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A Educação do Campo em Sena Madureira

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2 EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL E SUA IMPLANTAÇÃO NA ESCOLA

2.7 A Educação do Campo em Sena Madureira

No contexto do município de Sena Madureira, a educação do campo é apresentada a partir do diário de campo da pesquisadora, durante o período em que esteve no Núcleo da SEE, realizando o Estágio Profissional9 em setembro de 2013. Existe dentro do núcleo uma Coordenação da Educação do Campo da rede estadual que é exercida pelo professor Elizeu Freire Vieira, licenciado em Geografia e ex-professor em escola do campo. A Coordenação de Educação do Campo da rede municipal é exercida pelo professor Ênio Márcio da Silva Abreu, também ex-professor em escola do campo.

As escolas estaduais foram organizadas em pólos. Cada pólo possui um técnico responsável pelo acompanhamento geral, compreendendo desde a infraestrutura, recursos materiais, relação com a comunidade, dificuldades, entre outros, priorizando o pedagógico. Todos os técnicos que fazem esse trabalho de acompanhamento são do quadro provisório da SEE, são licenciados e entendem de educação do campo, uma vez que todos são ex- professores desse tipo de escola.

Sena Madureira é um dos municípios do Acre que, além de possuir o maior número de escolas, é também a malha mais complexa, tendo em vista a dispersão geográfica entre as escolas. São sessenta e sete escolas da rede estadual e oitenta e quatro da rede municipal, totalizando cento e cinquenta e uma escolas do campo. A imagem a seguir apresenta a malha viária terrestre e fluvial do município de Sena Madureira, no estado do Acre, onde estão localizadas as escolas do campo sob a responsabilidade SEE.

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Constitui um momento de contato dos estagiários do Programa de Pós-graduação em Educação Agrícola com a realidade das instituições de ensino agrícola, em especial, da Rede Federal de Ensino Profissional.

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Figura 5 - Croqui da localização das Escolas do campo da rede estadual.

Fonte: esta autora, 2013.

Os traços em azul representam os quatro rios do município, que são: Iáco, Caeté, Purus e Macauã; em preto, a Rodovia BR 364; o marrom representa as estradas; e a cor laranja, os ramais e varadouros. O Iáco é o rio mais extenso e possui o maior número de escolas; o rio Caeté e o Macauã têm menos escolas, porém são as que apresentam maiores dificuldades de acesso no período de estiagem, haja vista não existir acesso via terrestre e o baixo volume de água nos rios dificulta a passagem até mesmo de canoas pequenas. A imagem abaixo apresenta as condições do rio no período de verão:

Figura 6 - Condições de trafegabilidade pelo Rio Iáco.

Fonte: Sâmia Cristina N. Sampaio, 2013.

A população do campo conta com todas as etapas da educação básica, subdivididas em seriada, multisseriada, Asas da Florestania Fundamental, Asas da Florestania Médio e Educação de Jovens e Adultos 1º, 2º e 3º segmentos.

O problema da distorção idade/série é frequente em todos os níveis e modalidades de ensino, além da rotatividade de professores, também muito grande, e da dificuldade de

25 contratação de novos professores. A grande maioria dos professores é provisória e os processos seletivos exigem curso superior, o que acaba por não preencher as vagas, causando atraso no início do ano letivo. Para superar esse problema e colocar as escolas para funcionar, é feito um processo seletivo simplificado, com análise de currículo para contratação emergencial. Nesses casos, são aceitos, prioritariamente, quem possui nível médio e que já havia atuada na educação do campo.

Todas as escolas são atendidas com merenda escolar. No Núcleo da SEE, há uma coordenação da merenda escolar, responsável por recebimento, estocagem e distribuição dos gêneros alimentícios. Cada escola recebe os produtos de acordo com o número de alunos e o cardápio é elaborado pela nutricionista. O professor é quem prepara e distribui a merenda para os alunos.

Figura 7 - Professor servindo merenda aos alunos.

Fonte: Sâmia Cristina N. Sampaio, 2013.

Essa cena ainda é muito presente nos dias de hoje nas escolas do campo, não só no estado do Acre, mas também, em todos os recantos do Brasil, onde o professor além de suas atividades docentes em sala multisseriada/multiidades, tem um acúmulo de funções administrativas e de serviços. Ele próprio dirige a escola, leciona para os alunos de diferentes estágios de escolaridade e de diferentes idades e ainda desempenha funções de servente e merendeira.

As escolas localizadas na Rodovia BR 364 dispõem de ônibus; aquelas localizadas nas estradas e ramais trafegáveis dispõem de jeep Toyota Bandeirantes para o transporte das crianças. Contudo há escolas, aonde o transporte não chega: são aquelas localizadas nos centros dos seringais, onde nem carro nem canoa passa perto. Os alunos caminham duas ou mais horas varadouro adentro, para chegar à escola. Para algumas escolas, o transporte fluvial ainda é um grande gargalo a se resolver, tendo em vista que a variação do volume de água nos rios no período seco é inevitável. Para os alunos chegarem à escola, são os próprios pais que custeiam o transporte em canoas, sendo as próprias crianças as condutoras das canoas, conforme apresentamos nas imagens abaixo:

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Figura 8 - Condições do transporte escolar fluvial no Rio Iáco.

Fonte: Sâmia Cristina N. Sampaio, 2013.

Figura 9 - Embarque dos alunos em canoa no Rio Iáco.

Fonte: Sâmia Cristina N. Sampaio, 2013.

Para evitar que a canoa encalhe na lama ou na areia, essa fica amarrada no meio do rio. As crianças precisam caminhar dentro do rio para embarque e desembarque.

Os professores dispõem de acompanhamento no próprio local de trabalho. Periodicamente, os técnicos visitam uma a uma das escolas sob a sua responsabilidade, ocasião em que assistem à aula do professor, realizam avaliação diagnóstica sobre domínio da leitura e da escrita com as turmas de 1º ao 5º ano, para identificar os progressos e/ou fracassos

27 na aprendizagem. Após as avaliações, junto com o professor, o técnico faz a tabulação dos dados e busca alternativas para sanar as dificuldades e/ou deficiências detectadas.

De acordo com o coordenador da educação do campo, esse trabalho tem dado bons resultados e o que, antes, era considerado uma dificuldade, pelo fato da resistência de muitos professores, hoje, tem uma aceitação muito grande. São promovidas oficinas com foco na leitura, de acordo com as orientações da SEE e segundo as necessidades levantadas durante as visitas.

O período das oficinas é previsto no calendário escolar para não prejudicar nem comprometer o cumprimento dos duzentos dias letivos e/ou das oitocentas horas de trabalho docente.

Figura 10 - Condições de viagem dos técnicos para acompanhamento nas escolas rurais.

Fonte: Aldemir de Menezes Lima, 2013.

A imagem a seguir apresenta as condições de viagem pelas quais passam professores e técnicos quando se deslocam para fazer visitas e acompanhamento nas escolas do campo, onde o acesso é realizado por via fluvial. Assim viajam durante todo o dia, parando somente quando encontram uma residência à margem do rio que lhes dê hospedagem para passar a noite.

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Figura 11 - Condições de viagem para visita às escolas rurais.

Fonte: Sâmia Cristina N. Sampaio, 2013.

A professora ancorou sua canoa à margem do rio, utilizando varas de bambu e lona, improvisou um local para preparar o seu almoço e fazer a refeição. Daí seguirá subindo o rio até encontrar um local para pernoitar. Essa situação se repete a cada dia, até a chegada à escola. No retorno, o processo é o mesmo.

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