontuais e relacionados a atividades de pesquisa e exten- são. A partir da institucionalização da comissão, que tem caráter permanente, somam-se quatro anos de trabalho contínuo.

Concomitante a essa iniciativa que culminou na materialização tão ense- jada da implantação/implementação do PE na atenção hospitalar, no âmbito da atenção primária, no ano 2017, se deu início ao Mestrado Profissional em Enfer- magem na Atenção Primária à Saúde (MPEAPS) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) que tem por objetivo aprimorar as práticas avançadas de enfermagem, no âmbito clínico e gerencial, para atuação na rede de atenção primária à saúde, com vistas à consolidação do sistema de saúde vigente, na ló- gica da promoção da saúde.

No âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) de Chapecó e região, os mo- vimentos centram-se na implantação do PE, por meio da consulta de enfermagem e em interface com a construção e ou reformulação dos protocolos assistenciais. Esse movimento envolveu mestrandas e docentes do MPEAPS, acadêmicos da graduação em enfermagem, enfermeiros assistenciais e gestores da APS em ações que integram o ensino e o serviço, a exemplo da experiência hospitalar.

A integração ensino-serviço pode ser entendida como o trabalho desenvol- vido coletivamente, pactuado e interligado entre as IES, pelos docentes e estu- dantes, e entre os serviços de saúde, neste caso com os trabalhadores e gestores, os quais primam pela qualidade da atenção à saúde aplicada aos usuários, pela qualidade da formação dos futuros profissionais e desenvolvimento dos traba- lhadores destas instituições.4 Nesse sentido, a integração ensino-serviço estimula

de saúde e doença vivenciadas pela população, estimulando a consciência crítica e reflexiva sobre as situações.5

É importante, ainda, para o processo de ensino e aprendizagem, que todos os atores envolvidos estejam abertos ao diálogo e às trocas, estimulando as inte- rações para que os estudantes se percebam como sujeitos ativos do processo de construção de conhecimento, os docentes possam articular o arcabouço teórico- -prático deste processo e os enfermeiros assistenciais consigam contribuir no suporte e incentivo à realização das atividades, criando espaços potencias para o aprendizado mútuo.6

Frente ao exposto, observa-se que muitas iniciativas culminam numa efeti- va articulação entre a teoria e prática, no que tange ao ensino do PE, bem como permitem aos profissionais dos serviços o acesso a estratégias de aperfeiçoamen- to de uma prática que assertivamente torna-se melhorada com base na relação academia e serviço, resultando em profícuas ações de saúde.

O objetivo deste capítulo, portanto, é contextualizar o desenvolvimento do Processo de Enfermagem em Chapecó e região, evidenciando a interlocução entre o ensino e o serviço na atenção hospitalar e na atenção primária à saúde.

O DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE