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Papel do educador de infância e do professor do 1º Ciclo do Ensino Básico no desenvolvimento de competências de linguagem oral

3. A intervenção pedagógica no âmbito da linguagem oral

3.2 Papel do educador de infância e do professor do 1º Ciclo do Ensino Básico no desenvolvimento de competências de linguagem oral

Segundo Matos (2001) a função docente, em crescente evolução, desde o século XIX, tem sofrido alterações quanto ao seu papel tradicional, numa lógica de adaptação aos tempos de mudança.

O mesmo autor acima mencionado refere que nos últimos anos, o período de escolaridade obrigatória foi alargado, na maior parte dos países, passando a educação a ser considerada como a principal mudança de futuro na sociedade. Como consequência foram introduzidas novas áreas do saber/disciplinas e alguns professores especificaram a sua intervenção, como é o caso dos professores de educação física, professores de educação musical, de línguas estrangeiras, professores do ensino especial, etc.

Na tentativa de adaptação dos sistemas educativos à sociedade e com a intenção de melhorar o ensino, os governos procederam a reformas educativas que levaram os docentes ao exercício de novas tarefas, especializações e competências.

Os fatores que influenciaram a necessidade de mudança da atividade docente foram variados, mas podem destacar-se a rápida evolução da sociedade, a explosão escolar, a emergência dos meios de comunicação social, os avanços científicos e tecnológicos e as novas correntes pedagógicas.

Como refere Matos (2001) nos nossos dias o professor é um educador que investiga, que responde a necessidades e desafios de encontrar respostas e soluções para a sua prática profissional, refletindo sobre o seu desempenho no contexto escola/sociedade.

O sistema educativo de hoje requer que os professores possuam um bom nível de capacidade de atuação que lhes permita saber diagnosticar a situação da aula e de cada aluno, do ritmo de desenvolvimento e aprendizagem, as particularidades das intervenções didáticas, bem como estar consciente das exigências do conhecimento académico disciplinar e interdisciplinar.

O docente atual, segundo Matos (2001):

deve agir como mediador no processo de aprendizagem dos alunos; deve estimular e motivar, estabelecer normas e diagnosticar situações de aprendizagem, de cada aluno e da turma no seu todo; deve ser perito em recursos e meios, clarificar e definir valores e ajudar ao desenvolvimento dos valores dos

próprios alunos. Por último, deve promover e facilitar as relações humanas dentro da sala de aula e da escola. (p.36)

Na sua prática educativa deve ter em conta o que ensinar, como ensinar, quando, onde, por quê e para quê ensinar, fazendo de ponte para a construção do saber, no seu contexto cultural e social, aglutinando todas as questões que aparecerem e sistematizá-las de forma a garantir o domínio de novos conhecimentos por todos os alunos, pois “quanto mais estimulante for o ambiente linguístico, e quanto mais ricas forem as vivências experienciais propostas, mais desafios se colocam ao aprendiz de falante e maiores as possibilidades de desenvolvimento cognitivo, linguístico e emocional” (Sim-Sim et al, 2008, p.12).

Neste contexto, para promover a aprendizagem da linguagem de forma sistemática e equilibrada, o educador/professor deve:

- Estabelecer uma relação carinhosa e entusiasta com as crianças promovendo uma linguagem afetiva que lhes dê prazer de comunicar num clima de confiança.

- Utilizar um modelo de linguagem rico e correto, visto que a competência linguística das crianças depende da linguagem que ouve ao seu redor.

- Promover uma estimulação linguística variada e de complexidade crescente, dado que em alguns casos é a única oportunidade que a criança tem de estar em contato com modelos linguísticos bem elaborados.

- Ter em conta as características e diferenças individuais de cada criança, respondendo às suas necessidades educativas.

- Favorecer a auto-estima e a auto-confiança.

- Promover ambientes ricos em comunicação, relevantes para a criança.

- Partir do que a criança já sabe e encorajá-la a usar a sua língua com a máxima eficácia quando fala ou ouve falar.

- Dar à criança um papel ativo na construção do seu próprio saber. - Garantir ocasiões de bem-estar e de segurança.

- Criar momentos de diálogo.

- Ter em atenção o caráter lúdico das atividades.

- Estar atento para dinamizar as áreas em que se nota que o interesse e a curiosidade decaíram.

- Ajudar as crianças a planificar os seus projetos.

- Pedir e dar informação consoante os dados que recebe da criança. - Ajustar e prever a próxima intervenção num contexto de diálogo.

- Promover hábitos de autonomia à criança para que esta “sinta” a sua presença tanto junto do seu grupo ou quando este se encontra em interação com outros grupos.

Tendo a apropriação e desenvolvimento da linguagem como alicerce de todos os saberes, cabe ao docente fazer de cada aluno um melhor utente da sua língua materna, uma vez que, é através dela que ele comunica e aprende acerca do mundo.

Por outro lado, e para além do papel do educador/professor na promoção direta de experiências de aprendizagem neste domínio, o docente deve ser o garante de um conjunto de condições ao nível da organização e gestão de espaços e tempos que se revelem promotores da oralidade das crianças. Pois, segundo Gassó (2004) “todos os espaços da escola incidem nos processos de ensino-aprendizagem. A distribuição, uso e dotação dos espaços deve ser coerente com as intenções educativas que se perseguem” (p.87).

A organização do tempo é também outro fator relevante para a promoção da linguagem oral, daí a importância da sua existência entendida enquanto “… sequência regular de acontecimentos que define, de forma flexível, o uso do espaço e a forma como os adultos e crianças interagem durante o tempo em que estão juntas” (Hohmann & Weikart, 2004, p.226). A sua estruturação também proporciona um variado leque de experiências e interações das crianças pela e através da ação, num papel mais ativo das crianças na sua própria aprendizagem, sem que estejam constantemente a perguntar o que irão fazer de seguida.

Nessa rotina devem existir momentos diários dedicados ao desenvolvimento da linguagem oral, criando-se um clima afetuoso, no qual as crianças se sintam livres para falar, devendo o professor/educador recorrer a diversas estratégias, tal como referem os autores Gassó (2004), Lopes da Silva (1997), Bigas (2001) e Tourtet (1987):

- Criar momentos de reflexão de acontecimentos ocorridos no dia. - Refletir sobre as situações educativas na sala.

- Conversar sobre temas interessantes para as crianças.

- Proporcionar oportunidades para a elaboração de projetos e brincadeiras em cooperação.

- Dialogar individualmente com cada criança sobre questões pessoais. - Utilizar perguntas abertas.

- Recorrer a jogos.

- Desenvolver atividades de exploração e manipulação.

- Explicar contos/histórias e posterior leitura ou representação com ajuda de marionetas ou outros dispositivos.

- Contar experiências próprias.

- Elaborar mensagens orais para serem escritas.

- Encorajar as crianças a falarem umas com as outras ao longo do dia. - Proporcionar às crianças experiências e materiais interessantes. - Escutar as crianças enquanto se exprimem.

- Encorajar as crianças a falar dos seus planos. - Gravar as suas conversas para posterior audição. - Recitar poemas.