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Educação como Elemento do Capital Humano

No documento Vulnerabilidades induzidas no semiárido (páginas 48-52)

De acordo com a teoria econômica, a produtividade é aferida através do conceito de Produtividade Total de Fatores (PTF). Assim, o produto agregado (PIB) de uma economia é gerado pela junção de dois fatores que incrementam essa produtividade: capital físico e capital humano. O primeiro é constituído por máquinas, equipamentos e instalações que são utilizados no processo produtivo. O segundo é formado pela capacidade produtiva da força de trabalho. O estoque desse fator aumenta a partir de investimentos nos indivíduos que podem ser através de treinamento, melhores condições de saúde, nutrição e, principalmente, por meio da educação.

Assim, se um país apresenta uma evolução no seu PIB, isso signi- fica que essa nação utilizou, de forma eficiente, esses dois fatores e obteve uma maior produtividade. Kuznets (1955, p. 39 apud KINDLEBERGER, 1976, p. 109) destaca a importância da tecnologia e do capital humano:

O principal capital com que conta um país industrialmente desen- volvido não é seu equipamento físico e sim o conjunto de conhe- cimentos oriundos de descobertas feitas pelas ciências empíricas e testadas, assim como a capacidade e treino de sua população para utilizar esses conhecimentos eficientemente.

Dessa forma, o crescimento econômico depende de acréscimos na produtividade, a qual é impulsionada pelo progresso tecnológico e pela educação. Produtividade e progresso tecnológico dependem da qualificação e do nível de escolaridade dos trabalhadores.

Rossi (1986, p. 51) corrobora com esse pensamento afirmando: A educação tem ainda efeito importante no próprio desenvolvi- mento do outro elemento do aumento da produtividade do tra- balho: a geração da tecnologia. É no próprio seio do processo

educativo que, através do desenvolvimento científico, se criam as condições necessárias ao aperfeiçoamento das técnicas, processos e instrumentos de produção.

Conforme esta teoria, os indivíduos que acumulam capital hu- mano, principalmente através da educação, são mais produtivos e, consequentemente, obtêm maiores rendimentos. Logo, a partir dela, a educação ganhou relevância como um dos fatores determinantes para promover o crescimento e o desenvolvimento de um país.

Diante disso, o capital humano corresponde aos investimentos realizados em educação, treinamento e hábitos de vida saudável nos quais resultariam no aumento das habilidades e capacidades dos in- divíduos e assim afetando positivamente a sua produtividade e renda (BECKER, 1975; SCHULTZ, 1971).

Dentre os elementos que compõem o conceito de capital hu- mano, a educação é, provavelmente, o mais importante. Isso se dá porque, além de desenvolver e qualificar o ser humano aumentando sua produtividade, ainda o capacita para o alcance de várias outras necessidades, direitos e liberdades, pois amplia seu discernimento. Essa característica transformadora faz da educação um dos temas mais comentados na agenda de pesquisa dos autores que se propõem a estudar o processo de desenvolvimento econômico.

Investir na educação é essencial para impulsionar a produtividade do trabalho, aumentar a renda, reduzir as desigualdades entre os indi- víduos e permite maior mobilidade social. Logo, como destaca Rossi (1986), valorizar a educação em todos os níveis mostra-se como uma solução para quase todos os problemas individuais e sociais. “Todos os países que cuidaram bem dos aspectos educacionais das suas popula- ções experimentaram avanços substanciais nos seus padrões de desen- volvimento” (LEMOS, 2012, p. 44).

Parece não haver dúvidas no que concerne ao sentido de causa- lidade, quando se fala da relação entre educação e desenvolvimento, de que a primeira é causadora da segunda variável. É amplamente de- batido no meio acadêmico os efeitos positivos que um melhor nível educacional da população tem sobre o desenvolvimento econômico

de qualquer município, estado, região ou no país. Investimento em educação é uma conhecida e importante ferramenta para a promoção de avanços econômicos e sociais. Países que em momentos anteriores priorizaram este elemento em seus planos de desenvolvimento, hoje colhem os frutos.

O estudo realizado por Sen (2010) mostrou que países do Leste Asiático (Coreia do Sul, Japão, Taiwan e Singapura, principalmente) investiram em seus sistemas educacionais para alavancar o seu de- senvolvimento econômico. E o desenvolvimento chegou a estes países. Atualmente ocupam posições de destaque no ranking das Nações Unidas de países com maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Este fato sugere que o desenvolvimento desses pa- íses foi impulsionado fortemente pelo incremento na qualidade dos seus recursos humanos através da educação.

Além disso, a educação cumpre papel fundamental na acumu- lação de capital humano. De acordo com a teoria desenvolvida por Theodore Schultz e Gary Becker, investir no “fator humano”, prin- cipalmente através da educação, impacta positivamente na produ- tividade do trabalho e, consequentemente, alavanca o crescimento econômico dos países. Ademais, conforme essa teoria, indivíduos mais produtivos alcançam maiores produtividades e maiores rendas (BECKER, 1975; LEE; YAMAZAWA, 1990; SCHULTZ, 1971).

Dentre os autores nacionais que se debruçaram para estudar a correlação entre a educação e a distribuição de renda, Langoni (1973) é um dos mais conhecidos. Naquele trabalho ficou demons- trado que mão de obra mais qualificada pode impactar positiva- mente tanto na taxa de crescimento como na redução das desigual- dades de renda de um país.

Em trabalho realizado por Lemos (2008), ficou demonstrada a relação direta que existe entre o PIB per capita dos estados bra- sileiros e os níveis de escolaridade média. Aquele estudo utilizou o PIB per capita dos estados como variável explicada, ou dependente, e como variável explicativa a escolaridade média aferida em anos. Utilizando modelo econométrico, o estudo mostra uma relação fran-

camente positiva entre estas duas variáveis, demonstrando que a for- mação do PIB por pessoa caminha na mesma direção da escolaridade dos estados (LEMOS, 2008). Na Figura 1 mostra-se a relação geo- métrica encontrada naquele estudo. As informações utilizadas para a geração da Figura 1 foram retiradas das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, vários anos, e tinha como unidades de observação os estados. No eixo vertical, está o PIB per capita de cada estado e, no eixo horizontal, mostram-se os níveis de escolaridade média alcançados pelos estados. A Figura 1 mostra niti- damente a relação causa-efeito de educação e PIB per capita.

Figura 1 – Relação Geométrica entre PIB per capita e Escolaridade nos Estados Brasileiros entre 2001 e 2005

Fonte: Lemos (2008).

O investimento em educação é sempre importante em qualquer país, região, estado ou município que deseja promover melhores pa- drões de desenvolvimento econômico, seja ele pobre, desigual, em de- senvolvimento ou desenvolvido. É claro que outras áreas devem ser

também consideradas. Contudo, o investimento em educação é aquele que tem potencial de prover efeitos de economia de escala e externali- dades positivas.

No documento Vulnerabilidades induzidas no semiárido (páginas 48-52)