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Educação na Diversidade: experiências e desafios na Educação Intercultural

3. SOBRE OS MATERIAIS PRODUZIDOS PELO MEC

3.1. Os materiais de formação do MEC

3.1.6. Educação na Diversidade: experiências e desafios na Educação Intercultural

O último livro da série a ser analisado foi publicado no ano de 2009, com 349 páginas e tiragem de 7.000 cópias, e tem a intenção de servir de complemento para o livro anterior ao reunir textos organizados por Ignácio Hernaiz referentes ao Seminário Internacional Educação

na Diversidade. Experiências e Desafios da Educação Intercultural Bilíngue, realizado em 2003

na Cidade do México. Ele é dividido em quatro partes: Diversidade e Educação Intercultural Bilíngue: estados da arte na América Latina, As Políticas Públicas e a Educação na Diversidade, Educação e Diversidade na Iniciativa Comunidade de Aprendizagem e Experiências sobre Educação Intercultural Bilíngue na América Latina. Dentro de cada uma delas, há textos de diferentes autores, de diferentes países, todos participantes do seminário sobre a questão da educação escolar indígena.

Trata-se de um livro importante por gerar o intercâmbio entre as políticas linguísticas e educacionais assumidas por outros países da América, além disso, por trazer indicações de

21 HERNAIZ, Ignácio (Org.). Educação na Diversidade: experiências e desafios na Educação Intercultural

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diversos trabalhos acadêmicos sobre a temática da educação escolar indígena, o que se torna bastante relevante para os que desejam aprofundar-se no assunto.

No seu decorrer, são levantados como desafios e dificuldades os mesmos pontos trabalhados pelos outros livros referentes à educação escolar indígena no Brasil, tais como o fato de o ensino bilíngue restringir-se muitas vezes ao ensino básico, a baixa autoestima indígena – provocada por séculos de preconceitos e que acaba por colaborar com as dificuldades enfrentadas no ensino bilíngue intercultural, já que muitos indígenas veem o aprendizado da língua oficial como forma de ascensão social e como meio de dificultar serem enganados em suas relações comerciais, não desejando, portanto, o ensino focado na língua materna –, as dificuldades enfrentadas na formação de professores indígenas qualificados, além da falta de qualidade no ensino da língua oficial.

Há no livro também a descrição dos principais aparatos legislativos em diferentes países da América e dos projetos desenvolvidos em cada um deles. A descrição dos projetos é interessante à medida que podem vir a servir de inspiração para que os indígenas brasileiros elaborem seus próprios projetos, de acordo com suas características como sociedades. Também os problemas levantados nos projetos podem auxiliar na elaboração dos planos brasileiros, evitando-se as experiências negativas vividas pelos grupos indígenas de outros países.

A definição ortográfica é apontada como uma necessidade referente à conservação das línguas minoritárias e à educação escolar intercultural bilíngue. Além disso, a escola é colocada como um dos principais agentes no processo de revitalização e manutenção das línguas, sendo o foco maior na educação intercultural, tanto na educação escolar indígena quanto na não indígena, diferentemente do que ocorre nos outros livros da coleção, que, apesar de indicarem a importância da educação intercultural nas escolas não indígenas, não focam nesse tópico. Dessa maneira, a interculturalidade efetiva é vista como possível somente em um contexto em que todas as sociedades envolvidas assumam uma postura positiva e ativa à sua existência. Em um dos textos, inclusive, há a sugestão de que os indígenas participem também na elaboração de currículos não indígenas, como meio de apontarem as características de seus povos que desejam ver expostas para os não índios.

Nos diversos textos trazidos há também o reconhecimento da importância do bilinguismo e a afirmação de que uma educação bilíngue não é necessariamente intercultural, já que a interculturalidade não se relaciona somente ao uso de duas línguas dentro da sala de aula, mas às

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atitudes positivas e de respeito de todos, em todas as sociedades envolvidas, envolvendo, portanto, três eixos: ensino – aprendizagem – ação.

A história do bilinguismo como prática assimilacionista é trabalhada, já que seu processo foi semelhante em quase toda a América, havendo ainda muitos resquícios dessa atividade, sendo reconhecida a lentidão no processo de transformação do bilinguismo como prática assimilacionista para prática libertadora ou emancipatória.

Pela leitura dos textos percebe-se a participação de entidades estrangeiras nos projetos, denotando que tal prática não é comum somente no Brasil, mas também em outros países da América, o que demonstra as dificuldades dos governantes em lidarem com suas obrigações perante as comunidades indígenas. Além disso, fica clara também a semelhança com as comunidades indígenas brasileiras quando é realizada a análise sobre as condições de vida dos indígenas nesses países, já que são altos os índices de pobreza e de repetência entre eles.

Uma concepção freireana é diversas vezes retomada como essencial no processo de democratização da educação intercultural e o reconhecimento do outro como igual em seus direitos, mas diferente em suas especificidades, o que representa uma imensa riqueza cultural.

Ao final do livro encontram-se dois anexos, o primeiro deles sem grande sentido, já que se trata da agenda do seminário que deu origem ao livro, ocorrido em 2003, tendo sido ele publicado no Brasil pelo MEC somente em 2009; já o segundo anexo traz informações sobre os projetos financiados pela Fundação Kellog e suas características. Apesar de a obra praticamente não trazer informações sobre a situação da educação escolar indígena no Brasil, o anexo apresenta também os projetos financiados pela fundação no Brasil.

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4. O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA AS ESCOLAS