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1.2 A disciplina de Educação Visual e Tecnológica

1.2.2 Educação Artística

Com a educação artística inicia-se uma nova fase no que respeita à valorização das artes visuais na educação. Este documento faz uma rotura com o modelo que vigorava no campo da educação artística em Portugal. As artes passaram a ser o centro da educação artística, particularmente as artes visuais o centro da educação visual.

Ao analisarmos o programa da disciplina de EVT, as artes visuais não tinham expressão significativa em sala de aula, com o surgimento deste documento as abordagens pedagógicas vão sofrer alterações nesta área, como refere o documento das Competências essenciais:

“As artes são elementos indispensáveis no desenvolvimento da expressão pessoal, social e cultural do aluno. São formas de saber que articulam imaginação, razão e emoção. Elas perpassam as vidas das

pessoas trazendo novas despectivas, formas e diversidades ao ambiente em que se vive.

A vivência artística influencia o modo como se aprende, como se comunica e como se interpretam os significados do quotidiano. Desta forma, contribui para o desenvolvimento de diferentes competências e reflete-se no modo como se pensa, no que se pensa e no que se produz com o pensamento.

As artes permitem participar em desafios coletivos e pessoais que contribuem para a construção da identidade pessoal e social, exprimem e enformam a identidade nacional, permitem o entendimento das tradições de outras culturas e são uma área de eleição no âmbito da aprendizagem ao longo da vida.” (DEB, 2001, p. 149).

A área da educação artística, desenvolve-se ao longo dos três ciclos através da expressão plástica e EV, da música, da dança e da expressão dramática, contribuindo para que os alunos adquiram as suas competências, no quadro1.2, tenta-se apresentar a estrutura do documento sintetizada.

Numa análise rápida deste quadro, podemos encontrar algumas diferenças em relação a conceção subjacente à EVT. Constatamos que a dimensão tecnológica deixou de estar associada à dimensão da educação visual, constituindo-se assim uma área independente da educação artística.

Quadro 1.2 Estrutura do capítulo da Educação Artística

Educação Artística Contextualização As artes no currículo do ensino básico

Relação com as competências gerais

Áreas - Educação Visual - Educação Musical

- Expressão Dramática/Teatro - Dança

São definidas competências específicas para cada uma das áreas

Objetivo - Desenvolver a Literacia em Artes

Através de - Apropriação das linguagens elementares das artes;

- Desenvolvimento da capacidade de expressão e comunicação; - Desenvolvimento da criatividade;

- Compreensão das artes no contexto.

Operacionalização: Experiências

de Aprendizagem

- Práticas de investigação

- Produção e realização de espetáculos, oficinas, mostras, exposições, instalações e outros

- Utilização das tecnologias da informação e comunicação

- Assistência a diferentes espetáculos/exposições/instalações e outros eventos artísticos

- Contacto com diferentes tipos de culturas artísticas - Conhecimento do património artístico nacional - Intercâmbios entre escolas e outras instituições

- Exploração de diferentes formas e técnicas de criação e de processos

Quadro elaborado a partir de DEB, 2001: 149-52

Apresenta-se agora a “vivência artística” como fator importante no desenvolvimento de competências, assumindo que será impossível fazer educação artística sem recurso à arte, como nos induzia o programa de EVT. Este documento fala- nos também em “experiências de aprendizagem” que os alunos deverão ter “oportunidade de vivenciar” como forma de operacionalizar as competências definidas.

Apercebemo-nos também aqui de algumas diferenças, nomeadamente no que diz respeito à quantidade e qualidade das experiências sugeridas, se antes era sugerido que os alunos conhecessem o “património local” e contactassem apenas com “artes populares”, agora, sugere-se que conheçam o “património artístico nacional” e estabeleçam “contato com diferentes tipos de culturas artísticas”, alargando-se deste modo o leque de experiências.

Segundo o CNEB o conceito “Literacia em Artes”, “[…] implica as competências consideradas comuns a todas as disciplinas artísticas, […]”, o documento simplifica, apresentando quatro eixos interdependentes: “- Apropriação das linguagens elementares das artes; - Desenvolvimento da capacidade de expressão e comunicação, - Desenvolvimento da Criatividade; - Compreensão das artes no contexto.” (DEB, 2001, p. 152). O mesmo documento reforça a ideia que desenvolver a literacia artística é um processo inacabado de aprendizagem e participação, que contribui para o desenvolvimento das nossas comunidades e culturas, num mundo onde o domínio de literacias múltiplas á cada vez mais importante.

As competências essenciais definidas para EV, apresenta-se mais à frente no quadro 1.3 de uma forma sintética, para podermos contextualizar mais facilmente a análise que se faz do documento.

Quadro 1.3 Competências da Educação Visual no CNEB Competências Essenciais Áreas programáticas da Educação Visual Comunicação Visual

Elementos da Forma

Dimensões das Competências Específicas (eixos estruturantes)

Fruição / Contemplação Produção / Criação Reflexão / Interpretação

Meios e técnicas de Expressão Plástica (operacionalização)

Desenho

Explorações Plásticas Bidimensionais Explorações Plásticas Tridimensionais Tecnologias da Imagem

Esquema elaborado a partir de DEB, 2001: 155-63

Este novo documento veio introduzir novas orientações e conduzir a mudanças ao nível teórico e prático na EV, surge como a concretização de uma “ruptura (sic) epistemológica”, que, já se vinha a fazer notar com o abandono das práticas educativas influenciadas pela “visão expressionista”, dando lugar a “modelos pedagógicos abertos e flexíveis […], centrada num novo entendimento sobre o papel das artes visuais no desenvolvimento humano, integrando três dimensões essenciais: sentir, agir e

conhecer.”(DEB, 2001, p.156)

“O paradigma anterior, fundado na convicção de que a apreciação e a criação artísticas eram uma questão de sentimento subjectivo (sic), interior, directo (sic) e desligado do conhecimento da compreensão ou da razão, compartimentando o cognitivo-racional e o afectivo-criativo (sic), teve como reflexo na prática escolar, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade, o entendimento do processo criativo como manifestação espontânea e auto expressiva, com a valorização da livre expressão, adiando consecutivamente, a introdução de conceitos da comunicação visual, antevendo novos modos de fazer e de ver.” (Ibidem)

A expressão livre defendida no documento das competências era também defendida no programa de EVT, por um lado defende que o desenvolvimento a partir da ação onde a fantasia e a liberdade de expressão estão sempre presentes (DGEBS, 1991a, 195), ou que deve ser dada ao aluno máxima liberdade quando faz os seus registos (Ibidem, 1999 b, p. 12), por outro é imposta a obrigatoriedade de resolver problemas do

seu meio, mesmo que hipoteticamente eles não existam ou que o aluno não os consiga identificar.

O recurso ao MRP na disciplina de EVT é posto em causa no documento das Competências Essenciais quando refere, “[…] o recurso ao método de resolução de problemas como metodologia para a educação visual, tem propiciado a valorização de soluções utilitárias imediatas, negligenciando-se, por vezes, a dimensão estética das propostas.” (DEB, 2001, p. 156). Contrariamente o documento das competências propõe uma metodologia que relacione “[…] a perceção estética com a produção de objetos plásticos” (Ibidem), em suma o documento prevê “[…] uma dinâmica propiciadora da capacidade de descoberta, da dimensão crítica e participativa e da procura da linguagem apropriada à interpretação estética e artística do Mundo.” (Ibidem)