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3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

3.2. A Educação através da Educação Física

A Educação Física é detentora de um papel importantíssimo na educação geral dos alunos. Ela não atua apenas nos campos mais específicos que lhe são atribuídos, mas também em vários domínios da educação humana. “Uma Educação física como disciplina curricular, não deve servir para a formação de animais esplêndidos. Ela deve servir para que o ser humano possa, através do conhecimento e prática de atividades físicas e esportivas, reconhecer-se como humano numa relação de interação com o meio ambiente.” (Moreira et al, 2004).

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Podemos então partir do um pressuposto de que a Educação Física não se deve restringir ao ensino das habilidades que moldam o corpo à prática de exercício físico. É evidente que um dos objetivos do professor de Educação Física tem claramente que se sustentar no ensino das modalidades e na melhoria da performance das mesmas. Contudo, quando tratamos do corpo não podemos nunca esquecer que o Homem é um ser complexo ao qual nunca podemos separar as diversas partes. Não podemos nunca esquecer que a sociedade atual baseia-se no culto do corpo, à imagem do belo. Julga-se poder modificar o corpo no sentido da forma, saúde e da beleza (Queirós, 2004). Mas quando atuamos no corpo, abrangemos sempre outras dimensões, como a social e a psicológica.

O corpo social é então um ponto-chave no que concerne ao ensino do ensino da Educação Física, sendo esta um espaço privilegiado para tratar o mesmo. Não podemos apenas ter em conta o corpo pessoal, individual e separado do meio, pois é da nossa disciplina que advém grande parte do contacto que os alunos têm com os colegas a nível corporal. A Educação Física é então mais que um espaço de aprendizagem de modalidades desportivas, sendo também um espaço de aprendizagens significativas a nível social e interpessoal. Caracteriza-se por isso por um espaço de busca orientada pela descoberta do corpo e pelo contacto constante com o corpo dos pares.

Porém, quando nos referimos à atuação da Educação Física, não podemos apenas ter em conta o culto do corpo mas também toda uma imensidão de conceitos que o Desporto transporta para a escola. De um modo geral, quando se refere à utilidade do Desporto, Bento e Bento (2010, p.18) afirmam que este serve “Para melhor conhecermos a condição humana, para alargarmos os seus limites e possibilidades, para que ela seja menos imperfeita, para que seja melhor e superior, de acordo com subidos parâmetros de ordem simbólica, ética e estética, nos planos espiritual, gestual e corporal”. Por esse motivo consideramos que o Desporto ultrapassa em grande escala as questões do corpo e alicerça-se na construção do homem enquanto ser completo a todos os níveis.

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O Desporto trás consigo todo um conjunto de valores e normas que ajudam a elevar o ser humano e por isso são tão importantes na escola. A presença da prática desportiva supervisionada e controlada leva os alunos a um contacto com uma realidade que muitos não têm a oportunidade de vivenciar fora da mesma. Por exemplo, valores como a superação, cooperação e respeito pelo adversário ilustram o modo como o Desporto atua a nível moral nos diferentes campos das relações pessoais e interpessoais. Podemos então afirmar que a prática desportiva opera não só no aluno a nível da relação consigo mesmo e perceção das suas capacidades, como também da relação com os outros.

Quando analisamos o Desporto dentro Educação Física é importante relembrar que este não aparece na sua organização mais formal, apesar de trazer consigo a sua essência. Na escola, o Desporto revê-se, em parte, nos jogos e é neles que reside uma grande parte da construção da identidade cultural do homem. Segundo Teves (2004), a vivência lúdica do jogo sintetiza- se pela perceção, imaginação, intuição, razão, emoção, desejos, ousadia e determinação, tudo isto conjugado num espaço de risco e aventura. Apesar dos jogos poderem estar presentes na escola fora do contexto da Educação Física, e excetuando o DE por ser de caráter opcional, é nela que adquirem uma vertente mais formal. Para além disso estão cada vez mais presentes nas escolas diversos tipos de proibições relacionadas com a prática desportiva. Escolas onde antigamente se emprestavam bolas para os alunos jogarem nos intervalos, atualmente existe a proibição dos próprios alunos levarem as suas bolas. Tudo isto faz parte de um conjunto de fatores que interferem em alguns dos maiores problemas dos nossos tempos, tais como o sedentarismo e a obesidade.

Estamos perante uma necessidade crescente da Educação Física atuar na área da saúde, de modo promover hábitos de vida saudáveis e o gosto pela prática desportiva. Contudo, é cada vez mais difícil fazer com que os alunos mantenham a prática desportiva, não só devido às aliciantes propostas induzidas pelos videojogos e semelhantes, mas também pela crescente pressão para o sucesso escolar. É na escola que surge então a necessidade

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de educar para uma saúde melhor e é no espaço da Educação Física que essa carência se torna mais evidente.

Em suma, a EF assume um papel fulcral na Educação geral dos alunos, arcando essa tarefa não só a nível motor mas também de construção da identidade humana e cultural. Segundo Bento e Bento (2010), o Desporto, tal como todas as outras formas de cultura, serve para tirar o Homem do seu estado animal. Pretende, por isso, fazê-lo esquecer dos seus instintos e impulsos mais primitivos e retirá-lo das suas formas originais, arcaicas. Concluímos por isso que, tendo como alicerce o Desporto, a EF consegue atuar no campo da construção do Homem como um todo, logo, na Educação de um modo geral.

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