Parte I – Enquadramento Teórico
5. Educação e desenvolvimento comunitário local
Parece-nos pertinente, antes de realizarmos a abordagem do território identificado,
justificar a sua presença neste trabalho uma vez que, à primeira vista, nada parece ter a
ver com o que se tratou até aqui. A temática deste trabalho passa pela educação
parental, que por sua vez, está relacionado com a formação dos pais para melhor
educarem os seus filhos. Se nos referimos a educação, também, nos referimos a formar
comunidades que consequentemente desenvolvem a sociedade. Faz, assim, todo o
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sentido incluirmos a importância da educação como ferramenta ao desenvolvimento
comunitário. Local porque nos direcionamos para a população do concelho da Batalha.
“o desenvolvimento comunitário deve ser um processo educativo e formativo no qual a população local implicada aprende a ser responsável participando na resolução dos problemas comuns” (Gómes, 2007, p.125)
A educação para o desenvolvimento consiste em todo um processo muito complexo de
formar toda uma comunidade, através de uma educação formal (contínua), não formal
(permanente) e informal (natural), dotando-a com diversas ferramentas, ao nível
político, educativo e social, para que haja um desenvolvimento equitativo a nível global
ou local. Este é com conceito que necessita de uma constante reflexão e nunca poderá
ter um fim, pretende-se que haja sempre desenvolvimento, caso contrário, tudo se torna
estanque. “Mobilizador de vontades de mudança e de transformações das sociedades e
dos indivíduos, tem servido também para avaliar e classificar o seu nível de progresso e
bem-estar” (Roque, 2003, p.36).
A tomada de consciência é a chave para o desenvolvimento porque cria “motivações
para a mudança e o desejo de a alcançar” (Gómes, 2007, p.91). A política é também,
como em tudo, um fator fundamental para o desenvolvimento, não numa perspetiva de
mudança da realidade, mas na concretização de ações que possibilitem “reduzir as
disfunções económicas, administrativas e políticas do sistema, para alcançar algumas
metas quantitativas concebidas” (Gómes, 2007, p.90). O desenvolvimento é então um
processo de mudança estrutural que visa a “sustentabilidade de melhores condições de
vida a partir da ação (sic) concreta e eficaz das pessoas a nível local e global” (Gómes,
2007, p.90). Todo este processo é o encontro do caminho para a paz, do respeito pelos
direitos humanos, do exercício da plena democracia, é o respeito pelo meio ambiente e
pela cultura, em suma, o respeito pelo modo de vida das pessoas, “um modo de ser
adequado às exigências, às necessidades, aos projetos e à visão do mundo dos diversos
sujeitos e sociedades” (Gómes, 2007, p.90).
“O Desenvolvimento Local é aquele processo de melhoria das condições de vida num
território concreto, assumido e protagonizado pela população local” (Gómes, 2007,
p.123). A mutação dos meios de comunicação faz com que as zonas mais isoladas, se
sintam menos isoladas e com um acesso aos recursos, básicos e menos básicos, mais
abrangente. As dinâmicas que se criam em redor do que é tradicional fazem tecer novas
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consciências, hoje as aldeias são um despertar para uma melhor qualidade de vida,
porque já não se coloca muito a questão da falta de acesso a novas tecnologias, por
exemplo.
“É na crescente consciência destes novos desafios da humanidade, no respeito pela dignidade humana e pelas comunidades “esquecidas”, e da possibilidade de cada um contribuir para um mundo melhor, que os programas de Desenvolvimento Local e Comunitário se elevam na dinâmica global” (Gómes, 2007, p.90).
Na prática, para que haja modificações pertinentes, são essenciais constantes processos
de ação – reflexão e formação, de forma a capacitar e motivar à participação social. “e
concede-se particular importância à integração da educação nas dinâmicas próprias de
cada realidade social, em particular as que se constroem desde, para as comunidades
locais e com elas” (Gómes, 2007,p.99).
O “desenvolvimento comunitário deve ser um processo educativo e formativo no qual a
população local implicada aprende a ser responsável participando na resolução dos
problemas comuns” (Gómes, 2007, p.124). Necessitando assim do equilíbrio
económico, do apoio das instituições e de atitude pessoal local, num constante processo
produtivo, formativo e de ação sociocultural.
A educação como processo de desenvolvimento é, em qualquer contexto, um potencial
de introdução de inovações na vida social. A educação é um fator de mudança social e é
também um resultado da própria sociedade. “Esta reciprocidade está mediada, entre
outros fatores, pelo conhecimento que se intercambia no ato (sic) educativo, que é um
elemento fundamental para a promoção das transformações naturais e sociais” (Gómes,
2007, p.240). Nesta reciprocidade as pessoas vão construindo a sua identidade cultural
através da qualidade, valorização e utilidade que dão ao conhecimento, mediante os seus
contextos naturais e humanos, “os conhecimentos serão melhor ou pior valorizados e se
considerarão mais ou menos úteis para transformar uma realidade determinada”
(Gómes, 2007, p.241).
A globalização tende a inferiorizar a tradição, contudo a humanidade ainda se orienta
muito entre o que é moderno e a tradição, com tendência a alimentar cada vez mais o
que é tradicional. Consequentemente, há cada vez mais uma revitalização dos saberes
locais e um respeito pela vida humana. Assim,
“a educação deve proporcionar às pessoas os instrumentos cognitivos e as capacidades necessárias para que, a partir da mobilização, da autogestão e da prática dos seus direitos, possam transformar a realidade e melhorar as suas condições de vida (…) falar de educação
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equivale referir a um elemento de um projeto mais amplo que é planificar a sociedade do futuro; é contribuir para socializar as novas gerações com base no estudo e na reflexão do atual (sic) legado cultural de que dispomos e capacitá-las para desenhar um mundo melhor” (Gómes, 2007, p.243).
Compete a cada elemento capacitar a sociedade local para que esta se desenvolva como
um todo. É mais fácil e mais eficaz começar do particular (local) para o global, em
termos de desenvolvimento comunitário. Uma educação global deixa sempre para trás
os mais fracos, enquanto uma educação local personaliza o seu ato educativo em
detrimento das necessidades do grupo em si, numa perspetiva em espiral: o sucesso de
todos só depende do sucesso de cada um e vice-versa (Gómes, 2007).
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