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Educação Profissional da Constituição Federal de 1988 até o Final da Década de

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A Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988 é o conjunto de normas e leis que alicerça e que delimita todo o conjunto de normas e de práticas jurídicas que regem o país. Foi gestada a partir do final da ditadura militar e configurou-se na sétima constituição brasileira, desde sua indepedência. Nela, podemos verificar vários artigos ligados à educação.

Na seção I, Art. 205, a educação ficou estabelecida como direito de todos e dever do Estado e da família, e foi “promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).

Em análises a respeito dos direitos à educação, nas quais toma como referência o texto Constitucional, Del Pino (2008, p.124), assim se pronuncia:

Garantir o direito básico ao acesso e à permanência das crianças, jovens e adultos à escola é uma questão estratégica para a área educacional. Sem a conquista desse direito torna-se impossibilitada a prática da cidadania, o que traz um prejuízo enorme para toda a sociedade, que deixa de prosperar e crescer reduzindo injustiças. A Carta Magna de 1988 garantiu os princípios básicos para a educação. Por meio do art. 206 foram garantidos alguns princípios básicos, que foram distribuídos da seguinte maneira:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II _ liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III _ pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV – Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006);

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade.

VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).

Como se pode notar, o art. 206 da Constituição Federal determina gestão democrática e a educação gratuita, em todos os níveis do ensino público, reafirmando, assim, o caráter público da educação. Refletindo a respeito desses preceitos constitucionais e localizando a origem histórica de vários deles nos movimentos sociais organizados, Saviani destaca as principais conquistas da sociedade brasileira que foram incorporadas no texto legal.

A nova Constituição consagrou várias aspirações e conquistas decorrentes da mobilização da comunidade educacional e dos movimentos sociais organizados. Entre tais conquistas podemos mencionar o direito a educação desde o zero ano de idade, a gratuidade do ensino publico em todos os níveis, a gestão democrática da educação publica, a autonomia universitária, o acesso ao ensino obrigatório e gratuito com direito publico subjetivo, o regime de colaboração entre união, o estado, o distrito federal e municípios na organização do sistema educativo (SAVIANI, 2006, p. 46).

A nova Constituição refletiu a pressão da sociedade civil, que reivindicava um país mais democrático, após tantos anos de ditadura militar, pode-se dizer, portanto, que ela apresentou progressos na democratização da educação, nos patamares apresentados, quando estabeleceu os princípios gerais da educação, indicando o interesse no enfrentamento de uma realidade que já vinha sendo questionada por vários segmentos da sociedade, porém nunca reconhecida, como agora, em um texto legal. Além dessas conquistas,

a Constituição de 1988 manteve, como era esperado, o dispositivo que atribui a União, em caráter privativo, a competência para fixar as diretrizes e bases para a educação nacional, em conseqüência, deu-se o inicio ao processo de elaboração da nova LDB já em dezembro de 1988, apenas dois meses após a promulgação da constituição, processo esse que culminou na aprovação em 20 de dezembro de 1996, da lei nº 9394 que fixou as novas diretrizes para a educação nacional (SAVIANI, 2006, p. 46).

Com isso, entendemos que foram criadas por meio dessa Constituição as condições para o estabelecimento das diretrizes e bases da educação visando normatizar a educação unificando a regulamentação da educação no país. A LDB de 1996 (Lei nº 9394) vem cumprindo esse papel até os dias atuais.

Antes mesmo da aprovação da atual LDB, no início dos anos de 1990, o governo estabeleceu a Lei 8.9487 que regulamentou a transformação das Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs). Essa transformação foi efetivada gradativamente conforme decreto específico para cada instituição. De acordo com Art. 3º, a implantação dos CEFETs foi “efetivada gradativamente, mediante decreto específico para cada Centro, obedecendo a critérios e serem estabelecidos pelo Ministério da Educação e do Desporto, ouvido o Conselho Nacional de Educação Tecnológica” (BRASIL, 1994).

A partir da promulgação da LDB, a expectativa em relação à educação profissional não se confirmou, pois, deixou as principais deliberações para legislação complementar. No entanto, alguns artigos merecem destaque.

Conforme o § 2º do artigo 1º da Lei 9394/96, a educação escolar deveria “vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”. Entretanto, no artigo 22 a educação básica, “tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o desenvolvimento da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” no nível superior. O parágrafo único do artigo 39 da LDB define que “o aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional” (BRASIL, 1996).

Percebemos um avanço na LDB 9.394/96, que garantiu que o ensino médio se constituísse na última etapa da educação básica, o que significou o aumento inicial do número de anos da formação geral básica de oito para 11 anos de escolaridade. Contudo, o fato do mesmo ter sido colocado sobre a responsabilidade prioritária dos estados e não ter sido incorporado ao âmbito da legislação, como obrigatória, retirou qualquer responsabilidade do Governo Federal no que se refere ao financiamento deste grau de ensino. Por um lado, esta “ação reflete uma possível determinação de uma identidade definitiva para o ensino médio, por outro, expressa uma tentativa do poder público de descomprometer-se com os gastos da educação profissional” (OLIVEIRA, 2008, p. 46).

Diante desta realidade, o ensino profissional levaria ao desenvolvimento da capacidade para a vida produtiva e seria destinado a alunos e egressos oriundos do ensino fundamental, médio e superior, como também, aos trabalhadores em geral,

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Art. 3º - As atuais Escolas Técnicas Federais, criadas pela Lei nº 3.552, de 16 de fevereiro de 1959, e pela Lei nº 8.670, de 30 de junho de 1993, ficam transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica, nos termos da Lei nº 6.545, de 30 de junho de 1978, alterada pela Lei nº 8.711, de 28 de setembro de 1993, e do Decreto nº 87.310, de 21 de junho de 1982.

jovens e adultos, independente do grau de escolaridade (MANFREDI, 2002, p 128). Nesse caso, o que está colocado, mesmo com uma perceptível contradição é que essa educação proporcionaria condições iguais para todos os educandos, além de promover a integração, todos teriam a mesma oportunidade.

Paralelo ao movimento de elaboração da LDB 9.394/96 estava sendo discutida uma proposta de educação profissional de nível médio de interesse de todos os brasileiros. Mas, no âmbito legal, a reforma foi concretizada por meio do Decreto nº 2.208/97. Além de expressar a posição das elites brasileiras, este instrumento legal “evidenciou mais uma vez a dicotomia entre a formação geral e a formação profissional” (OLIVEIRA, 2008, p. 47). Neste sentido a proposta de currículo definida por este Decreto “impossibilitou a oferta de curso integrado” (MAUÉS, GOMES & MENDONÇA, 2008, p. 3), Pois o próprio artigo 5º deste Decreto determinou que a organização curricular da educação profissional de nível técnico seria própria e, independente do ensino médio, podendo ser oferecida tanto na forma concomitante quanto, também, na forma sequencial (BRASIL, 1997). De acordo com o artigo 36 da LDB, no que se refere à definição do currículo do ensino médio ficou claro que este:

destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania (BRASIL, 1996, p. 12),

Como se pode perceber, mais uma vez o processo dicotômico que reforça a separação histórica entre a educação profissional e a educação geral, se fez presente na legislação brasileira.

O Decreto Lei nº 2.208/1997 normatizou e regulamentou a reforma da Educação Profissional proposta na Lei nº 9394/96, por meio da Medida Provisória nº 1.549/97 e pela Portaria 646/97 que legitimou “um entre os vários projetos de educação que vinham sendo discutidos na sociedade civil, desde os debates da LDB” (MANFREDI, 2002). Este Decreto instituiu o Sistema Nacional de Educação Profissional paralelo ao Sistema Nacional de Educação, inviabilizando a integração entre o ensino médio e a educação profissional.

A regulamentação da reforma extinguiu formalmente, as escolas técnicas de nível médio existentes à época, separando os dois ramos da educação. Notamos, com essa proposta, que a educação estava retornando à velha dualidade, igual ao modelo e educação dos anos de 1940.

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