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Palestra proferida por Helena Antipoff, por ocasião da semana da criança retardada, no Rio de Janeiro, em agosto de 1960, publicado na Coletânea das Obras Escritas de Helena Antipoff, volume III, Educação do Excepcional, p.209-211:

Helena Antipoff ressaltou que, ao inteirar-se da existência de uma deficiência no filho, a preocupação dos pais com o seu presente e futuro aumenta consideravelmente, e isso acompanhará a família por toda a vida. Em seus contatos com os pais dessas crianças, dava-lhe a impressão de que, embora preocupados, eles conservavam toda a sua ternura e amor, pois grande parte das crianças possuíam o “dom da simpatia” ao qual se referia Charlote Buhler, psicóloga austríaca, como traço natural da personalidade. Embora alguns professores sentissem alguma idiossincrasia para classes especiais, geralmente os educadores gostavam dos alunos excepcionais.

Ela sentia-se bem em companhia deles, já que, a despeito de suas deficiências e distúrbios diversos, muitas vezes revelavam aptidões especiais consideráveis, como uma inteligência intuitiva, que alunos comuns não possuíam; uma sensibilidade para compreender os outros e para ajudá-los, além de uma grande inclinação para as artes. Seu fino senso de humor em suas narrações era capaz de manter a atenção de um público bem interessado.

Frisou que os docentes tinham que ser capazes de considerar novas possibilidades de ação para trabalhar com o excepcional, explorar diferentes formas de desenvolver sua prática em sala de aula, o que implicaria a reconstrução permanente das situações didáticas e dos conteúdos curriculares. Estimulava-os à inovação, para que seus alunos excepcionais aprendessem e se formassem como cidadãos com os mesmos direitos que todos na sociedade, principalmente, a educação. Destacou o respeito às diferenças, ou mais que isso, a valorização da diversidade advinda das diferenças na sala de aula, as quais só os autênticos educadores sabiam bem explorar. É um dom especial, não resta dúvida, mas robustecido pelo estudo, análise, experimentação constante, e faz a educação ser algo mais consciente e racional do que parece.

Salientou, ainda, que o uso de processos de ensino e técnicas educativas daria ênfase ao desenvolvimento de habilidades cognitivas e poderia também, propiciar à criança e ao adolescente excepcional, experiências que valorizassem diferentes maneiras na aquisição de conhecimentos sociais e acadêmicos. O aprendizado do excepcional

dependia de uma intervenção pedagógica que respeitasse o seu perfil.

A criação de métodos e processos para retardados, surdos-mudos e desajustados , segundo ela, dotou grandes massas de alunos comuns, os ditos normais, nos jardins de infância, nas escolas primárias, nos ginásios e clubes juvenis, de benefícios incalculáveis, pois devido aos diferentes é que apareceram, nos jardins de infância, o mobiliário e equipamento adequado, o material de educação sensorial e o de aritmética Montessori, hoje se estendendo para o curso primário e secundário.

Também considerava importante o estágio curricular supervisionado, pois os futuros educadores, principalmente aqueles que se dedicariam a instituições especiais iriam educar, estudar problemas, processos educativos e particularmente, formar educadores.

6.4 – O Papel das Associações de Pais Num Programa Geral de Assistência às Crianças Excepcionais

Palestra proferida por George W. Bemis, Presidente Fundador do Califórnia Council for retarded children, no III mutirão comemorativo do 20º aniversário da Fazenda do Rosário. O evento também foi noticiado no jornal Correio da Manhã, que trouxe a informação de que aconteceria uma reunião de pessoas interessadas nos objetivos das Sociedades Pestalozzi e APAE, no estudo, assistência e tratamento dos excepcionais. O estudo aconteceu durante o período de 15 a 24 de julho de 1960 com diversificadas programações. George e Beatrice Bemis fizeram parte desse importante encontro:

O Sr. Bemis relembrou a fundação da 1ª APAE organizada através da união e compromisso de um grupo de pais, amigos, educadores e médicos de crianças excepcionais na concretização de objetivos comuns. Ressaltou a relação entre a Sociedade Pestalozzi do Brasil e a APAE:

Permiti dizer-vos, neste momento, que minha senhora e eu sentimo-nos desvanecidos por participar desta organização. Nossa filha Carolina foi aluna da excelente Sociedade Pestalozzi do Brasil e agora frequenta o magnífico Instituto Santa Lucia34

, na Gávea. Se fosse possível, estaria aqui conosco, para expressar sua admiração a todas as pessoas que incansavelmente trabalharam para ampliar a assistência a um número cada vez maior de crianças excepcionais. (GEORGE, B. 1960)

Provavelmente, essa palestra objetivava alertar aos dirigentes das Instituições que estavam ali presentes sobre a necessidade de se estabelecerem princípios pelos quais deveria ser fixada uma política a ser seguida como: o programa, a filosofia, missão e atribuições da equipe responsável.

Segundo ele, a Associação mantinha programas especiais de educação e treinamento para retardados mentais, portadores de deficiências físicas, cegos, surdos e vítimas de distúrbios emocionais – os quais eram amparados administrativamente sob a jurisdição de um simples departamento ou divisão. O estatuto legal fora elaborado tendo em vista a representação na comissão dos membros das duas organizações pioneiras que trabalhavam em íntima ligação: Sociedade Pestalozzi e APAE.

A APAE deveria ser constituída pela maioria de pais de excepcionais e por todas as pessoas que trabalhavam em prol do seu progresso, e na direção executiva, os pais deveriam estar mais bem representados, e constituir maioria na Diretoria e Conselho.

Dentre os princípios básicos estabelecidos, a Associação deveria ser entidade privada sem fins lucrativos e integrada na comunidade, da qual receberia o maior apoio possível. Seria necessária uma ampla campanha de divulgação para que a população local pudesse conhecê-la, bem como os seus objetivos; deveria contar com a colaboração ativa de médicos, educadores, especialistas; executar um programa de tratamento, educação e, se fosse possível, criar as suas próprias escolas ou oficinas pedagógicas.

Cabia à Associação a responsabilidade intransferível do planejamento e provimento de cuidados e proteção aos excepcionais, durante toda sua vida, no tocante ao desenvolvimento do caráter, proteção legal e fiscalizadora e outros aspectos

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Instituto Santa Lucia oferecia ensino para crianças com dificuldades na aprendizagem. Sob o regime de internato e semi-internato de ambos os sexos, ensino especializado para crianças-problemas, deficientes mentais, desajustados nas escolas comuns, portadores de lesões cerebrais. A Diretora-técnica era Esmeralda C. Oliveira, especializada nos Estados Unidos. A Instituição funcionava na Rua Marques de São Vicente, 316. Gávea. A Profª Esmeralda também fazia parte do Conselho Consultivo da Sociedade Pestalozzi do Brasil. (JORNAL CORREIO DA MANHÃ, 1954, p.6)

principalmente morais. Era responsável, ainda, por preparar a comunidade para a aceitação social da criança excepcional sob qualquer aspecto, tanto dentro quanto fora do círculo familiar, e prestar contas aos seus membros das atividades e progressos nesse terreno – e de modo ainda mais completo e regular do que ao público em geral.

O estímulo e patrocínio de pesquisas médicas, educacionais e sociais deveriam ser incentivados, em todos os setores de anormalidades físicas ou mentais, e deveria ser responsável pela disseminação dos seus resultados.

Como responsabilidade específica, desempenharia um papel missionário, pois ajudaria a criar outras associações de pais por todo o país, sempre que fosse necessário; estariam interligadas, formando uma forte associação nacional.

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– A Associação Barbacenense de Assistência aos Excepcionais

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histórico e organização

A fundação da Associação Barbacenense de Assistência aos Excepcionais – ABAE ocorreu no dia 31 de maio de 1962, por um grupo de pais de crianças com Síndrome de Down (Lea Paolucci Cascapera, Túlio Octavio de Araújo Lima e Ítalo Sogno).

A Associação foi registrada no Ministério da Saúde – Departamento da Criança – sob o nº 2806, em 22 de agosto de 1962, e no Conselho Nacional de Serviço Social sob o nº 66.641/1965.

Os estatutos (1962 – 1966 - 1971) da instituição seguiam as mesmas finalidades e objetivos da 1ª APAE. Do mesmo modo, constava também o termo “Excepcional”, explicitado tal qual Helena Antipoff o designava na década de 1930.

A 1ª reunião de Diretoria foi realizada no dia 31 de maio de 1962, na sede social à Praça Alvares Cabral, s/nº. A sessão foi dirigida pelo Presidente eleito, Sr. Ítalo Sogno, que iniciou a assembleia ressaltando a necessidade de analisar, discutir e aprovar os Estatutos, conforme fora publicado nos jornais “Correio da Serra” e “Correio Mineiro” nos dias 23 e 30 de abril.

Os primeiros estatutos da ABAE (1962-1966) foram registrados no cartório de Pessoas Jurídicas sob nº 186 – Livro A, no dia 1º de maio de 1966. No mesmo ano, ela foi registrada na Federação Nacional das APAEs sob o nº 036-E-66, tornando-se entidade congênere às APAEs. Os Estatutos englobavam o texto, ora transcrito em sua forma original, do artigo 1º ao artigo 31(anexo 2).

Em 1969 houve nova eleição de diretoria e o Sr Márcio Sollero assumiu a presidência da ABAE durante o período de 1969-1976. A Associação, já instalada na sede própria36

: Rua Treze de Maio nº320 registrou seu terceiro Estatuto alterando apenas o nome do Presidente.

Para atingir as finalidades previstas no Estatuto, a ABAE mantinha os

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A partir desse capítulo a instituição será descrita como Associação Barbacenense de Assistência aos Excecionais – ABAE em vez de Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE de Barbacena. Foi em 28 de setembro de 1999 que sua Razão Social mudou de Associação Barbacenense de Assistência aos Excecionais – ABAE para Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – Barbacena - APAE.

36No dia 6 de Janeiro de 1967 a ABAE recebeu do Governador do Estado de Minas Gerais

Israel Pinheiro através da lei nº4.369, uma área de terreno para construção de prédio destinado ao funcionamento da instituição.