EDUCAÇÃO, QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E AÇÃO COMUNITÁRIA: INTERFACES DO PJU

A implantação do PJU foi justificada pela agravante realidade da juventude, que, em função do acentuado processo histórico de desigualdade social que marca o País, foi transformado em um dos grupos mais vulneráveis entre a população brasileira e que, portanto, não poderia mais deixar de ter suas demandas desconsideradas pelo Estado (ASSUNÇÃO, 2010, p. 89). Nesse sentido, Oliveira (2009, p. 2) complementa:

A definição de políticas públicas voltadas para a juventude na perspectiva de recuperar a dívida social do Estado para com esse segmento, inegavelmente, constitui-se uma necessidade emergencial e primordial no reconhecimento dos direitos e das capacidades dos jovens e da ampliação da participação cidadã.

Coerentemente, a partir desse contexto, em 2005, o governo federal lançou a Política Nacional de Juventude, que compreendeu, além da criação da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude, a criação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária – ProJovem. Segundo Salgado (2007, p. 32), o ProJovem Urbano contempla três dimensões que funcionam como vigas mestras:

[...] a Formação Básica para elevação da escolaridade ao nível da 8ª série do ensino fundamental; a qualificação para o mundo do trabalho, incluindo qualificação inicial em um arco de ocupações; e a Ação Comunitária envolvendo uma experiência de participação social cidadã.

A formação dessa tríade, que ancora o currículo integrado do PJU, resguarda-se da ideia que o jovem atue como sujeito, construtor de um todo que faça sentido para ele. A proposição é que a aprendizagem só se efetiva realmente quando o aluno consegue relacionar os novos conhecimentos com as experiências prévias e situá-las em suas diferentes facetas do ser humano (BRASIL, 2008, p. 16).

No que diz respeito ao componente formação básica, que constitui uma das três dimensões do currículo, desdobra-se em áreas ou disciplinas que, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394/96, devem promover o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências indispensáveis para a vida na sociedade atual. Além disso, inclui a elaboração de sínteses interdisciplinares, relacionando os conhecimentos das três dimensões do currículo com questões que perpassam o cotidiano do jovem (BRASIL, 2008, p. 72).

E para tal, esperam-se os seguintes resultados:

a) obtenham ganhos de proficiência em Língua Portuguesa e Matemática;

b) consigam nas avaliações formativas, percentuais de acerto acima da média de referência em quase todos os componentes curriculares;

c) alcance, em sua maioria, média de acertos próxima a 56% no exame final nacional externo.

Já o componente qualificação profissional, que corresponde à outra dimensão do currículo do PJU e articula-se com as demais dimensões, apresenta os três componentes curriculares: desdobra-se em três conjuntos de atividades:

a) formação técnica geral, que aborda aspectos comuns a qualquer ocupação e que permitem ao jovem compreender o papel do trabalho e da formação profissional no mundo contemporâneo;

b) arcos ocupacionais, em número de 23, que preparam o jovem para atuar no mundo do trabalho, como empregado, pequeno empresário ou membro de cooperativa. Baseando-se em concepções contemporâneas de organização do trabalho, cada arco desenvolve competências relacionadas à concepção, à produção e à circulação de bens ou serviços, ampliando e articulando as possibilidades de atuação do jovem no mundo do trabalho;

c) Projeto de Orientação Profissional – POP, que é um trabalho de cunho reflexivo, ao longo de todo o curso, preparando o jovem para melhor compreender a dinâmica do mundo do trabalho e planejar o percurso de sua formação profissional.

E, por fim, o componente participação cidadã, que também corresponde a uma das dimensões curriculares, compreende dois conjuntos de atividades:

a) reflexões sobre conceitos básicos para a participação cidadã, articulando-se esse componente com os demais, especialmente, Ciências Humanas, Língua Portuguesa e Qualificação para o Trabalho; Projeto Pedagógico Integrado – ProJovem Urbano;

b) Plano de Ação Comunitária (PLA), que se refere ao planejamento, realização, avaliação e sistematização de uma ação social escolhida pelos alunos, fundamentada no conhecimento de sua realidade próxima.

Assim, a partir das discussões tecidas acima, a qualificação profissional deverá possibilitar, sobretudo, novas formas de inserção produtiva, com a devida certificação, correspondendo, na medida do possível, tanto às necessidades e potencialidades econômicas, locais e regionais, quanto às vocações dos jovens.

As questões que nortearão esta pesquisa a partir da abordagem de avaliação de processo serão:

1. Que concepções de educação, trabalho, jovem, adulto e trabalhador orientaram o processo de implementação do PJU?

2. O desenho do ProJovem Urbano/2008 seguiu as diretrizes socioeconômicas, políticas e ideológicas das políticas públicas em educação que orientam a educação profissional?

3. A estrutura e funcionamento do ProJovem Urbano em Natal/RN possibilitou que fosse implementada a dimensão qualificação profissional conforme a proposta curricular?

Tomando como referência esse escopo teórico sobre o referido programa, o objetivo desta pesquisa é realizar uma avaliação do processo de implementação do PJU, no município de Natal/RN compreendendo o período de 2008 a 2012, com enfoque nos conceitos de avaliação de processo à análise do programa, via a descrição e análise dos princípios de acordo com as orientações político-filosóficas para a sua implementação, a descrição e análise dos pressupostos socioeconômicos, políticos e ideológicos que fundamentam o conteúdo, e em que medida os princípios e fundamentos da execução do Programa em Natal/RN atendeu aos princípios, pressupostos e conteúdos da política explícitos no projeto pedagógico integrado do Programa (PPI).