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CAPÍTULO 2 – LEITURAS E ESCOLHAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS

2.2 Educação Ambiental

Nas últimas décadas do século XX surge a emergência da questão ambiental, no viés global e local. Logo aparece a educação ambiental com a finalidade de colaborar na transformação do padrão de degradação sócio ambiental vigente. A escola foi um dos primeiros espaços a absorver esse processo de educação ambiental, recebendo sua cota de responsabilidade para melhorar a qualidade de vida da população conforme atesta a pesquisadora Segura (2001). E como a escola se configura em uma instituição que faz parte da conjuntura sociopolítica, a educação ambiental se inseriu, refletindo-se nas práticas dos educadores, que desenvolvem suas atividades a partir de referenciais teóricos os mais variados possíveis (TAMAIO, 2002).

A temática ambiental é entendida por muitos educadores como um dos grandes referenciais de mudanças no campo da educação. Reigota (1998) citado por Tamaio (2002), ao discorrer sobre os desafios da educação ambiental escolar, assinala que:

A Educação Ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque refere ser a tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas (p. 14).

No entanto, a educação ambiental, pelo que se constata, vem sendo implantada e desenvolvida nas escolas quase que exclusivamente sob suas dimensões naturais e técnicas (TAMAIO, 2002).

Assim, constata-se que essa ação educativa se apresenta fragilizada em suas práticas pedagógicas, à medida que tais práticas não se inserem em processos que gerem transformações significativas da realidade vivenciada. Nesse caso, a educação ambiental pode estar a serviço da reprodução das condições sociais atuais segundo as reflexões apresentadas por Guimarães (2004). Para Antunes (2004), a EA baseia-se em uma prática de educação para a sustentabilidade, sendo a tradução das relações humanas com o ambiente. É também um processo contínuo de ajuda ao ser humano na identificação dos sintomas e das causas reais dos problemas ambientais. Procura ainda desenvolver conhecimentos, aptidões, atitudes, motivações e a disposição necessária para o trabalho individual e coletivo na busca de soluções.

Já para Morales (2004), a EA é a condição básica para alterar um quadro crítico, perturbador e desordenado recheado de crescente degradação sócio-ambiental, mas que só ela não é suficiente para tanto. Portanto, não deve ser vista como o único caminho a ser trilhado, mas um importante caminho, de mediação entre a relação sociedade e natureza, buscando construir uma sociedade sustentável que privilegie a racionalidade e o saber sócio-ambiental. Na concepção de Medina (1999), a Educação Ambiental visa a construção de relações sociais, econômicas e culturais capazes de respeitar e incorporar as diferenças, como por exemplo, minorias étnicas, populações tradicionais, assim como a perspectiva da mulher e a liberdade para decidir entre os caminhos alternativos de desenvolvimento sustentável, sempre respeitando os limites dos ecossistemas, que são substrato de nossa própria possibilidade de sobrevivência como espécie.

Segundo Philippi (2001), a Educação Ambiental deve buscar valores que conduzam a uma convivência harmoniosa das espécies que habitam o planeta com o meio ambiente. É preciso considerar que a natureza não é fonte inesgotável de recursos e suas reservas são finitas, devendo ser utilizadas de maneira racional, evitando-se o desperdício e considerando-se a reciclagem como processo vital. As demais gerações merecem nosso respeito, sendo a manutenção da biodiversidade fundamental para a nossa sobrevivência. Nova contribuição neste sentido está presente no alerta de Brugger (2004), que faz a importante observação de que a educação ambiental poderá resultar em mero adestramento caso a questão ambiental seja tratada sob enfoques estritamente naturais ou técnicos. Ele diz:

As instituições de treinamento de docentes e as escolas públicas têm, historicamente, se omitidas em seu papel de educar os docentes como intelectuais. Em parte, isto se deve à absorção da crescente racionalidade tecnocrática que separa teoria e prática e contribui para o desenvolvimento de formas de pedagogia que ignoram a criatividade e o discernimento do professor (BRUGGER, 2004, p.41).

Devido a esse caráter, a educação ambiental não pode ser exclusividade da disciplina de ciências, é imprescindível que educação ambiental ocorra de forma interdisciplinar, de modo a oferecer uma perspectiva global da realidade em seus aspectos sociais, históricos, geográficos, matemáticos, de línguas, da experiência corporal, da filosofia, etc. (DIAS, 2004). Para a UNESCO,

A educação ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais, presentes e futuros (UNESCO, 1987).

Também a educação ambiental deve ser analisada levando em consideração a ação do homem como sujeito social, responsável pelos seus atos. A construção desse processo deve ser iniciada desde a infância, pois, como afirma Figueiredo (2006):

No ensino da educação ambiental infantil, é necessário ter, como um pressuposto inicial, a criança como um sujeito epistêmico, que se constitui permanentemente nas relações que estabelece com o mundo, com o outro e consigo mesmo. Sujeito capaz de práxis transformadora, de extrair sentido de suas ações e, conseqüentemente, produzir teorias acerca delas. Encontra na relação com o mundo por meio da práxis sua continua transformação em

“ser mais”. Dessa maneira, carrega o dom de ser capaz, de transformar, de

revolucionar (FIGUEIREDO, p. 32, grifo do autor).

Portanto, a educação ambiental está de tal forma relacionada na dinâmica da sociedade que exige uma tomada de posição crítica e militante, sob pena de se desenvolverem algumas práticas educativas que, mesmo bem-intencionadas, revelarão posturas políticas conservadoras. Logo, o que se pretende e propõe à práxis educativa é um projeto crítico emancipatório de educação ambiental, que pode ser mediado pelos elementos conceituais da gestão ambiental.

Para tanto, Loureiro afirma que:

A Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza (2002, p. 69).

Portanto, a Educação Ambiental pode ser entendida como um processo participativo, no qual o educando assume o papel de elemento central do processo de ensino/aprendizagem pretendido, participando ativamente do diagnóstico de problemas ambientais buscando as suas soluções, sendo preparado como agente transformador das atuais condutas populares, através do desenvolvimento de habilidades e da formação de atitudes, ou através de uma conduta ética condizente ao exercício da cidadania (SOUSA, 2007). Nesta temática (exercício da cidadania), a EA constituiu-se em uma forma abrangente de educação, cuja proposta visa atingir todos os cidadãos, com um processo pedagógico e participativo permanente, procurando incutir ou suscitar no educando uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução de problemas ambientais (SOUSA, 2007), criteriosamente em correspondência com a realidade da pesquisa.