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2.4. Educação permanente em saúde e Conselhos de Saúde

2.4.1. Educação permanente em Conselhos de Saúde no Brasil

No Brasil, estudos mostram que é longa a luta dos cidadãos em busca de participação nas decisões das políticas publicas de saúde. Citaremos exemplos destes marcos históricos em quatro Estados Brasileiros que ao nosso olhar estão avançados com relação aos demais Estados da Federação.

No Estado de São Paulo, em meados da década de 70 foi criada a Comissão de Saúde da região do Jardim Nordeste (zona leste da cidade de São Paulo), que também foi responsável pela organização geral do Movimento de Saúde na região e pela disseminação em outros grupos comunitários da cidade desse tipo de discussão e atuação em torno da questão da cidadania e saúde. Sem dúvida, o Movimento de Saúde da Zona Leste (MSZL) tornou-se uma referência na área da participação

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popular em saúde e cumpriu um papel fundamental na criação e consolidação dos espaços institucionais de participação, que foram estabelecidos constitucionalmente em 1988 (Bógus et al., 2003).

A educação de conselheiros foi uma das ferramentas do MSZL na busca da consolidação da participação da comunidade nas decisões das políticas de saúde pública do Estado de são Paulo, percebemos isto, quando analisamos o projeto dos Cursos de Formação Política dos Conselheiros de Saúde do MSZL que tinha como objetivo geral a capacitação dos participantes dos conselhos de saúde, através de cursos, procurando garantir: (1) a efetiva participação dos conselhos na condução dos programas de saúde; (2) que os conselhos tivessem acesso às informações essenciais à sua função, para que os mesmos pudessem, efetivamente, participar da tomada de decisões nas unidades de saúde; (3) que os conselhos fossem agentes de conscientização da população a partir dos problemas de saúde, buscando organizá-la para o desenvolvimento da sociedade; (4) que, à prestação de serviços de saúde, se integrassem ações educativas. Além disso, (5) pretendia-se formar multiplicadores para futuros treinamentos (Bógus et al., 2003).

Para Batista (2010), a Educação Permanente para o Controle Social no Sistema Único de Saúde é apresentada em vários momentos e as ações referentes à sua implementação são, inclusive, contempladas no Pacto pela Saúde. Os objetivos, estratégias de implantação e eixos estruturantes são evidenciados no Pacto de Gestão, fundamentados pela Política Nacional de Educação Permanente para o Controle Social no Sistema Único de Saúde – SUS.

Em relato de experiência, Batista (2010) descreve que no Município de Londrina/PR, concomitante aos marcos legais que estruturaram a participação da comunidade no SUS, o Conselho Municipal de Saúde (CMS) na figura de alguns conselheiros, trabalhadores em saúde e segmentos da academia já apostavam na estratégia de educação permanente para conselheiros de saúde, identificando nessa proposta a possibilidade de qualificar e fortalecer o controle social no município, desde os níveis locais, e mais, de (re)significar a participação popular na construção do SUS.

De acordo com o Conselho de Saúde Municipal de Fortaleza do Ceará (CMSF, 2010) o processo formativo dos conselheiros, conselheiras e outros (as) atores e atrizes sociais para a qualificação e fortalecimento do controle social na saúde do município de Fortaleza estará pautado na problematização do cotidiano em que os mesmos estão inseridos, tendo como principais referências a Educação Popular e a Política de Educação Permanente em Saúde. Desta forma, percebemos que o processo formativo de conselheiros municipais do Ceará, está em sintonia com a

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pedagogia de Paulo Freire, que prega uma educação problematizadora com elementos da própria realidade.

Observamos assim, no Estado do Ceará, uma forte sinalização em defesa da educação permanente para conselheiros de saúde, quando analisamos a versão do subprojeto I: Mobilização dos Colegiados de Educadores para organização do processo de capacitação de conselheiros e lideranças, para iniciar a execução do processo de educação permanente no âmbito do controle social, conforme a disposição política da gestão do município de Fortaleza.

O subprojeto proposto pelo conselho de saúde de Fortaleza tem por base, o documento “Diretrizes Nacionais para o processo de educação permanente no controle social do SUS” do GT de Capacitação de Conselheiros do Conselho Nacional de Saúde, aprovado na plenária do Conselho Nacional de Saúde em setembro de 2005, e o processo formativo visa:

- Oferecer ferramentas para os conselheiros de saúde no exercício de sua competência legal, disponibilizando informações, saberes e conhecimentos necessários à efetividade do controle social do SUS, bem como a garantia e a ampliação de seus direitos.

- Discutir as diretrizes e os princípios que definem o modelo assistencial do SUS, as metas a serem alcançadas e os obstáculos reais que dificultam a sua efetivação.

- Fortalecer a atuação dos Conselheiros (as) de Saúde e de outros (as) atores e atrizes sociais como elementos catalisadores da participação da comunidade no processo de implementação do Sistema Único de Saúde.

- Propiciar aos Conselheiros (as) de Saúde e outros (as) atores e atrizes sociais a compreensão do espaço dos Conselhos como locus de manifestação de interesses plurais freqüentemente conflitivos e negociáveis, tendo como horizonte as políticas públicas e de saúde congruentes com os princípios do SUS.

- Desenvolver estratégias que promovam o intercâmbio de experiências entre os Conselhos e os movimentos e práticas populares potencializando a articulação com suas bases e ampliação do conhecimento sobre os seus territórios.

- Contribuir para a formação de uma consciência sanitária que considere a compreensão ampliada de saúde e contemple sua articulação intersetorial com outras áreas das políticas públicas.

- Contribuir para uma compreensão de saúde que contemple as singularidades locais, regionais, étnicas, de gênero, raça, classe, culturais, bem como as diversas dimensões da subjetividade humana tais como a espiritualidade, afetividade, criatividade, entre outras.

- Contribuir para a estruturação e articulação de canais permanentes de informações sobre os instrumentos legais (leis, normas, regras, decretos e outros documentos presentes na institucionalização do SUS), alimentados pelos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais de Saúde, Entidades Governamentais e Não-Governamentais.

O Conselho Estadual de Mato Grosso através da Resolução n.º 16/07, publicada no Diário Oficial do dia 10 de maio de 2007 criou em caráter permanente, no âmbito do Conselho Estadual de Saúde, a Comissão Especial de Educação Permanente de Conselheiros e agente com a competência de:

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I - Planejar, coordenar, orientar e promover o funcionamento da Política de Educação Permanente de Conselheiros e Agentes Sociais;

II - Revisar e propor ao Conselho Estadual de Saúde a reorientação da Política de Educação Permanente de Conselheiros e Agentes Sociais quando julgar necessário;

III – Propor a elaboração do diagnóstico da situação do controle social no Sistema Único de Saúde no Estado de Mato Grosso;

IV – Propor a metodologia e elaboração de normas técnicas relativas ao funcionamento da Política de Educação Permanente de Conselheiros em consonância com as diretrizes Nacional e Estadual aprovadas pelo Conselho Estadual de Saúde.

De acordo com o Conselho, esta Comissão é constituída por Conselheiros do próprio conselho com um avanço significativo no sentido da abertura para convidar instituições, autoridades públicas, cientistas e técnicos para colaborar em estudos de interesse dacomissão.

A Resolução n.º 33/07 do mesmo Conselho, aprova o Regimento Interno da Comissão Especial de Educação Permanente de Conselheiros de Saúde e Agentes Sociais, ou seja, disponibiliza as ferramentas legais necessárias para o funcionamento da comissão.

Desta forma, percebe-se claramente que a política de educação permanente está sendo desenvolvida em outras unidades da federação como estratégia de fortalecimento para o controle social no SUS. Estão sendo construídas ferramentas legais, como portarias, resoluções, regimentos internos, no sentido de implantar, desenvolver e fortalecer as diretrizes nacionais para a educação permanente de conselheiros de saúde.