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Capítulo 1 – EDUCAÇÃO VETOR DO DESENVOLVIMENTO

1.2 Educação e Desenvolvimento – um velho discurso

Esse discurso de aliar educação e desenvolvimento não é recente. Cunha (1991) procura demonstrar, que se trata de um discurso que tem um papel ideológico. Ele procura livrar o sistema capitalista de maiores críticas. Segundo a ótica liberal, o sistema educacional teria um papel de gerar oportunidades de ascensão social, garantindo a "igualdade de oportunidades". Diversos estudos demonstraram que esse discurso não se sustenta, o desenvolvimento de uma nação se dá por um conjunto de fatores.

Não basta "valorizar" a educação no discurso, é preciso ir além das aparências e buscar saídas que se perpetuem.

Para Marx e Engels, a educação não só está diretamente ligada ao desenvolvimento material do mundo e interesses de classe, mas, também tem um papel político e transformador social, uma práxis libertadora capaz de contribuir para uma mudança de mentalidade e com a construção de uma nova ordem social.

A educação tem como tarefa histórica à emancipação do homem, sua libertação das ilusões ou "ideologias”, mostrando-lhe as raízes sociais e gerando uma práxis revolucionária para modificar o mundo.

Os aspectos globais e institucionais do desenvolvimento exigem, hoje, da educação, múltiplas tarefas, que não podem confinar-se aos seus tradicionais limites. A primeira finalidade da educação é a formação da personalidade humana e, a partir dessa, sua atuação fundamental, que atinge as finalidades mais vastas de reconversão da estrutura sociocultural. Por esta razão, a educação não pode limitar- se ao ensino ministrado de forma sistematizada, socialmente organizada.

Com efeito, a educação não pode ignorar o ensino feito pelas próprias estruturas sociais e ambientais, ou seja, a formação adquirida por reflexão própria sobre dados apreendidos na experiência. Nesta dimensão mais ampla é que devem ser entendidas as inter-relações e dependências entre a educação e o progresso social.

A educação não pode ser reduzida a esquemas racionais desligados dos múltiplos vínculos que a unem à realidade social. Pelo contrário, devem ser definidas e concretizadas as tarefas genéricas que lhe cabem perante o desenvolvimento.

Faz-se necessária uma abordagem na diferenciação do que é

desenvolvimento econômico e desenvolvimento socioeconômico.

A teoria do desenvolvimento econômico tem suas origens na análise de Marx das forças internas do sistema econômico, que atuam na base do processo de desenvolvimento capitalista. Segundo Singer (1982), Shumpeter atribui o desenvolvimento econômico às transformações na área econômica, determinadas

pelas inovações que rompem o estado de equilíbrio, ou seja, a introdução de novos métodos produtivos, a abertura de mercados e a descoberta de novas fontes de matéria-prima.

Nesta linha de pensamento, Singer (1982) divide as interpretações de desenvolvimento econômico em duas correntes: a que identifica desenvolvimento como crescimento econômico, onde a ausência de crescimento econômico caracteriza o subdesenvolvimento; e a corrente que distingue desenvolvimento de crescimento e vê o crescimento como um processo de expansão quantitativa. Ao passo que o desenvolvimento é encarado como um processo de transformações qualitativas dos sistemas econômicos prevalecentes nos países subdesenvolvidos.

Assim, crescimento pode ser definido como a expansão do produto real de uma economia durante determinado período de tempo, sendo condição indispensável para o desenvolvimento, mas não suficiente para atender aos anseios da sociedade. Portanto, a idéia de desenvolvimento está necessariamente associada às condições de vida da população.

Para Rosseti (1987), desenvolvimento econômico é um processo pelo qual, ao longo do tempo, se modificam caracteres essenciais das estruturas sociais e econômicas, definidores de um processo amplo de desenvolvimento.

Contempla os seguintes aspectos:

- crescimento do produto real per capita, associado à gradual melhoria da estrutura de repartição da renda e da riqueza;

- redução dos bolsões de pobreza absoluta;

- elevação das condições qualitativas de saúde, de nutrição, de educação, de moradia e de lazer, extensivas a todas as camadas sociais;

- melhoria dos padrões de comportamento no plano político;

- melhoria dos padrões segundo os quais se combinam os fatores de produção, não apenas no plano tecnológico, mas também nas relações que se estabelecem entre a força de trabalho e os que detêm propriedade ou o controle da capacidade instalada;

- melhoria nas condições ambientais, quer resultem de mudanças nos padrões de exploração das reservas naturais básicas, quer de eliminação de externalidades associadas à redução da qualidade de vida; e

- gradativa remoção de sistemas de valores que dificultam a ocorrência de processos sociais de mudança, conducentes ao desenvolvimento.

Para Montoro Filho (1998), o desenvolvimento econômico consiste em mudanças de caráter quantitativo dos níveis do produto nacional, nas modificações que alteram a composição do produto e na alocação dos recursos pelos diferentes setores da economia.

No entanto, para melhoria da qualidade de vida das pessoas, é necessário promover o desenvolvimento socioeconômico, que se dá por meio da conjugação dos capitais existentes, que envolvem as várias áreas da vida humana. Peres (2002) destaca as principais formas de capitais: o capital físico (construções, tecnologia, equipamentos); capital natural (solo, subsolo, clima); capital financeiro (créditos, poupança, títulos); capital humano (educação, saúde); e capital social (confiança; grupos; civilidade).

O conceito de desenvolvimento humano é, pois, muito mais vasto do que afirmado pelas teorias clássicas de desenvolvimento econômico. Nesse cenário, a educação tem de estar voltada ao desenvolvimento humano e econômico sustentável. Talvez se possa, exagerando um pouco, admitir que, assim como se considera a água, do ponto de vista econômico, um dos bens mais preciosos da humanidade, também o é a educação.

Para que ocorra essa transformação no modelo econômico, ou, pelo menos, se possa garantir essa característica de sustentabilidade, é que a educação desempenha um papel fundamental em todas as camadas da população, quer seja esta classificada por faixa etária, nível econômico ou outro critério.

A educação diz respeito a todos, no decorrer de toda a vida, e deve estar preocupada com a desigualdade no mundo, a degradação ambiental, o aumento da pobreza, a exclusão social e por questionar o modelo de dominação vigente. A

preocupação com o estabelecimento de uma nova ordem nas relações põe em xeque todo esse agir, surgindo a necessidade da sociedade do conhecimento.

Segundo Ponchirolli (2005) o capital humano será fundamental para a organização do futuro e o aprender a conhecer, a fazer, a conviver e o aprender a ser, são habilidades e competências principais no mercado competitivo. Essas habilidades e competências nos ajudarão a prosperar neste século.

Afirma Tedesco (2003), este somatório de análise da situação e de perspectivas da educação, permite-nos entender, que os desafios a serem enfrentados em futuro próximo, referem-se a três objetivos principais: a equidade

social, a competitividade econômica e a cidadania política. A educação é

provavelmente a única política pública, que produz efeitos simultâneos nos três objetivos mencionados.

Pesquisa científica e educação são à base da geração de riqueza. A organização econômica e social é centrada na posse da informação do conhecimento e na utilização do capital humano, que significa pessoas estudadas e especializadas.