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1. Jogos Educativos

1.6. O jogo na educação

Cada vez mais os jogos estão a assumir-se como um ótimo recurso didático, permitindo diversificar as estratégias de ensino.

“As concepções tradicionais de educação dão prioridade à aquisição de conhecimento, à disciplina e à ordem, impedindo os processos de ensinar e aprender por intermédio do brinquedo, do jogo, do aspecto lúdico e o do prazer.” (Silva, 2008: 18), mas apesar de muitos ainda serem céticos quanto à utilização deste tipo de ferramenta, argumentando que desvirtua o processo de ensino-aprendizagem, não podemos alinearmo-nos das suas potencialidades.

Tal como Valente (n.d.: 2) defende, “a pedagogia por trás dos jogos educacionais é a da exploração autodirigida ao invés da instrução explícita e direta”.

Ao longo das últimas décadas muitos estudiosos têm-se debruçado sobre esta temática o que conduziu a uma nova filosofia de ensino que defende vantagens na aprendizagem quando a criança é livre para descobrir relações por ela mesma, ao invés de ser explicitamente ensinada.

Compete assim, a todos os agentes educativos, construir uma Educação alicerçada numa Escola que se assuma como “um lugar de aprendizagem em vez de um espaço onde

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o professor se limita a transmitir o saber ao aluno; deve tornar-se num espaço onde são facultados os meios para construir o conhecimento, atitudes e valores e adquirir competências.” (MSI, 1997: 39).

1.6.1. O jogo no processo de ensino aprendizagem

A introdução do jogo no processo de ensino aprendizagem é hoje uma realidade e necessário ao nosso desenvolvimento, assumindo uma função vital como forma de assimilação da realidade.

Segundo Vygotsky (1999) o lúdico, influência de forma decisiva o desenvolvimento da criança. É através do jogo que a criança aprende a agir, desperta a sua curiosidade, adquire iniciativa, autoconfiança e desenvolve a linguagem, o pensamento e a concentração.

Lara (2004) afirma que os jogos têm vindo a ganhar maior destaque na escola, numa tentativa de trazer o lúdico para dentro da sala de aula. Acrescenta ainda que a sua utilização visa tornar as aulas mais agradáveis com o intuito de potenciar um processo de ensino aprendizagem mais fascinante, estimulando o raciocínio e a socialização, levando o aluno a enfrentar situações conflituosas, relacionadas com o seu quotidiano.

A aprendizagem através de jogos, como dominó, palavras cruzadas, memória e outros permite que o aluno faça da aprendizagem um processo interessante e até divertido. Para isso, eles devem ser utilizados ocasionalmente para sanar as lacunas que se produzem na atividade escolar diária. Neste sentido verificamos que há três aspectos que por si só justificam a incorporação do jogo nas aulas. São estes: o caráter lúdico, o desenvolvimento de técnicas intelectuais e a formação de relações sociais.

(Groenwald & Timm, 2002 cit. por Lara, 2004: 23)

Quando são propostas atividades com jogos, a reação mais comum é de alegria, prazer e grande recetividade pela atividade a ser desenvolvida, uma vez que o interesse pelo material do jogo, pelas regras ou pelo desafio proposto envolvem o aluno, estimulando-o e motivando-o.

Neste plano o professor deve estar atento à especificidade dos seus alunos, fazendo um esforço em diversificar os métodos e técnicas tradicionais, acreditando que o lúdico é eficaz como estratégia de melhoria do processo de ensino aprendizagem, sem no entanto cair no erro de desvirtuar todo o processo com a utilização de jogos desenquadrados do contexto da aula, devendo ter o cuidado de, como Antunes (1999) afirma, utilizar os jogos

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devidamente enquadrados na planificação das atividades e tendo sempre presente se os mesmos servem para atingir os objetivos delineados.

Em primeiro lugar o jogo ocasional, distante de uma cuidadosa e planejada programação, e tão ineficaz quanto um único momento de exercício aeróbico para quem pretende ganhar maior mobilidade física e, em segundo lugar, uma grande quantidade jogos reunidos em um manual somente tem validade efetiva quando rigorosamente selecionados e subordinados à aprendizagem que se tem em mente como meta.

(Antunes 1999: 37)

Podemos assim afirmar que a utilização de jogos é importante para uma melhoria na educação, potenciando uma aprendizagem significativa que ocorre gradativamente e inconscientemente de forma natural, tornando-se uma ferramenta preponderante para potenciar os bons resultados, mas que não dispensa a intervenção do professor para ajudar a desenvolver e a consolidar essas competências.

1.6.2. Vantagens e desvantagens da utilização dos jogos

O uso de jogos em sala de aula requer processos de ensino e aprendizagem diferentes dos presentes no modelo tradicional de ensino, em que prevalecem como principais recursos didáticos o livro e os exercícios padronizados. Tal como Antunes (1999: 36) afirma “A ideia de um ensino despertado pelo interesse do aluno acabou transformando o sentido do que se entende por material pedagógico e cada estudante, independentemente de sua idade, passou a ser um desafio à competência do professor.”

Apesar da evolução que tem sido lavrada nas últimas décadas, continua presente a discussão entre a sua utilização ou não, e quais as reais vantagens ou desvantagens, da utilização dos jogos em contexto educativo, havendo prós e contras nas duas perspetivas, bem como defensores e opositores acérrimos das mesmas.

Mais do que extremistas ou fundamentalistas, temos de olhar para a educação como algo volátil, com exigências diárias e sem receitas milagrosas para o sucesso, devendo todos os professores e educadores, mais do que defender uma posição, adequar a sua utilização aos reais desafios que diariamente lhes vão sendo colocados.

Vários autores salientam que antes de utilizar jogos o professor deve ter em conta que estes podem ocasionar vantagens e/ou desvantagens no processo de ensino aprendizagem, dependendo da maneira como forem utilizados.

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Valente (1993) assinala como grande vantagem a capacidade de explorar conceitos que podem ser difíceis de serem assimilados, uma vez que são demasiado teóricos e sem aplicação prática imediata, tais como os conceitos de trigonometria, de probabilidade, etc. No entanto o mesmo autor destaca que o grande problema dos jogos é que a componente competitiva pode desviar a atenção do aluno do conceito envolvido no jogo.

Lara (2004) aponta também a competição como uma desvantagem, no entanto acrescenta, que esta situação nem sempre advém do jogo em si, mas muitas vezes é o professor quem sem se dar conta destaca um vencedor ou um perdedor, ao invés de demonstrar que o objetivo do jogo é fazer com que todos atinjam um desenvolvimento adequado, motivando os alunos a interessarem-se pelo jogo, reconhecendo as suas dificuldades e detetando as suas falhas e erros no decurso do jogo.

Grando (2004) afirma igualmente que, analisando a sua implicação e utilizados de forma adequada os jogos são ótimos recursos, no entanto acarretam sempre vantagens e desvantagens.

Tabela 3: Vantagens e desvantagens dos jogos (Grando, 2004)

Vantagens Desvantagens

(re) significação de conceitos já aprendidos de uma forma motivadora para o aluno;

introdução e desenvolvimento de conceitos de difícil compreensão;

desenvolvimento de estratégias de resolução de problemas (desafio dos jogos);

aprender a tomar decisões e saber avaliá-las;

significação para conceitos aparentemente incompreensíveis;

propicia o relacionamento das diferentes disciplinas (interdisciplinaridade); o jogo requer a participação ativa do

aluno na construção do seu próprio conhecimento;

o jogo favorece a integração social entre os alunos e a conscientização do trabalho em grupo;

quando os jogos são mal utilizados, existe o perigo de dar ao jogo um caráter puramente aleatório, tornando-se um “apêndice” em sala de aula. Os alunos jogam e se sentem motivados apenas pelo jogo, sem saber porque jogam; o tempo gasto com as atividades de jogo

em sala de aula é maior e, se o professor não estiver preparado, pode existir um sacrifício de outros conteúdos pela falta de tempo;

as falsas concepções de que se devem ensinar todos os conceitos através do jogo. Então as aulas, em geral, transformam-se em verdadeiros cassinos, também sem sentido algum para o aluno;

a perda da “ludicidade” do jogo pela interferência constante do professor, destruindo a essência do jogo;

a coerção do professor, exigindo que o aluno jogue, mesmo que ele não queira, destruindo a voluntariedade pertencente à natureza do jogo;

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Vantagens Desvantagens

a utilização dos jogos é um factor de interesse para os alunos;

dentre outras coisas, o jogo favorece o desenvolvimento da criatividade, do senso crítico, da participação, da competição “sadia”, da observação, das várias formas de uso da linguagem e do resgate do prazer em aprender;

as atividades com jogos podem ser utilizadas para desenvolver habilidades de que os alunos necessitam. É útil no trabalho com alunos de diferentes níveis;

as atividades com jogos permitem ao professor identificar e diagnosticar algumas dificuldades dos alunos

a dificuldade de acesso e disponibilidade de material sobre o uso de jogos no ensino, que possam vir a subsidiar o trabalho docente