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Focando a Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, busca-se, no decorrer deste capítulo, abarcar a criança na história, evidenciando-se como esta concepção de criança e a idéia de infância vão sendo construídas pouco a pouco de forma não linear; além disso, evidenciar como as tendências educacionais influenciaram ou ainda influenciam toda a prática pedagógica ao longo da história, conforme explicitado por Custódio (2006),

As tendências pedagógicas expressam as concepções de homem, de cultura e de educação, ao longo da história, e traduzem-se em políticas públicas educacionais, que, por sua vez, moldam uma forma determinada de organização escolar e da escola, com métodos próprios, conteúdos, avaliação e relação professor-aluno. (p. 71).

Para entender como as funções do processo educacional no interior da sociedade estão interligadas às tendências pedagógicas, há que se conhecê-lo.

Conhecer a classificação e a descrição das tendências pedagógicas auxiliará no entendimento e na reflexão da prática docente no ambiente educacional.

As tendências pedagógicas são classificadas em liberais e progressistas de acordo com a posição que adotam em relação aos condicionantes sociopolíticos da escola, estando classificadas por Libâneo, da seguinte forma: Pedagogia Liberal (tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista); Pedagogia Progressista (libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos).

A Pedagogia Liberal é uma manifestação de um tipo de classe social. Para entendermos melhor, o termo liberal apareceu, como esclarece Libâneo (1985), “como justificação do sistema capitalista que, ao defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais na sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, também denominada de sociedade de classes.” (p. 21). Esta sustenta a idéia de que a escola, segundo o mesmo autor,

[...]tem por função preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais. Para isso, os indivíduos precisam aprender a adaptar-se aos valores e normas vigentes na sociedade de classe, através do desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois embora difunda a idéia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições. (p. 22).

Na tendência tradicional, a pedagogia liberal os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não têm nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos com as realizações sociais; predomina a palavra do professor, as regras e o intelectualismo. Esta, segundo o autor supracitado, “caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena realização como pessoa”. (p. 22). Há nesta tendência pressupostos de que o aluno precisa esforçar-se para assumir uma posição na sociedade, sendo de responsabilidade deste auto-superar nas suas limitações e dificuldades para acompanhar os demais. Em tal tendência, a criança é vista com a mesma capacidade de assimilação de um adulto, apenas em fase de desenvolvimento diferentes, sendo a aprendizagem transferida de um adulto por meio de treino para a retenção do conhecimento.

A escola da tendência liberal renovada propõe um ensino que valorize a auto- educação, a experiência direta sobre o meio pela atividade; um ensino centrado no aluno e no

grupo. Sendo a educação um processo interno, parte das necessidades e interesses individuais necessários para a adaptação ao meio. Apresentando-se, em duas versões distintas: a renovada progressista, tendo a escola o papel de adequar as necessidades dos alunos ao meio em que o mesmo está inserido, foi difundida pelos pioneiros da educação nova, entre os quais se destaca Anísio Teixeira, Montessori, Decroly e Piaget; a renovada não-diretiva, a escola a partir dessa tendência foca a formação de atitudes, sendo orientada pela auto-realização e para as relações interpessoais, na formulação do psicólogo norte-americano Carl Rogers.

Continuando o pensamento de Libâneo (1985), a tendência liberal tecnicista “subordina a educação à sociedade tendo como função a preparação de “recursos humanos” (p. 23), ou seja, dá ênfase na formação de mão-de-obra para a indústria, dessa forma, o essencial não é o conteúdo da realidade, mas a técnica de descoberta e aplicação; a educação é um recurso tecnológico por excelência. O interesse imediato da escola é de produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas e rápidas; a comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico.

Já a pedagogia progressista, segundo o mesmo autor, parte de uma análise crítica das realidades sociais que sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticos da educação. E, com isso, diferencia-se das anteriores, uma vez que passa a ser um instrumento de luta dos professores ao lado de outras práticas sociais. Esta tem-se manifestado em três tendências: libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos.

O que caracteriza a tendência libertadora é a sua atuação “não-formal”; ao contrário das outras, questiona concretamente a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação – daí ser uma educação crítica. Temas geradores são extraídos da problematização da prática de vida dos educandos, não sendo importante a transmissão de conteúdos específicos, mas despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida. Essa tendência tem como seu principal representante o educador brasileiro Paulo Freire.Esta tendência vai se opor às tendências anteriores, tendo em vista que a educação tradicional é denominada “bancária”, que, segundo Freire (1987), nesta visão de educação “bancária”, “o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber, [...] a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos[...]”. (p.58-59).

Já a escola da tendência progressista libertária, apresentada por Libâneo (1985), tenta exercer uma transformação na personalidade dos alunos num sentido libertário e autogestionário.

A escola instituirá, com base na participação grupal, mecanismos institucionais de mudança, de tal forma que o aluno, uma vez atuando nas instituições “externas”, leve para lá tudo o que aprendeu. De acordo com o mesmo autor, a autogestão envolve o conteúdo e o método, tanto o objetivo pedagógico, quanto o político.

“A pedagogia libertária, na sua modalidade mais conhecida entre nós, a “pedagogia institucional”, pretende ser uma forma de resistência contra a burocracia como instrumento da ação dominadora do Estado, que tudo controla (professoras, programas, provas etc.), retirando a autonomia”. (p.36)

Por último, a escola da tendência progressista crítico-social dos conteúdos, nas palavras do autor supracitado, prega que “a valorização da escola como instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que se presta aos interesses populares, já que a própria escola pode contribuir para eliminar a seletividade social e torná-la democrática”. (p.39). O papel dessa escola é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida dos alunos; a atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade.

Ao analisar uma das tendências atuais do pensamento pedagógico, que é o construtivismo, Duarte (2000) argumenta que esse movimento apresenta características escolanovistas, sendo um retorno ao ideário da pedagogia liberal, tal como a classifica Libâneo (1985), autor antes referido.

Por outro lado, Gasparin (2005) defende a aproximação entre o ideário de uma pedagogia histórico-crítica de Saviani e a psicologia histórico-cultural de Vygostky. Ambas têm, como matriz filosófica, o materialismo histórico e dialético.

A instituição ora objeto deste estudo, como já referido no capítulo anterior, tem uma proposta pedagógica que denominou de sócio-interacionista. Resta saber o que pensam os docentes da instituição, que foram entrevistados, sobre essa proposta.