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A Universidade pública está inserida num cenário mundial marcado por grandes e profundas mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais. Tais alterações obrigam a universidade a atender diversas demandas externas, colocando em crise a idéia clássica de universidade fundada na noção de universalidade, na produção do conhecimento desinteressado e livre de determinantes externos. Não defendemos que a universidade deva ficar presa às teias do passado, ela deve acompanhar as mudanças, mas não deve perder de vista a sua capacidade de crítica e autocrítica.

Percebemos claramente as consequências dessas mudanças, principalmente, as econômicas, sustentadas pela onda da globalização, nas formas de conceber o Estado, o qual passou de Estado de Bem-estar social e provedor, para atuar como Estado de controle. Nesse caso, o mercado passou a determinar as demandas sociais, econômicas e políticas, passando o Estado a controlar o atendimento às demandas do mercado e, para isso, implantou as Políticas de Avaliação. Podemos citar como exemplo da prática do Estado Avaliador, as Políticas de Avaliação implantadas em todos os níveis de ensino: na Educação Básica está implantada o Provinha Brasil, o Prova Brasil, o SAEB e o ENEM e, na Educação Superior, o SINAES.

A preocupação do Estado em implantar mecanismos de avaliação foi estimulada por organismos internacionais. Segundo Peroni (2003, p. 110), “quase todos os últimos acordos assinados entre o Brasil e o Banco Mundial tiveram um componente de avaliação educacional, visando verificar a efetividade das ações geradas nos Projetos.”.

Outro aspecto que influenciou a iniciativa de implantação das Políticas de Avaliação institucional em nosso país foi o contexto da redemocratização. A Constituição de 1988 firmou princípio segundo o qual “quanto mais democrática a sociedade, mais necessárias seriam as avaliações que tomassem como parâmetro de desenvolvimento não só o nível de atendimento, mas também a qualidade dos

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serviços essenciais oferecidos à maioria da população.” Com a aprovação da LDB (Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996) a avaliação passou a ser obrigatória e, desde então, os municípios e Estados têm de se preocupar com ela.

Na Educação Superior, outro grande motivo que levou o Estado a implantar as Políticas de Avaliação foi a expansão desordenada dos cursos superiores, no final dos anos 1990 e inícios dos anos 2000. Esse crescimento desordenado acabou levando à queda progressiva dos padrões de qualidade dos cursos, portanto, foi necessário buscar medidas que garantissem, para todos, um ensino superior que atendesse aos padrões mínimos de qualidade. Nesse sentido, foi necessário implantar as Políticas de Avaliação da qualidade. Assim, as Políticas de Avaliação surgiram com o objetivo de buscar a qualidade dos serviços prestados à sociedade.

As iniciativas de avaliação para a Educação Superior surgiram desde 1977, com a avaliação do Sistema de Pós-Graduação desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Em 1983, o Ministério da Educação criou o Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU) que, segundo Leite, vigorou até 1986. Em 1985 é criado o Grupo de Estudos para a Reforma do Ensino Superior (GERES), que propõe um Programa de reformulação do ensino superior. Mas a efervescência da avaliação só acontece no início dos anos de 1990.

Em 1993 surgiu o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB), elaborado pela comunidade acadêmica e legalmente viabilizado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Nesse Programa, a UNEMAT se insere no contexto da Política de Avaliação, quando em 1994 atendeu à carta convite do MEC e elaborou seu primeiro projeto de avaliação institucional, mas este só foi aprovado em 1997, depois de atender às reformulaçòes solicitadas pelo MEC. Desde então, a UNEMAT desenvolve o seu processo de autoavaliação, inicialmente como Programa de Avaliação Institucional da UNEMAT (PAIUNEMAT).

Em 1995, foi implantado o PROVÃO (Exame Nacional de Cursos). Ainda nessa mesma época tivemos o início da avaliação dos cursos que, no primeiro momento, recebeu o nome de Exame das Condições de Oferta. Em 1996 foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação que, no Capítulo IV (Da Educação Superior), art. 46, consolida a avaliação enquanto controle, quando legalmente atrela a autorização e os reconhecimentos da instituição e dos cursos a um processo regular de avaliação.

Em 2003, foi construída a proposta de avaliação que está em vigor atualmente: O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), a seguir destacamos os pontos fundamentais deste Sistema.

O SINAES foi instituído como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior pela Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004, com o objetivo de assegurar

Os processos de avaliação instituídos na Educação Superior e os processos de tomadas de decisão: significados, sentidos e efeitos • 349

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o processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico dos estudantes, nos termos do art. 9º, VI, VIII e IX, da LDB - Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

O SINAES integra três modalidades principais de instrumentos de avaliação: 1- Avaliação das Instituições de Educação Superior (AVALIES) – é o centro de

referência e articulação do sistema de avaliação que se desenvolve em duas etapas: autoavaliação – coordenada pela CPA de cada Instituição; avaliação externa – realizada por comissões designadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais – INEP, segundo diretrizes estabelecidas pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES). 2- Avaliação dos Cursos de Graduação (ACG) – incluem visitas in loco de

comissões externas. A periodicidade desta avaliação depende diretamente do processo de reconhecimento e renovação a que os cursos estão sujeitos. 3- Avaliação do Desempenho dos Estudantes - Exame Nacional de Avaliação

do Desempenho dos Estudantes (ENADE) – aplica-se aos estudantes do final do primeiro e do último ano do curso, estando prevista a utilização de procedimentos amostrais.

Na proposta do SINAES estão descritos como princípios fundamentais: a responsabilidade social com a qualidade da educação superior; o reconhecimento da diversidade do sistema; o respeito à identidade, à missão e à história das instituições; a globalidade, isto é, a compreensão de que a instituição deve ser avaliada a partir de um conjunto significativo de indicadores de qualidade, vistos em sua relação orgânica e não de forma isolada, e continuidade do processo avaliativo. Esses princípios nos levam a afirmar que a proposta do SINAES tem sustentação teórica nos princípios da participação, retomando os princípios do PAIUB.

O Processo de Avaliação Institucional implantado pelo SINAES e os