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Com a característica inata de ser social, o indivíduo, ao longo de sua jornada de vida, acumula vivências e as repassa ao outro. Corroborando Capra (2006), não há organismo individual que viva em isolamento. Vivenciamos as conexões ocultas da vida, e os fenômenos sociais baseiam-se numa concepção unificada da evolução da vida e da consciência.

Exercer o ser social que somos começa na família nuclear e vai além de suas fronteiras, dando continuidade na escola que, juntamente com outras entidades, representa o primeiro ambiente externo de formação de personalidade dos discentes (FATTORI et. al, 2010).

Quando Paulo Freire (2008) fala de uma educação como prática da liberdade, temos na escola e em toda rede social as ferramentas para o aprendizado da vida. Na interação com o outro praticamos o nosso ser social e tomamos consciência das estruturas sociais. Essa interação com o outro extrapola o núcleo familiar quando a criança vai para a escola. Ali é um mundo que se abre para o processo ensino-aprendizagem onde atores sociais estão presentes para dar continuidade ao aprendizado iniciado na família.

Paulo Freire (2008) fala da importância do trabalho realizado em conjunto, com muito diálogo, permitindo uma educação permanentemente atual e continuada, em que o respeito ao outro permite que o conhecimento seja compartilhado e multiplicado. E a escola é um espaço para essa prática multidisciplinar, onde o social é construído e fortalecido durante o processo histórico de cada pessoa, e os acréscimos de hábitos, culturas, valores são vivenciados nesse ambiente.

Desta maneira, aceitando a característica social dos seres humanos e valorizando suas relações com os outros, temos a possibilidade de a manifestação social se tornar uma conquista em prol dos seus direitos. Segundo Jacobi (2005), a educação tem importância significativa na sustentabilidade da vida na terra e no desafio da participação cidadã na política social. Ao permear todo o contexto de vida dos atores sociais, faz com que o processo social e político construído não tenha uma personalidade individual e sim uma personalidade entre todos os envolvidos. Isto é a verdadeira construção do coletivo (CECCIN, 2005).

O embasamento legal para o direito à educação começa desde a Constituição Federal de 1988 e está presente na Lei nº 9394, de 1996 que “estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional” e, também, na Lei nº 10.172, de 2001 que “Aprova o Plano Nacional de Educação”, dando ênfase à educação infantil:

Se a inteligência se forma a partir do nascimento e se há „janelas de oportunidade‟ na infância quando um determinado estímulo ou experiência exerce maior influência sobre a inteligência do que em qualquer outra época da vida, descuidar desse período significa desperdiçar um imenso potencial humano (BRASIL, 2001).

Também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394 de 1996, afirma que a formação social começa na infância:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996).

Temos, então, na infância o período de maior influência da educação para a formação da personalidade e do desenvolvimento humano com uma abertura significativa para as interferências do meio social (BRASIL, 2001). Sendo a escola o local onde as crianças passam grande parte do seu dia, é um espaço onde se reforçam e se aprendem hábitos levados para a vida toda (WEISS et al, 2006). E no

ato de frequentar a escola tem-se também, em curto prazo, acesso ao direito social da educação e, a médio e longo prazos, ganhos nos direitos políticos e civis.

Assim, lutar pela educação na infância como direito, segundo Cury (2008), é simplesmente inovador para um país que negou, por séculos, a seus cidadãos, o direito ao conhecimento. Mas o aprendizado carrega consigo, independentemente da garantia governamental, todo um contexto histórico-cultural, além de permitir a construção de modos singulares e individuais de assimilar e transformar as informações; há uma dinâmica existente entre o mundo cultural e o mundo interno de cada pessoa (BATISTA, 2004).

Desse ponto de vista, aprender se perpetua em todas as instâncias de nossas vidas, principalmente nas relações trabalhistas em um mundo globalizado. A profissionalização passa a ser um constante aprendizado, uma vez que ninguém fica impune às transformações que a globalização está a nos exigir (RÉGNIER, 2000).

No aprender, segundo Batista (2004), encontramos possibilidades de transformação, tais como: poder mudar, agregar, consolidar, romper, manter conceitos que vão sendo (re) construídos nas interações sociais e caracterizam, assim, o desenvolvimento de cidadãos em uma sociedade em transformação. Ocorre, então, o processo ensino-aprendizagem, possibilitando conhecer e descobrir, aprender e ensinar.

Tal aprendizagem tem a formação do indivíduo como base, mas abrange dimensões individuais e coletivas, permitindo movimentos de intervir no mundo, compreendendo-o e transformando-o (BATISTA, 2004).

A composição do social passa, então, a ter no processo ensino-aprendizagem uma força desencadeadora de alterações não somente nos ambientes, mas fundamentalmente nos outros e, por consequência, na sociedade (BATISTA, 2008).

Segundo Ceccin (2005), temos na saúde um bom exemplo do processo de descentralização e disseminação da capacidade pedagógica pela educação permanente, em que saberes e práticas são aliados ao processo para que se tenha uma melhor qualidade em todo o sistema de saúde.

A Educação Permanente em Saúde constitui estratégia fundamental às transformações do trabalho no setor para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva, propositiva, compromissada e tecnicamente competente (CECCIN, 2005).

Extrapolando para o caso do PNAE, o processo de descentralização de recursos para as escolas também oportunizou a troca de conhecimentos, uma vez que, em 2006, através da instituição da Portaria Interministerial nº 1010 entre Ministério da Educação e o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009), foi estabelecido o papel dos CECANEs. Estes realizam parcerias com as universidades tendo por objetivo principal contribuir com a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) no ambiente escolar. Assim, gerando conhecimentos, essa parceria traz subsídios para a tomada de decisão na esfera das políticas públicas de Alimentação e Nutrição, tanto nas escolas quanto na comunidade em geral, durante as ações de extensão (BRASIL, 2007). Assegura-se, desse modo, orientação/capacitação dos agentes municipais envolvidos com o PNAE, conforme reforça Santos et al (2008).

A vivência atual dos CECANEs implica, assim como na saúde (CECCIN, 2005), a prática do ensino-aprendizagem entre todos os envolvidos no PNAE: trabalhadores, gestores, conselheiros, alunos, pais, mães e cuidadores, desencadeando um processo de construção com toda a sociedade. Forma-se então

uma rede em que a integração do ensino, dos serviços, da gestão e da comunidade escolar passa a gerar uma construção permanente e dinâmica do conhecimento. Para a Saúde, fica o desejo de que a aprendizagem tenha o efeito da prevalência da sensibilidade, a destreza em saber fazer e a fluência na atuação da prática, a possibilidade de desencadear uma virada de valores, em que o crescimento dos compromissos com a educação permanente seja posto em favor das necessidades sociais (CECCIN, 2005).

Na experiência do SistemaÚnico de Saúde (SUS) relatada por Ceccin (2005), no processo ensino-aprendizagem tem-se a reclamação por parte dos gestores da formação inadequada dos estudantes e até a afirmação de que os estudantes não são expostos às melhores aprendizagens. Esses são nós críticos que deixam clara a necessidade de se construírem canais de comunicação com a produção do conhecimento, com as gestões e com o controle social; enfim, uma busca para o aprendizado não mais tecnicista, mas sim com uma abordagem integral e centrada nas histórias de vida (CECCIN, 2005).

Conforme Ceccin (2005), a educação permanente colocou uma prática de encontros e produção do conhecimento que nos leva a aprofundar o papel do social, uma vez que, como coloca Paulo Freire (2008): “somos um ser social”.

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