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Educação Rural como Ponto de Discussão e Luta

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1 ESCOLA VALE DO RIO DOCE EM RIO VERDE GOIÁS: CRIAÇÃO,

2.4 Educação Rural como Ponto de Discussão e Luta

A relação dialética do homem com a natureza molda e transforma o mundo, desencadeia as representações sociais, as divisões e as contradições entre classes. A ideologia torna-se mais visível, revela-se nos aparelhos do Estado. A escola é apenas um dos meios de perpetuação dos dominadores, mas um aparelho ideológico importantíssimo para a prática:

Não podemos conceber nenhuma forma de ser social independentemente de seus conceitos e expectativas organizadoras, nem poderia o ser social reproduzir-se por um único dia sem o pensamento. O que queremos dizer é que ocorrem mudanças no ser social que dão origem à experiência modificada; e essa experiência é determinante, no sentido de que exerce pressões sobre a consciência social existente, propõe novas questões e proporciona grande parte do material sobre o qual se desenvolvem os exercícios intelectuais mais elaborados (THOMPSON, 1981, p. 16).

Os aparelhos usados pelo Estado servem para garantir a estabilidade da ideologia. Apesar de o homem perceber a dominação perpetualizada, ele não consegue se desgarrar do sistema que o subjuga. Ele sabe e sente que está imergido num universo de exploração de homens sobre homens, sem saída, vê-se numa situação inquestionável, havendo assim uma relação de mão dupla, pois a experiência do ser social é determinante por exercer pressões sobre a consciência social.

As lutas das organizações sociais nascem dos impasses sentidos pelo homem subordinado. No campo ou na cidade, as contradições entre classes são as mesmas, afetando a pedagogia da escola. O meio rural mostra seus reflexos de luta desde a organização social no campo, pela reforma agrária, tema discutido em diferentes épocas da política brasileira, para Heloisa da Silva Borges (2012, p. 92-3):

[...] diversas lutas populares mobilizaram o homem do campo pela conquista de sua terra e por direitos trabalhistas e sociais. [...] A discussão sobre a reforma agrária é algo que antecede os dias de hoje. Ela tem sido tema da

vida política nacional há várias décadas. Nos anos 1960, os trabalhadores rurais, em diversas regiões do País, organizaram-se em diferentes movimentos sociais, como as ligas camponesas, protagonizando lutas que marcaram esse agitado período da história do Brasil. Nessa época, a reforma agrária tornou-se a bandeira unificada das lutas no campo e o elo com as lutas urbanas.

A luta popular envolveu homens em prol da mobilização desencadeadora de mudanças sociais. A princípio, os trabalhadores se organizaram para reivindicações que buscam a efetividade prática dos direitos individuais e coletivos, pois

Sem a luta política, que é a luta pelo poder, essas condições necessárias não se criam. E sem as condições necessárias à liberdade, sem a qual o ser humano se imobiliza, é privilégio da minoria dominante quando deve ser apanágio seu. Faz parte ainda e necessariamente da natureza humana que tenhamos nos tornado este corpo consciente que estamos sendo. Este corpo em cuja prática com outros corpos e contra outros corpos, na experiência social, se tornou capaz de produzir socialmente a linguagem, de mudar a qualidade da curiosidade que, tendo nascido com a vida, se aprimora e se aprofunda com a existência humana (FREIRE, 2001, p. 8).

O homem é essencialmente um ser propenso para a luta. Diferente dos animais, ao se relacionar com os outros e com o meio que vive, dinamiza seu mundo. Tem capacidade de humanizar todas as suas ações: faz sua história considerando as relações culturais como fonte de melhorias sociais:

[...] enquanto o animal é essencialmente um ser da acomodação e do ajustamento, o homem o é da integração. A sua grande luta vem sendo, através dos tempos, a de superar os fatores que o fazem acomodado ou ajustado. É a luta por sua humanização, ameaçada constantemente pela opressão que o esmaga, quase sempre até sendo feita - e isso é o mais doloroso — em nome de sua própria libertação (FREIRE, 1967, p. 42).

A humanização ou a desumanização depende de como o homem apreende e aspira os valores da sensibilidade da vida. O respeito ao próximo supera os desafios de luta que almeja apenas sobressair-se ao outro. Construir a prática pedagógica considerando a essencialidade do outro, é preservar a diversidade, é buscar transformações sociais, a partir da educação do campo. As discussões suscitam a maneira como os conhecimentos se entrecruzam e instituem as ações educativas:

Nas lutas dos movimentos sociais pela Educação no campo, assume-se um papel de formar cidadãos formadores de opiniões capazes de transformar o meio em que vivem reivindicando políticas públicas no processo de

formação humana [...] o local, o território, pode ser reinventado por meio de suas potencialidades (COSTA, 2012, p. 129).

Esses apontamentos são importantes para transformar a realidade da escola do campo. Costa mencionou o lugar “no campo”, possivelmente, para mostrar que a educação do processo de formação humana pode ser transformadora se reinventar suas potencialidades de reconhecimento do outro como fonte de saber e de cultura. Apesar da nomenclatura “no campo”, o que vale pensar é a inferência da educação que transforma.

A luta contemporânea é fingida de não existir. A elite está engajada em todas as áreas sociais, sem ter que aparecer claramente em nenhuma delas. Há certa liquefação dos modelos de poderes, das culturas. É necessário haver a mobilidade mais rápida, a parente igualdade de todos. Tudo é sinal de progresso, de poder:

A elite global contemporânea é formada no padrão do velho estilo dos ‘senhores ausentes’. Ela pode dominar sem se ocupar com a administração, gerenciamento, bem-estar, ou, ainda, com a missão de ‘levar a luz’, ‘reformar os modos’, elevar moralmente, ‘civilizar’ e com cruzadas culturais. O engajamento ativo na vida das populações subordinadas não é mais necessário (ao contrário, é fortemente evitado como desnecessariamente custoso e ineficaz) — e, portanto, o ‘maior’ não só não é mais o ‘melhor’, mas carece de significado racional. Agora é o menor, mais leve e mais portátil que significa melhoria e ‘progresso’. Mover-se leve, e não mais aferrar-se a coisas vistas como atraentes por sua confiabilidade e solidez — isto é, por seu peso, substancialidade e capacidade de resistência — é hoje recurso de poder (BAUMAN, 2001, p. 20-1)

As transformações implicam a mudar o indivíduo, seu pensamento, seus valores. A educação é afetada, a escola do campo não se mantém fora do chamado desenvolvimento. Não que a modernidade seja algo ruim, mas o que se infere é a imposição, com fingida sugestão de escolha. Isso equivale a dizer que a Vale do Rio Doce, com a singularidade de educação do campo, mostra um currículo semelhante ao das escolas urbanas. É importante que a escola adquira a cultura de resgate histórico para que sua constituição esteja preservada na memória coletiva, a fim de garantir a importância de ter implantada políticas pedagógicas para o seu contexto de fundação. Nessa compreensão, cabe uma breve escrita do município de Rio Verde e do Assentamento Rio Verdinho.

3 HISTÓRIA DE RIO VERDE E O ASSENTAMENTO RIO VERDINHO

A história de Rio Verde é contada para o entendimento do processo de desenvolvimento do município. A região vista como próspera para o agronegócio teve algumas propriedades destinadas para a reforma agrária, de acordo com a avaliação do Incra32, a fim do cumprimento da função social da terra, como aponta a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXIII. O Assentamento Rio Verdinho foi implantado, em 1999, juntamente com a Escola Vale do Rio Doce, faz parte das memórias que narraram os acontecimentos mais marcantes dessa historiografia. Está vinculado à Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás (Fetaeg).

As mudanças sociais incitam na busca por conquistas para o homem do campo, com o surgimento do MST. A atividade do Incra é de suma importância no processo de implantação dos assentamentos nas regiões brasileiras. A criação do Assentamento Rio Verdinho, em 1999, evidencia a essencialidade da Escola Vale do Rio Doce para o município de Rio Verde, atendendo primeiramente aos filhos dos assentados e em seguida os alunos de toda a região.

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