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CAPÍTULO II ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.9. Escola/Educação: Que desafios para o Séc XXI?

2.9.1. Educação para a Saúde

O conceito de Educação para a Saúde tem vindo a sofrer alterações ao longo dos tempos, sendo resultado da influência de factores sociais, políticos, culturais e económicos.

Numa perspectiva clássica, Educação para a Saúde, foi definida como uma actividade passiva, referenciada na altura como educação sanitária. Wood (1926) descreve-a “como a soma de experiências e impressões que influenciam favoravelmente

os hábitos, atitudes e conhecimentos, relacionados com a saúde do indivíduo e comunidade”(cit in Precioso, 1992; Navarro, 2000). As estratégias para fomentar a

Educação para a Saúde, nesta concepção, são caracterizadas por múltiplas proibições, relacionadas com o consumo de álcool, tabaco ou prescrições de dietas. Desta forma, pensa-se que a saúde dos indivíduos é o resultado de recomendações (Martins, 2002). A implementação desta metodologia é entendida como garantia de uma melhoria do estado de saúde, por se pressupor que os indivíduos informados têm mais saúde, ou seja, os indivíduos adoptam comportamentos ou estilos de vida saudáveis se estiverem bem informados sobre os factores que provocavam as doenças. Nesta perspectiva, aceita-se que o educador de saúde é que determina quais os comportamentos que o indivíduo deve adoptar (Viana, 2001). Desta forma, é notório que estas intervenções consistam em abordagens informativas, com o predomínio de orientações sobre saúde/doença, sendo evidente a influência do modelo biomédico.

Em 1973 o artigo The report of the President’s Committee on Heallth Education perspectiva a Educação para a Saúde como “um processo que serve de ponte entre a

informação, saúde e práticas de saúde” (cit in Greene et al, 1988). Esta definição constitui

um ponto de referência do início da Educação para a Saúde como uma realidade activa dado que é entendida como um processo onde se criam laços importantes entre a comunicação e as práticas de educação.

Green (1984) define Educação para a Saúde como “qualquer combinação de

experiências de aprendizagem planeadas com o objectivo de facilitar mudanças voluntárias de comportamento que conduzam à saúde” (Green et al., 1984: cit in Greene et al., 1988). Nesta definição verifica-se um grande esforço para englobar variáveis e

estratégias inerentes a um processo educativo.

Nas concepções acima descritas, a Educação para a Saúde é, sobretudo, um processo educativo onde se atribui grande ênfase à comunicação e reflexão, com o objectivo de modificar comportamentos e hábitos relacionados com problemas de saúde.

A grande responsabilidade da sua concretização diz respeito ao indivíduo nas opções relativas à sua saúde e bem-estar.

A Educação para a Saúde tem por função facilitar mudanças de estilos de vida, de forma voluntária, através da adopção de comportamentos que permitam melhorar, restabelecer ou mesmo recuperar a saúde, num processo interactivo que promova a liberdade e responsabilidade dos indivíduos (Amorim, 1999).

Na perspectiva da modificação de comportamentos, a definição, de Green anteriormente citada, é considerada como um grande passo por referenciar acções diversas da Educação para a Saúde. No entanto, não inclui aspectos importantes como a cultura, valores individuais ou colectivos, a motivação e auto-estima, que se julga, hoje, serem essenciais neste processo. Ao perspectivar Educação para a Saúde, pretende-se orientar o indivíduo, no sentido de que a saúde deve ser estimada como um recurso, que lhe permite sentir-se bem e, ainda, que seja capaz de criar hábitos, comportamentos de saúde e utilize “reservas” pessoais e ou sociais para lutar contra a doença e enfrentar e resolver alguns problemas quotidianos.

Actualmente, a Educação para a Saúde visa uma maior responsabilidade individual e colectiva nas opções relativas à saúde e bem-estar (Pestana, 1996).

Nas diferentes concepções, Educação para a Saúde, é descrita como um valor; toda a educação pretende ajudar o educando a adquirir conhecimentos (saber), a desenvolver a sua personalidade (saber ser), a saber fazer (práticas). Para que tal aconteça, é necessário que o educando compreenda, analise, seja capaz de reflectir, avaliar e adquirir competências ou habilidades (San Martín, Pastor, 1988 cit in García Martínez et al., 2000).

Na sequência do que se tem vindo a referir, a Educação para a Saúde pode ser conceptualizada como toda e qualquer combinação de experiências de aprendizagens planeadas, com vista a coadjuvar os indivíduos em mudanças voluntárias e conscientes promotoras de comportamentos saudáveis (Rogado e Teixeira, 1997). Estes autores referindo-se ao que preconiza a OMS, mencionam que a prática de Educação para a Saúde deve equacionar a viabilidade do planeamento e execução, questões éticas,

informação, comunicação, treino, avaliação e investigação.

Existem locais classificados de ideais para a implementação de projectos de Educação para a Saúde. A este propósito Green (1984), refere-se a três grandes áreas de intervenção da Educação para a Saúde: educação para a saúde na escola, na comunidade e em doentes (cit in Pastor Ruiz, 1999).

A Educação para a Saúde nas escolas tem como meta principal promover a saúde biopsicossocial das crianças e dos adolescentes. Os professores, em articulação com os pais, podem desempenhar um papel importante na transmissão de valores, conhecimentos e competências relativas à promoção da saúde e prevenção da doença.

A Educação para a Saúde na escola, realizada pelos profissionais de saúde, de um modo pontual, com cariz fortemente informativo e didáctico, tornou-se desenquadrada nos novos conceitos de saúde e educação (OMS, CEE e CE, 1995). A este propósito, Pestana (1995) refere: “Se é verdade que ninguém pode decidir adequadamente sobre o

que desconhece e o rigor da informação é portanto decisivo, é também verdade que, quando o público-alvo são crianças e adolescentes, a vertente cognitiva não é determinante na mudança de comportamentos e atitudes”. Neste sentido, Matos (2005),

defende que é urgente criar "uma área curricular da Educação para a Saúde nas

escolas", em idades entre os nove e os quinze anos.

Em síntese, Educação para a Saúde deve ser referenciada como um processo educativo associado à aquisição de capacidades e competências individuais e sociais necessárias ao exercício da cidadania. Neste sentido, a partir do próximo ano lectivo, a Educação para a Promoção da Saúde vai ser obrigatoriamente abordada no ensino Básico e Secundário, tanto de forma transversal nas diversas disciplinas, como integrada numa das três áreas curriculares não disciplinares já existentes: Área de Projecto, Formação Cívica ou Estudo Acompanhado. Nas escolas do ensino Secundário, serão ainda criados gabinetes de atendimento e de apoio aos alunos, em parceria com os centros de saúde, que contam com a colaboração de pessoal especializado.

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