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2 TURISMO E GESTÃO

2.3 Educação ambiental no turismo

Uma das atividades que possibilita as mitigações dos impactos socioambientais negativos é o ecoturismo, buscando a sensibilização de seus praticantes e da comunidade local por meio da educação ambiental (PELICIONI; TOLEDO, 2010).

A educação ambiental associada ao ecoturismo se dá pela interpretação da paisagem, que o meio oferece, sendo muito comum o uso de trilhas ecológicas onde o processo de construção do conhecimento possibilita que o turista através do contato direto como o meio ambiente natural construa os conhecimentos necessários sobre a fauna, a flora e sua relação como o homem para a devida proteção deste meio, não deixando de fora desta interpretação os recursos hídricos e geológicos.

A educação ambiental é um dos aspectos mais importantes para a transformação do pensamento do ser humano e busca um equilíbrio entre o meio natural e o social visando uma vida de qualidade através do saber ambiental.

Na visão de Mendonça (2005), a educação ambiental (EA) busca libertar o ser humano de si mesmo, onde os laços culturais e familiares são impedimento para uma nova experiênc ia de equilíbrio ambiental, e visa uma mudança de atitude rompendo com a educação reprodutiva. Este equilíbrio só pode ser alcançado através da reformulação das relações inter e intrapessoal. No entendimento do mesmo autor o ser humano precisa tomar uma postura crítica “para modificar as bases culturais nas quais nossa sociedade foi moldada” (MENDONÇA, 2005, p.159).

Já Gonçalves (1990 apud PELICIONI, 2005, p.353) expõe que “o modo de ser, de produzir e de viver dessa sociedade é fruto de um modo de pensar e agir em relação à natureza e aos outros seres humanos que remonta a muitos séculos”. A formação do intelecto do ser humano é influenciada por valores socioculturais condicionados à compreensão da aprendizagem às práticas sociais, pois, “para que a educação ambiental se efetive, é preciso que conhecimentos e habilidades sejam incorporados e que, principalmente atitudes, sejam formadas a partir de valores éticos e de justiça social, pois são essas atitudes que predispõem à ação” (PELICIONI; PHILIPPI JR, 2005, p.6).

Pelicioni e Philippi Jr (2005, p.6) defendem que “como prática democrática a educação ambiental prepara para o exercício da cidadania por meio da participação ativa individual e coletiva considerando os processos socioeconômicos, políticos e culturais que a influencia m”. Desta forma, as ações voltadas a conservação e preservação do meio capacitam homens e

mulheres, representantes da camada social sem interesse políticos, a atuarem ativamente na elaboração das políticas públicas, criando uma esfera democrática, onde o exercício de seus direitos e deveres torna essa esfera possível.

A educação ambiental proposta em 1997 pela Conferência Internacional Ambiente e Sociedade - Educação e Sensibilização do Público para a Sustentabilidade, na Grécia, - possuiu um caráter voltado à sustentabilidade englobando além do meio ambiente natural, “a pobreza, a habitação, a saúde, a segurança alimentar, a democracia, os direitos humanos e a paz” (PELICIONI; PHILIPPI JR, 2005, p.7) respeitando o mundo multicultural. Desta forma, a EA passa a ser uma base sólida do paradigma da sustentabilidade.

A educação ambiental através de sua capacidade crítica deve formar homens e mulheres aptos ao pleno exercício da cidadania. Para Pelicioni e Philippi Jr (2005, p.10)

Somente por meio da Educação ambiental desenvolvida a partir de bases políticas, conceituais, filosóficas e ideológicas como aqui abordadas, e que poder-se-á novas e positivas formas de abordagem e de planejamento para o processo de desenvolvimento local e nacional com sustentabilidade.

Henrique Leff (2009) defende que a educação ambiental assumiu outros pilares que renova os ideais de outrora, ressaltando que apenas ações de conscientização e capacitação profissional não são eficazes, pois é preciso que a educação esteja baseada nos princípios de democracia, sustentabilidade ecológica, diversidade cultural e equidade. Estes princíp ios reorientam o processo que envolve a educação ambiental no sistema, pois “o saber ambienta l problematiza assim o conhecimento para refuncionalizar os processos econômicos e tecnológicos, ajustando-os aos objetivos do equilíbrio ecológico à justiça social e a diversidade cultural” (LEFF, 2009, p.233).

Ao argumentar sobre a educação, Rodriguez e Silva (2013, p.202) definem um fim para a mesma, voltada à sustentabilidade, revelando que “a educação deve proporcionar a aquisição de conhecimentos, habilidades e desenvolvimento de atitudes”. Com uma educação ambienta l baseada nestes pilares, o desenvolvimento do saber, nos seus aspectos científicos e populares. Na obra citada, os autores permitem ao cidadão uma visão crítica do mundo moderno e suas implicações no meio ambiente, possibilitando assim, habilidades para a construção de sistema de produção menos agressivo ao meio ambiente em relação ao atual sistema capitalista, que explora os serviços ambientais sem o devido cuidado quanto a conservação e a preservação , exploração esta que é perceptível também no turismo.

A razão, capacidade que distingue o ser humano dos demais animais, permite a humanidade por meio da filosofia desenvolver o conhecimento e habilidades (cultura) tornando-a apta a desenvolver atitudes que não comprometa sua ética e nem cause danos que o

meio ambiente não possa se recuperar por meio de sua resiliência que é a “capacidade do sistema em retornar à suas condições originais após ser afetado pela ação de distúrbios externos” (CHRISTOFOLETTI, 1999, p.114). Para que estas atitudes estejam dentro de um paradigma sustentável, os valores da sociedade precisam ser reconstruídos, se distanciando do desejo do consumo e pautando seu recomeço em uma ideia de equidade, senso de justiça. A educação ambiental deve produzir estes elementos no cidadão: conhecimento, habilidades e mudança de atitude.

Para uma educação ambiental pautada na sustentabilidade, o paradigma da pedagogia crítico-social, aliada à pedagogia libertadora parece satisfazer os princípios da sustentabilidade. A pedagogia crítica-social zela pela “difusão de conteúdos (vivos, concretos), considerando a educação como atividade mediadora no seio da prática global social, privilegiando a aquisição do saber vinculado às realidades sociais” (RODRIGUEZ; SILVA, 2013, p.210). Em quanto que, a pedagogia libertadora, trata da análise da relação homem/natureza para uma melhor compreensão e “transformação das condições socioeconômicas” (RODRIGUEZ; SILVA, 2013, p.210).

O papel fundamental da educação é a formação do ser humano para o exercício da cidadania. Cidadão é estar apto a participar ativamente das relações sociais, exercendo seus deveres e buscando o cumprimento de seus direitos. Embora a palavra cidadania remonte às relações políticas nas cidades, na contemporaneidade, ela abrange a todos que se adequam as relações sociais de seus lugares e do global, visto que as relações atualmente transcendem a simplicidade do cotidiano, revelando-se em uma complexidade global, sendo o turismo um dos elementos responsáveis pela globalização.

Nesta concepção a educação ambiental fundamentada na pedagogia libertadora e libertária, busca a formação de cidadãos através da compreensão, reflexão crítica para uma mudança de atitudes do indivíduo e a criação de uma nova cultura, impulsionada por este conhecimento. Uma formação para a vida pessoal e social.

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