• Nenhum resultado encontrado

2.1 O Barro

2.1.2 Educação Superior – Graduação

Seria leviano de minha parte não admitir que ser aprovada na UFC não me deixou orgulhosa. Sim! Fiquei extremamente orgulhosa por diversos fatores: i) por estar aproximadamente há nove anos sem estudar; ii) por me sentir inferior aos meus colegas do cursinho, já que todos eram recém-saídos do terceiro ano do Ensino Médio e tinham estudado recentemente as matérias do vestibular; iii) por realizar um sonho antigo de ingressar em uma Universidade Pública; e iv) por realizar um sonho de meus pais.

Em 2008, entrei pela primeira vez em uma Universidade. Lá, tudo me parecia grandioso, sério, literário e científico. As pessoas cheias de livros, conversando sobre Educação, estágio, mestrado, doutorado tudo me parecia lindo e ao mesmo tempo confuso.

Nos quatro anos seguintes, mergulhei nesse mundo acadêmico. As aulas me inquietavam com os questionamentos levantados pelos professores e alguns colegas. Isso me ajudou a ter coragem de refletir sobre algumas práticas de meus professores da Educação Básica. As leituras ampliavam minha reflexão e questionamentos alargando as fronteiras e diversificando meu olhar para os diversos tipos e lugares de Educação.

Uma experiência inesquecível e, na verdade, o grande divisor de águas em meu interesse pela educação como profissão aconteceu em 2008, quando ingressei no grupo de estudo de pedagogia hospitalar, até então, nunca existente na Universidade, sob orientação da professora doutora Helena Frota de Holanda.

Em 2009, passou a ser um projeto de extensão com o nome: Pedagogia Hospitalar: Uma proposta de Humanização para Saúde-Educação. Posteriormente, estagiamos no hospital Universitário Walter Cantídio. E, como resultado, conseguimos a implantação no currículo do curso de Pedagogia da UFC a disciplina optativa PB 158 - Pedagogia Hospitalar.

Em 2010, uma grande surpresa, a obrigatoriedade no curso de Pedagogia da disciplina Ensino da Matemática. Eu, que já havia tido algumas experiências não muito agradáveis com essa Ciência, pensei ser esse um momento de sofrimento.

Na primeira aula, fomos convidados a falar sobre nossa relação com a Matemática, isso fez com que algumas paredes construídas por mim em relação à disciplina fossem quebradas. O cuidado com que fomos ouvidos, um a um, as colaborações feitas pelo professor que nos entendia muito bem e os relatos quase unânimes dos estudantes em relação às experiências não muito agradáveis com a Matemática me chamaram atenção.

A dinâmica das aulas foi essencial para ressignificar o sentimento negativo com a Matemática que me acompanhava desde a Educação Básica, como, por exemplo, as discussões com pesquisas recentes, as oficinas que nos permitiam vivenciar situações práticas e a análise de livros didáticos. Tais experiências me despertaram o interesse na busca em não reproduzir práticas que tanto me marcaram negativamente.

Os textos e debates em sala me instigaram a perceber a relação entre a Matemática e a vida cotidiana, ou seja, sua presença nas mais diversas relações sociais vivenciadas antes mesmo de iniciarmos a frequentar a escola e as discussões sobre o entendimento que nós, futuros docentes, deveríamos nos apropriar para romper com práticas inadequadas e traumáticas.

Vale ressaltar que atribuo ao professor da disciplina, Paulo Barguil, a ressignificação da Matemática em minha vida por seu acolhimento e valorização ao conhecimento que trazíamos a partir de nossas experiências e, a partir daí, problematizar, permitindo que cada estudante percebesse que as práticas que vivenciamos era resultado de uma educação que priorizava a memorização e repetição de conceitos matemáticos.

Nessa situação, comecei a me indagar sobre algumas questões: Por que tantas experiências desagradáveis com a Matemática são relatadas cada vez mais frequentemente? Qual é a razão desse fracasso na aprendizagem matemática? O que os professores entendem sobre a construção desse conhecimento? Quem são os verdadeiros responsáveis pelo fracasso na Educação Matemática?

No entendimento de Barguil (2016d, p. 195), existem alguns fatores que corroboram para o fracasso na Educação Matemática:

i) falta de compreensão docente dos conceitos matemáticos;

ii) desconhecimento da História da Matemática, do desenvolvimento dos seus conceitos e da sua aplicabilidade no cotidiano;

iii) inadequação das metodologias, que privilegiam a fala do professor e a escuta do estudante;

iv) pouca (ou nenhuma) utilização de recursos didáticos ou momento limitado à dimensão mecânica;

v) entendimento docente incipiente sobre a composição humana e as complexas dimensões – afetivas, corporais e racional – envolvidas na aprendizagem, que se expressa no distanciamento entre docente e discente.

No mesmo ano, fui bolsista no projeto de extensão, financiado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP, do Programa de Alfabetização na Idade Certa – PAIC, no eixo de Avaliação Externa, quando tive a oportunidade de trabalhar na elaboração de itens que, após pré-teste, iriam compor as provas diagnósticas no Estado do Ceará.

Essa experiência foi muito enriquecedora e significativa por me permitir observar, na prática, algumas fragilidades discutidas nos limites físicos da Universidade:

 Atividades de memorização e decodificação;

 Práticas centradas exclusivamente no saber do professor;

 Professores que não sabiam se comunicar em libras e, em suas salas de aula, possuíam estudantes surdos sem a presença de um intérprete;

 A falta de jogos, livros de literatura infantil, brinquedos, lápis de cor, giz de cera para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem;  Horários pré-estabelecidos pelos professores para ir ao banheiro e

tomar água sem levar em consideração a necessidade fisiológica da criança;

 A precariedade da estrutura física que segundo Barguil (2006, p. 32) “é um componente curricular, merecedor, assim, de uma crítica reveladora da sua influência (silenciosa e gritante) nas práticas pedagógicas”.

Em 2012, fui aprovada em um concurso público para professor efetivo de Educação Infantil da rede pública e municipal de Maracanaú-CE e ingressei com um processo administrativo para colação de grau em regime especial para que pudesse assumir meu cargo de professora da Educação Básica.