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1.2 DEFINIÇÃO E ENQUADRAMENTO TEÓRICO DA PROBLEMÁTICA

1.2.2. Educação popular, associativismo e democracia

A mobilização popular que decorreu depois do 25 de Abril de 1974, demonstrou a capacidade de agir, ou seja, esta atitude ficou associada a “lógicas de intervenção típicas da educação popular”. Demonstrou que houve iniciativa, auto-organização com grande autonomia.

Com a revolução de 1974, destacaram-se as associações populares, as antigas ou as criadas recentemente, ou ainda grupos de cidadãos com ânsia de criarem novas associações e fazerem parte da vida ativa política e social. Muitas destas associações incidiram a sua atividade em ações de alfabetização, projectos culturais, sociais e educativos, atividade de educação de base de adultos.

Estas iniciativas populares rejeitaram os poderes centrais e estatais assim como as campanhas de alfabetização. Stephen Stoer (1986) chamou a esta

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corrente/iniciativa “poder popular” que viria a confrontar-se com a corrente de alfabetização.

Entre 1975 e 1976 a lógica político-educativa da educação popular leva à criação de parcerias entre o Ministério da Educação e as associações de educação popular que viria a ser desenvolvida pela Direção-Geral da Educação Permanente.

Esta DGEP colocou-se do lado do associativismo socioeducativo, rejeitando “uma política de intervenção agressiva” oferecendo-lhes instrumentos jurídicos, de recurso e de meios pedagógicos adequados” (Melo e Benavente, 1978). Em 1976 a DGEP estava ligada através de estreitas relações com as muitas associações e a quem disponibilizava apoios de ordem técnica ou pedagógica (Melo e Benavente, 1978, p. 134).

Quando o Estado assume as suas funções tradicionais, a educação de adultos sofre algumas alterações. Há a necessidade e vontade de se constituir um “sistema e uma organização governamental de educação de adultos” (Rui Canário, Belmiro Cabrito, 2008, p.39) criando uma rede pública, da produção de legislação e outros instrumentos de regulação, da concessão de apoios, da elaboração de programas e metas a atingir sob recomendação da UNESCO. A Lei nº3/79, atribui ao Estado o facto de ter que elaborar um Plano Nacional de Alfabetização e de Educação de Bases dos Adultos, onde se iriam impor regras e metas para diminuir o analfabetismo em Portugal. Para isso seriam propostas programas de execução e estratégias de intervenção com parcerias entre o Governo e as Associações populares, onde valorizariam “projectos regionais integrados” e a criação de um Instituto Nacional de Educação de Adultos (Portugal 1979)

Porém, estas propostas não foram levadas em frente, o instituto nunca foi criado e as metas ficaram aquém do pretendido.

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Em meados de 1980, a DGEA (Portugal, 1986) resolveu que aquele plano havia sido abandonado e os apoios do Ministério da Educação à educação popular e às associações era agora inexistente.

Só em 1986, depois de Portugal fazer parte da CEE, foi aprovado a Lei de Bases do Sistema Educativo.

A lógica da educação popular de adultos e a importância do movimento associativo são postas de parte, marginalizadas por esta nova lei.

Questões sobre a alfabetização, educação de base e educação popular passaram a ser representadas como matérias incompatíveis e de desinteresse para a CEE uma vez que os maiores desafios passavam pela sua modernização económica, com o aumento da produtividade na economia. O analfabetismo foi ignorado pelo nosso Governo enquanto problema educativo e social, conferindo-se destaque ao “ensino recorrente” de adultos e formação profissional para jovens adultos pouco escolarizados. Este ensino era o chamado ensino de segunda oportunidade, para um público alvo que não tinha tido oportunidade de terminar o seu percurso formativo, e todo ele virado para um ensino formal. Este teve grandes problemas de abandono pois não havia a devida articulação com a educação extra-escolar.

Este ensino perdurou uma década (1980/1990), um ensino completamente afastado de apoios à educação popular e ao associativismo socioeducativo. A lógica político-educativa da educação popular sobrevive no conceito de sistema educativo através de projectos de investigação desenvolvidos por instituições do ensino superior em articulação com associações e afins.

As associações tinham surgido nos meados dos anos 80 com o objectivo de intervir junto da população mais carenciada e cujos estudos tinham ficado para trás, estava então direcionada para a educação popular e de base de adultos, assim como fazer esses públicos interagir no âmbito da sua ação social.

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Muitas são as iniciativas populares de educação de adultos, sob a frente de associações enquadradas em programas de financiamento de desenvolvimento rural, de formação profissional, solidariedade social, etc.

Apesar deste ser o possível caminho, “as perspetivas elitistas da democracia, associadas aos princípios da competitividade económica” (Rui Canário, Belmiro Cabrito, 2008, p. 43) continuam a querer prevalecer processos de aprendizagem individual.

A lógica político-educativa, sob os signos da modernização económica e de gestão de recursos humanos, emerge então em Portugal, indiferente à parca população adulta escolarizada e que se encontra culturalmente e economicamente excluída do “mercado de aprendizagem”.

Uma modernização autoritária tende a gerir a educação pública tendo em conta as exigências do crescimento económico e da competitividade entre os países da CEE. Trata-se de uma tentativa de qualificação para determinados setores económicos e da sociedade e não para a população em geral.

A formação de adultos tende, cada vez mais, a apagar-se, a formação profissional tende igualmente a esgotar o setor, continuamos a ter uma taxa elevada de analfabetização e literacia.

Em 1995, o programa eleitoral do PS, fez crer numa reforma na educação de adultos, prometendo uma política de desenvolvimento, promoção da educação extra-escolar, da educação para o desenvolvimento, ou seja, promete ter em conta a educação para adultos.

Em 1998, Alberto de Melo e a sua equipa, lança um documento de estratégia para desenvolver a educação de adultos. É urgente proceder ao desenvolvimento de uma política pública de educação de adultos.

Propõe-se que o Estado proceda urgentemente a uma política de educação de adultos criando um sistema nacional, financiando e desenvolvendo parcerias que deveriam ter em conta quatro áreas principais: formação de base, ensino recorrente, educação e formação ao longo da vida, educação para a cidadania.

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Esta estratégia insiste na criação de um sistema autónomo, descentralizado de “unidades locais”, na criação de centros de balanço de competências e estruturas de validação das aprendizagens com registo das entidades intervenientes em educação de adultos, criando uma estrutura específica para o efeito, “Agencia Nacional de Educação de Adultos”.

Todo este projecto estaria em sintonia com a lógica política educativa da educação popular, da educação de base de adultos e da educação cívica e para o desenvolvimento. (Melo 1998, p.61)

Em 1998, o Governo decide lançar este Programa para o Desenvolvimento da Educação e Formação de Adultos que conduzirá à criação da Agência Nacional de Educação de Adultos. Esta é apresentada em 1999 através do Decreto-Lei nº 387/99, “com a natureza de instituto público, sujeito à tutela e superintendência dos Ministérios da Educação e do Trabalho e da concepção, de metodologias de intervenção, da promoção de programas e projectos e do apoio a iniciativas da sociedade civil, no domínio da educação de adultos” ( do Preâmbulo do Decreto-Lei).

Porém esta agência viria a ser extinta com a vigência do XV Governo Constitucional (PSD e P. Popular) em 2002, tendo sido transformada num “conjunto limitado de valências inscritas incoerentemente no âmbito mais global da formação vocacional e de uma direcção geral com uma exacta designação” (Dec. Lei nº 208, 2002, 17 de Outubro”)

Este novo interregno da revalorização da educação de adultos, terminaria de novo. A lei orgânica do Ministério da Educação, não fez prevalecer a categoria “formação de adultos”, substituindo-a por “ qualificação dos recursos humanos”, “formação vocacional” e “qualificação ao longo da vida”.

A Lei de Bases do Sistema Educativo deste XVº Governo refere que a formação profissional e a ideologia das competências são a solução para o “atraso” do país.

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Esta acaba por ser uma aposta que não deu grandes frutos, pois o ensino recorrente continua a fazer parte apenas de um público mais jovem e restringido à população ativa para efeitos de qualificação profissional.

As perspetivas de modernização vêm sendo acentuadas, numa lógica de mercado e de subordinação da educação a orientações pragmáticas, de empregabilidade e competitividades económicas.

Apesar disso, a formação técnico-profissional tem grandes interesses visando colmatar o nível de desempregados do país.

Em jeito de conclusão, será importante lembrar que a educação de adultos é tão importante que surge, muitas vezes, ligada ao desenvolvimento local. São pessoas qualificadas que podem desenvolver a competitividade de uma empresa, o desenvolvimento de um concelho, de um país e do mundo. Alberto Melo (2005, p. 110) refere mesmo que “sem educação e formação de adultos, quanto a mim, não há um verdadeiro desenvolvimento local, haverá sim um certo número de decisões de tipo tecnocrático, de tipo burocrático, de tipo economicista”. Não se pode voltar as costas ao mundo, é importante e fundamental valorizarem-se os recursos humanos, formando “cidadãos cada vez mais informados, mais conscientes e, porventura, mais activos” (op. cit., p. 107).

Em jeito de conclusão, será importante lembrar que a educação de adultos é tão importante que surge, muitas vezes, ligada ao desenvolvimento local. São pessoas qualificadas que podem desenvolver a competitividade de uma empresa, o desenvolvimento de um concelho, de um país e do mundo. Alberto Melo (2005, p. 110) chega a referir que “sem educação e formação de adultos, quanto a mim, não há um verdadeiro desenvolvimento local, haverá sim um certo número de decisões de tipo tecnocrático, de tipo burocrático, de tipo economicista”. Não se pode voltar as costas ao mundo, é importante e fundamental valorizarem-se os recursos humanos, formando “cidadãos cada vez mais informados, mais conscientes e, porventura, mais activos” (op. cit., p. 107).

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1.2.3 – O Reconhecimento, Validação e Certificação de