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A Educação em Saúde como forma de cuidar das famílias de crianças e adolescentes com

2.   REVISÃO DE LITERATURA 16

2.4.   A Educação em Saúde como forma de cuidar das famílias de crianças e adolescentes com

Diante da vasta literatura sobre o seu papel nos processos de desenvolvimento dos seus membros, consideramos que a família é um determinante importante dos processos de saúde e doença quer o sujeito ocupe as posições de filho, irmão ou pai/mãe (BARROS, 2003) e que portanto deve ser envolvida em seus cuidados de saúde.

Quando se trata de uma família que possui um membro com transtornos mentais, o seu envolvimento no plano de cuidados torna-se ainda mais necessário, tendo em vista que a família que possui um doente mental experimenta graves danos no plano psicológico, no plano da organização da própria vida e também no plano material (SARACENO, 2001).

Quando o doente mental é uma criança ou adolescente, as dificuldades da família fazem-se ainda mais marcantes, tendo em vista que envolvem também as perspectivas, os sonhos e os planos para o futuro da sua criança. Além do que, uma criança com maiores necessidades de cuidados altera o estilo de vida das famílias. De acordo com Goés e La Cava (2009), a necessidade de mais tempo disponível para cuidar da criança implica em mudanças severas no seu modo de levar a vida, na relação dos pais com o trabalho, na relação com os outros filhos, na relação entre o próprio casal, no controle dos gastos e até mesmo na rotina da vida diária. Para os autores, esses aspectos emocionais e financeiros também precisam ser valorizados no desenvolvimento das práticas educativas.

Atentando para o fato de a criança ser um indivíduo em desenvolvimento e que, portanto possui necessidades e demandas próprias desta fase, Ranña (2010), destaca que é imprescindível que o adulto responsável saiba reconhecer e atender as necessidades para a sobrevivência e o desenvolvimento da criança. As necessidades precisam ser interpretadas com bases nas peculiaridades do processo de desenvolvimento e serem consideradas e superadas em cada etapa assim como nas condições concretas da vida (VERÍSSIMO et al., 2009).

Brazelton e Greenspan (2002) consideram como necessidades essenciais de uma criança aquelas que fornecem as ferramentas necessárias para que ela alcance seu potencial intelectual, social, emocional e físico, sendo elas: necessidade de relacionamentos sustentadores contínuos; necessidade de proteção física, segurança e regras; necessidade de experiências que respeitem as diferenças individuais; necessidade de experiências adequadas ao desenvolvimento; necessidade do estabelecimento de limites; organização e expectativas, necessidades de comunidades estáveis e amparadoras e de continuidade cultural.

Para Veríssimo et al. (2009), os cuidados fundamentais para o atendimento da criança estão relacionados às necessidades essenciais para o desenvolvimento. O profissional de saúde pode fornecer esses cuidados ao prestar assistência à criança, assim como pode apoiar outros cuidadores a fornecê-los. Para tanto, deve usar estratégias pedagógicas participativas, que promovem a reflexão e a escolha de comportamentos de cuidado apropriados às peculiaridades da criança em cada etapa do desenvolvimento, destacando que,

Cuidar bem de crianças não decorre de um dom natural. Ao contrário, essa capacidade é determinada por conhecimentos, habilidades e práticas de cada um em relação à criança, produtos das experiências ao longo da vida. Além de conhecimentos.é necessário haver disponibilidade interna, isto é, abertura para ser um cuidador efetivo (VERÍSSIMO et al., 2009, p. 117)

Assim, torna-se pertinente considerar o desenvolvimento de ações educativas que sejam adequadas às reais necessidades dos indivíduos e/ou grupos sociais e que permitam a transformação consciente da realidade (QUEIROZ e JORGE, 2004), o que por sua vez requer do profissional o conhecimento da realidade desses indivíduos, no caso a família e sua criança, no intuito de utilizar estratégias que venham, de fato, atender às necessidades de ambos.

De acordo com Queiroz e Jorge (2004), para haver um consenso entre as ações profissionais e as ações da mãe/família, há necessidade de que o profissional apreenda e interprete a cultura da família, levando em conta suas condições históricas, sua organização social e seu envolvimento afetivo. Ao abordar a família na perspectiva de Educação em Saúde, é necessário acreditar nas suas potencialidades, permitir-lhe encontrar opções para a solução de seus problemas, sem esquecer, omitir ou duvidar da capacidade da família, mas creditar apoio, ajudando no processo reflexivo e promovendo condições favoráveis à aprendizagem.

Partindo do pressuposto de que o cuidado em saúde mental se trata de um fenômeno complexo que requer do profissional capacidade de apreender as necessidades do outro, compartilhar saberes e realizar práticas de saúde que incluam o portador de transtorno mental e sua família como atores sociais, suas ações devem proporcionar autonomia e independência aos sujeitos, com o intuito de minimizar incapacidades, promover o autocuidado, reduzir sofrimento e potencializar habilidades de maneira que possibilite às pessoas com transtorno mental e sua família a melhor qualidade de vida possível (FERRAZ et al., 2005).

A família não deve ocupar o lugar de culpada ou de vítima na abordagem desinstitucionalizante, mas deverá ser incluída na condição de protagonista do cuidado

reabilitador (COLVERO, COSTARDI IDE e ROLIM, 2004), isso porque quando uma pessoa apresenta um problema mental não apenas ela sofre, mas também toda a sua família e, assim, ambos precisam de apoio e acompanhamento. Neste sentido, o trabalho com a família não deve ser unidirecional, mas uma proposta compartilhada, em que profissional e família, juntos, construam programas de intervenção e desenvolvimento que promovam a saúde e o bem estar de todos (OLIVEIRA e COLVERO, 2001).

Para tanto, se torna necessário o desenvolvimento de ações de Educação em Saúde numa perspectiva dialógica, emancipadora, participativa, criativa e que contribua para a autonomia da família, como parceira no cuidado, do usuário, no que diz respeito a sua condição de sujeito de direitos e autor de sua trajetória de saúde e doença; e autonomia dos profissionais diante da possibilidade de reinventar modos de cuidado mais humanizados, compartilhados e integrais (BRASIL, 2007).

Diante disso tomamos como relevante considerar a educação dialógica proposta por Paulo Freire como importante estratégia a ser usada nas práticas de Educação em Saúde em saúde mental, tendo em vista que o que se deseja é romper com os modelos não-reflexivos pautados na recepção de informações e na reprodução de técnicas, mas tornar possível que o outro aprenda com a realidade vivida por ele ao passo que se prepara para modificá-la.

Isso porque cuidar de uma pessoa com transtornos mentais e sofrimento psíquico é empreender uma jornada, desde o momento que se toma contato com ela. Reabilitação, tomada dessa maneira, consiste em oferecer todas as possibilidades de tratamento que estejam disponíveis visando a inclusão destas crianças na vida social (PITTA, 2001). Nesta ótica, acreditamos, como Colvero, Costardi Ide e Rolim (2004), que as ações dirigidas à família de indivíduos portadores de transtorno mental grave devem estruturar-se de maneira a favorecer e potencializar a relação familiar/profissional/serviço. Compreendendo o familiar como um parceiro singular e fundamental para o cuidado dispensado à criança e adolescente doente mental.

Deste modo consideramos que o CAPSi como um dispositivo equipado com as tecnologias necessárias para oferecer cuidado às crianças/adolescentes com transtornos mentais e suas famílias é também lugar propício para o desenvolvimento de ações voltadas para Educação em Saúde. Assim, diante do variado leque de condutas direcionadas às famílias nestes serviços, os profissionais da equipe, têm inúmeras possibilidades de promover ações educativas de forma a ajudar a promover a autonomia dessas famílias e torna-las parceiras ainda mais atuantes no cuidado das suas crianças.

           

Caminho teórico-metodológico do estudo