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Educação Física no contexto da Educação Infantil

No documento Creche e Emei : encontro ou confronto (páginas 59-65)

CAPÍTULO IV – MARCOS TEÓRICOS

4.3 Movimento e Aprendizagem – Educação Física

4.3.2 Educação Física no contexto da Educação Infantil

A fase inicial da vida do homem se caracteriza por concentrar as aquisições elementares, para o restante de seu desenvolvimento. O ser humano, da gestação à velhice, estabelece um contínuo processo de interação e trocas com o mundo. Portanto, em todo seu processo de crescimento, desenvolvimento, socialização, aprendizagem, apropriação cultural e desenvolvimento cognitivo, estes processos de interação e trocas, serão mediados pela efetiva ação do corpo e do movimento, onde o indivíduo passa a estabelecer inúmeras gamas de signos e

significados, que possibilitarão incorporar para si os conhecimentos derivados da interação com seu meio.

Ou seja, existe um processo dialético entre o desenvolvimento e a aprendizagem, onde o sujeito que aprende está envolvido em constantes transformações, que se modificam a cada nova interação e nesse processo, o sujeito e o meio, não existem enquanto instâncias isoladas, eles definem-se a partir de suas interações, que continuamente ocasionam novas configurações, tanto no sujeito, quanto no meio.

Nesse sentido, as condições socioculturais e as interações sociais estão extrinsecamente ligadas ao desenvolvimento humano, pois elas são o “cenário” no qual acontecem o desenvolvimento e a aprendizagem. Só que não é um cenário estático, é um cenário também interativo, que fornece muitas das bases da interação humana com o conhecimento.

Segundo Paul Schilder (2000), são nas interações sociais, que também são a relação entre dois corpos, que o indivíduo descobre seu próprio corpo, inicialmente como uma unidade independente da mãe – até então para a criança, ela e a mãe constituem um corpo único – e gradativamente vai se percebendo como uma pessoa. Inicia-se a seguir um processo de descoberta de que pessoa ela é, como ela é, ou seja, ela estabelece uma busca por sua identidade / personalidade. Nesta construção há um teste constante para determinar o que pode ser incorporado a seu corpo, o que se dá através da observação dos corpos das outras pessoas, sendo o movimento o principal mediador nesta construção. O modelo postural do corpo, portanto, não é estático, ele é construído, desmanchado e reconstruído segundo as circunstâncias da vida, através de processos de identificação, personificação, e projeção.

Neste processo, a criança vai tomando consciência de si enquanto ser, estabelecendo uma imagem corporal e, portanto, uma identidade.

É através da exploração do corpo e do espaço, que os indivíduos se evoluem para que este desenvolvimento seja integral, é necessário o estabelecimento da interação entre as ações motoras, visuais, táteis e auditivas sobre os objetos do seu meio. Portanto, apesar das crianças serem dotadas de uma necessidade natural de correr, pular, trepar, dependurar-se, o ideal é que tenham liberdade para explorar as suas habilidades motoras, pois o seu desenvolvimento harmonioso, tanto físico como mental, depende de toda a movimentação que executa espontaneamente. Sendo assim, durante seu processo de desenvolvimento, o sujeito construirá conhecimentos e também uma linguagem corporal e ou gestual, e estas construções não dependem apenas das suas capacidades biológicas e psicológicas, mas também, conforme destaca Freire,1989, das condições do meio ambiente no qual ele vive.

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O corpo mediando a exploração e a apropriação do objeto

Sendo assim, é na infância, conforme destaca Vygotsky, que se estabelecem as principais e fundamentais relações que ativam os processos superiores da mente. Justamente por isso que a Educação Infantil escolar, deve ter a clareza de que o conhecimento deve ser experienciado como algo atraente e necessário à vida e à cidadania. E para se construir conhecimentos significativos é necessário que a aprendizagem se dê na experiência e na interação com o meio. E é somente considerando e estimulando o espaço das diferenças entre as crianças e entre as crianças e os adultos, que se pode construir a capacidade de criticar, de argumentar, de transformar e inventar.

Dançando na Festa Junina Explorando as tintas

O desenvolvimento em todas as áreas e níveis tem influência decisiva para o resto da vida,...poderíamos afirmar que este período é o mais importante da vida do ser humano, pois no espaço de um ano a criança passa da total dependência do adulto para uma independência parcial, sobretudo no que se refere ao desenvolvimento motor. ” (PÉREZ GALLARDO, 1998, p. 59)

Assim, as atividades lúdicas são fundamentais ao processo de desenvolvimento, pois o “brincar” é o estímulo que a criança recebe e que favorece que ela, espontaneamente coloque em ação seus movimentos, podendo assim, explorar intensamente seu potencial motriz, elaborando e descobrindo novas formas de movimentos que consegue executar.

Nessa perspectiva, “(...) a estimulação motora deve seguir o conceito de “Estimulação Horizontal”, que visa a obtenção de diversas experiências motoras no nível de domínio de uma determinada habilidade. A sua preocupação não está no domínio de futuras habilidades, senão na obtenção de uma base sólida e diversificada de experiências dentro das habilidades que o educando domina. Seu objetivo é permitir ao educando uma série de experiências, em situações diversas, para que ele possa ter uma base que lhe permita responder de forma adequada aos

diferentes requerimentos da vida em comunidade(...)” (PÉREZ GALLARDO in PICCOLO; p.131, 1993).

Segundo Pérez Gallardo (2002), ao se pensar no contexto escolar e em uma intervenção educativa que facilite e potencialize o desenvolvimento infantil, devemos ter dois grandes objetivos educacionais:

1º- Formação Humana – que são as normas, regras e regulamentos que servem de base para a

organização de um grupo social;

2º- Capacitação – que são os conhecimentos que se acreditam úteis para viver dentro dessa

organização social.

Um Currículo de Educação Infantil, portanto, deve integrar os elementos da cultura patrimonial, familiar, popular e folclórica com as áreas de conhecimento. Esses conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada e não separadamente, dando oportunidade à criança de se apropriar e de produzir cultura.

Quanto mais ricas forem as experiências que as crianças vivenciam, mais possibilidades terão de desenvolver a curiosidade, a imaginação e a criatividade como elementos integrantes da gênese de seus conhecimentos. O que possibilita a criança a pensar sobre sua ação, sobre o seu mundo e sobre ela mesmo. Um processo crescente de pensar sobre o pensar, de agir com

intencionalidade de agir, de antecipar e por fim, possuir uma ação intencional e transformadora, constituindo-se como indivíduo autônomo intelectual, corporal e socialmente.

“O objetivo principal na fase Pré-Escolar, é que as crianças adquiram autonomia estimulada por atividades que potencializem o seu desenvolvimento, desencadeadas por ações motoras” (PÉREZ GALLARDO, 2002).

Aluno não portador de necessidades especiais, experienciando andar de muletas

Ou seja, o homem está em um constante processo de descoberta e construção de si mesmo, não adiantando acumular conhecimentos que em nada contribuam para sua constituição e descoberta enquanto indivíduos únicos, capazes de atuar consciente e criticamente em condições de transformar o mundo.

No documento Creche e Emei : encontro ou confronto (páginas 59-65)

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