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Pensar em educação não é apenas se deter em modelos de escolas ou ensino perfeito, mas procurar mostrar o significado do que se deseja estudar e o porquê de se estudar, como também acreditar e encontrar métodos de ensino que tenham estrutura para formar cidadãos aptos à convivência cidadã. Houaiss (2001 apud NEGRI, 2010, p. 19) define educação como ―um conjunto de métodos voltados para a formação e o desenvolvimento do ser humano‖. Dentro do sistema escolar, é necessário pensar criticamente em torno do seu papel influenciador na sociedade. Esse ―poder‖ de influenciar pode ser interligado ao pensar e ao agir de crianças, adolescentes e jovens frente às práticas sociais, especialmente no que diz respeito ao consumo.

De acordo com Monteiro e Pompeu Jr. (2001), a história da Educação tem nos mostrado que as necessidades sociais são reflexos de teorias e políticas educacionais, por isso que a credibilidade do trabalho escolar tem sido questionada. Por outro lado:

alguns argumentam que a educação escolar não propicia a formação do educando para o trabalho. Nesse caso, cabe perguntar se a função da escola seria formar mão de obra para o trabalho. Outros argumentam de forma oposta a essa: a escola está perdendo qualidade porque se volta cada vez mais para questões aplicadas no cotidiano e assim se limita a ficar no senso comum (MONTEIRO; POMPEU JR., 2001, p. 12).

Embora encontremos opiniões divergentes sobre o papel da escola, sua competência principal sempre será de capacitar seus alunos para a vida. Logo, ―importa garantir que todos tenham acesso à educação escolar‖ (MONTEIRO; POMPEU JR., 2001, p. 13). Isso se estende a crianças, jovens e adultos. Nesse contexto de educação escolar, podemos verificar que os PCN indicam que ela deve acontecer de forma enfática e comprometida com a qualidade desse processo.

Na seriedade desse compromisso de elevar a educação escolar a um patamar que seja plausível e digno para a sociedade, Monteiro e Pompeu Jr. (2001) sugerem que o currículo precisa de fato ser refletido, bem como analisado a partir da forte relação entre compromissos pedagógicos e sociais da escola, além de poder considerar que os objetivos do trabalho pedagógico devam ser abrangentes até que alcancem os valores éticos e sociais. Mas, como alcançar a concretização desses discursos? Em D‘Ambrósio (1996 apud MONTEIRO; POMPEU JR., 2001), encontramos respostas. É preciso que se adote uma nova postura, que

se busque um novo paradigma capaz de substitir o ensino-aprendizagem já desgastado, baseando-se numa relação obsoleta de causa e efeito.

No entanto, para mudar paradigmas, é preciso haver reflexões sobre as concepções dos professores. Ponte (1992) afirma que as concepções possuem uma natureza essencialmente cognitiva, ou seja, elas são relativas ao conhecimento que atuam como um ―filtro‖, constituindo-se como indispensáveis, pois estruturam o sentindo que atribuímos às coisas. Assim, é muito difícil não se ter uma concepção acerca da Educação contemporânea, e, em especial, ao ensino-aprendizagem da Matemática.

Para D‘Ambrósio (1989 apud MONTEIRO; POMPEU JR., 2001), pode-se averiguar que a comunidade de Educação Matemática internacionalmente vem clamando por renovações na atual concepção do que é a Matemática escolar e de como ela pode ser abordada. Com base nesse interesse, também se questiona a atual concepção de como se aprende Matemática. Ponte (1992, p. 1) aponta que ―as nossas concepções sobre a Matemática são influenciadas pelas experiências que nos habituamos a reconhecer como tal e também pelas representações sociais dominantes‖. Nesse caso, o professor está num lugar chave para influenciar seus alunos a terem uma visão mais abrangente dessa ciência que suscita medos e admirações. Mudança de paradigmas, de acordo com Monteiro e Pompeu Jr. (2001, p. 14), corresponde a

[...] um processo complexo; é necessário querer mudar e acreditar que isso é possível. Mais do que constatar que precisamos mudar, é necessário ter a convicção de que sempre há um novo jeito de ensinar, que sempre é possível mudar.

Para mudar paradigmas, é preciso imprimir mudanças em todas as esferas, seja na educação ou sobre o ensino. No entanto, a educação escolar, bem como a família, necessariamente precisa estar ciente de seu papel chave e influenciador quanto às tomadas de decisão de crianças e adolescentes. Influenciá-los a serem cidadãos conscientes é relevante porque os ajudará a refletir sobre suas ações, de modo que eles terão um novo comportamento. Zagury (2018) afirma ser impossível não considerar os fatos sociais que são influenciadores na educação.

Esse ―poder‖ de influenciar pode ser interligado ao pensar e ao agir de crianças, adolescentes e jovens frente às práticas sociais, especialmente no que diz respeito ao consumo. Um dos temas transversais pertinentes a esse trabalho é o consumo. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), mostra-se que consumo é ter acesso não só aos bens

primários de subsistência, mas também usufruir dos desenvolvimentos tecnológicos, dos bens culturais e simbólicos. De acordo com Cardoso (2007 apud NEGRI, 2010, p. 29), os jovens que estão na escola representam a geração de consumo. Essa informação foi comprovada pela pesquisa realizada pelo instituto Akatu, em parceria com a UNESCO (Organização Educacional Científica e Cultural das Nações Unidas).

A pesquisa que entrevistou pessoas de 24 países dos cinco continentes concluiu que o Brasil é o país que apresenta mais pessoas consumistas do mundo. Com isso, podemos enxergar a pertinência desse tema tão abrangente. A Educação Financeira precisa ser parte do diálogo das pessoas, especialmente dos adolescentes que estão em fase de migração para a juventude. Conforme Sthepani (2005 apud NEGRI, 2010, p. 29), ―é na adolescência que encontramos o cenário ideal de novos conhecimentos em relação à construção financeira e econômica de um adulto‖. De acordo com esse autor, cada indivíduo que participa do processo de formação do ser humano tem responsabilidade no processo pelo qual a educação passa, e falar em educação financeira é acreditar no elo entre as várias áreas do conhecimento, no sentido de permitir que elas se unam com o intuito de construir a autonomia. A construção dessa autonomia é, na verdade, um aprendizado constante que não pode ser concluído na fase final da escola, mas que pode acompanhar o estudante por toda a vida.