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Educação e a Segurança Contra Incêndio

CAPÍTULO 2: SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIOS NO ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO

2.1 Educação e a Segurança Contra Incêndio

Lamentáveis acontecimentos no decorrer da história, provocados por incêndios, impulsionaram um conjunto de medidas e ações legais, estimulados pela necessidade de edificar construções seguras, obrigando o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias, a criar uma nova mentalidade de se pensar e agir na prevenção e combate contra incêndios.

Em países desenvolvidos, essa preocupação SCI já vem sendo observada desde muito tempo. No Brasil, somente, após os acontecimentos desastrosos, principalmente, com os incêndios nos edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974), a comunidade acadêmica foi alertada para a necessidade de criação de mecanismos legais que pudessem fazer frente a essa necessidade premente.

Rosso (1975) após o sinistro do Edifício Joelma, comenta:

[...] torna-se iminente a necessidade de fusão entre medidas normativas e o processo de concepção do projeto de edificações, de maneira a potencializar o fator de segurança nas edificações no que tange à proteção estrutural e de bens, assim como na salvaguarda de vidas, aliados aos aspectos de habitabilidade. (ROSSO, 1975).

De acordo com Ono (2007), o trabalho de Rosso (1975) resultou numa apostila intitulada “Incêndio e Arquitetura”, que serviu de base para a formação de duas gerações de pesquisadores na área de segurança contra incêndio. Infelizmente, Rosso não conseguiu defender sua tese, devido ao seu falecimento, em 1975. Tal fato, possivelmente impossibilitou que se desse, naquele momento, o primeiro grande impulso para a integração entre a arquitetura e a segurança contra incêndio no meio acadêmico, com a inserção do tema no ensino e na pesquisa. No entanto, o Laboratório de Segurança de

Fogo do IPT tem se mantido, desde então, atuante na área, ampliando sua capacitação técnico-laboratorial, gerando produção técnica e contribuindo para a formação de pesquisadores.

A mesma autora defende a ideia de que as regulamentações existem para garantir que o nível mínimo de segurança seja exigido e atendido. No entanto, nem sempre a exigência se traduz numa boa solução de projeto, principalmente se o projetista não domina os pressupostos que levaram à criação daquele requisito. Por outro lado, sem a compreensão conceitual das exigências, o arquiteto também não possui ferramentas para propor soluções alternativas de projeto que resultem numa edificação igualmente, ou até mais, segura e estética/funcionalmente satisfatória, tolhendo, assim, a liberdade criativa. Conclui que é importante lembrar que não há, no Brasil, informações técnicas voltadas ao tema e dirigidas aos arquitetos e estudantes de arquitetura, criando, assim, uma lacuna a preencher, tanto com a sistematização das informações disponíveis no Brasil e no exterior, como com a discussão de sua adequabilidade e importância.

Segundo Seito et al. (2008), as perdas com incêndios nos países que adotam uma postura severa na questão da prevenção, têm diminuído significativamente em relação ao PIB; o ensino, em todos os níveis da educação e em todos os períodos escolares, recebe pelo menos um dia em que a SCI é enfocada. No ensino superior, são mantidos mais de cinquenta cursos de graduação e pós-graduação em engenharia de proteção contra incêndios.

A educação é considerada a chave para a prevenção e proteção contra incêndios. Existe uma infinidade de encontros e programas de educação visando à conscientização para a prevenção e proteção contra incêndios.

O mesmo autor argumenta que os currículos dos cursos de arquitetura e engenharia têm um conteúdo extenso e apertado, não permitindo absorver outros conhecimentos, sendo necessária uma profunda reformulação para que a SCI seja absorvida.

Nesse cenário, verifica-se que a formação de arquitetos e de engenheiros tem dado pouca ênfase para a SCI nas edificações, isso tem levado às práticas com baixa exigência em relação ao controle do risco de incêndio.

“Caso se decidisse implantar cursos de SCI em todos os cursos de arquitetura e engenharia, seria um desastre, pois não existem quadros de professores suficientes para ministrar tais cursos. Existem apenas alguns professores orientando alunos de pós-graduação nessa área de conhecimento. (Seito et al. 2008, p.10).

De acordo com Ono (2007), é primordial a criação, no País, de uma massa crítica de profissionais que compreenda melhor as implicações que podem ter as medidas de proteção contra incêndio quando aplicadas de forma inadequada. São necessários profissionais que tenham uma leitura crítica das regulamentações existentes, sejam elas prescritivas ou baseadas no conceito de desempenho, de forma que se exija, cada vez mais, que estas sejam aprimoradas para atender às necessidades da sociedade.

Normas e regulamentações têm sido aprimoradas visando à melhoria das condições de segurança contra incêndio das edificações, principalmente capitaneadas pelos Corpo de Bombeiros. Entretanto, é diminuta a participação dos pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa e pouca tem sido a participação dos atores principais dentro desse cenário: os arquitetos e engenheiros civis, responsáveis pela aplicação de novas tecnologias, concepção dos espaços dos edifícios, pela discriminação de seus materiais e pela execução das obras, que garantam, efetivamente, a inserção das medidas de SCI.

Normalmente, o arquiteto tem obrigação de definir as medidas de proteção passiva1 e também deve ter noções básicas dos princípios da proteção ativa2, pois somente assim, pode garantir que os sistemas não sejam instalados de forma inadequada, prejudicando o seu projeto de SCI como um todo.

1

Conjunto de medidas incorporado ao sistema construtivo do edifício, sendo funcional durante o uso normal da edificação e que reage passivamente ao desenvolvimento do incêndio, não estabelecendo condições propícias ao seu crescimento e propagação, garantindo a resistência ao fogo, facilitando a fuga dos usuários, a aproximação e o ingresso no edifício para o desenvolvimento das ações de combate.

2

Tipo de proteção contra incêndios que é ativada manual ou automaticamente em resposta aos estímulos provocados pelo fogo, composta basicamente das instalações prediais de proteção contra incêndios.

Conforme Seito et al. (2008), usufruir dessas tecnologias significa conhecer o mínimo necessário para se propor soluções que atendam ao anseio. É importante para o arquiteto entender essa evolução diária de integrar em projetos de edificação tais tecnologias, que de muito têm passado de forma despercebida nas constantes avaliações de programas curriculares nos cursos de arquitetura.