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1.2 Objetivos

2.1.2 Efeito contágio versus Risco de efeito contágio

Diante das discussões sobre os diversos conceitos de efeito contágio e a contribuição teórica conduzida pela teoria institucionalista, é possível sugerir uma adequação do termo “efeito contágio” para o termo “risco de efeito contágio”.

A segregação desses dois termos depende, inicialmente, do conceito mais abrangente de risco: a probabilidade de um resultado não esper ado ocorrer (JORION, 2007; DANIELSSON, 2011). Implicitamente, essa definição permite supor que o resultado do risco pode ser positivo ou negativo, diante do resultado esperado. No entanto, a ideia de risco estabelecida para o entendimento do termo “risco de efeito contágio”, especificamente, é sustentada a partir da definição do VaR (Jorion, 2007), o qual representa uma forma de medição de risco, caracterizada por um evento de baixa probabilidade, mas que é negativo ocorrer. Isso porque é importante que o ponto de partida seja considerar o risco como exposição à perda, o que irá simplificar a análise, de modo que o resultado negativo do risco seja mais fácil de entender. Além disso, a justificativa do uso daquela definição baseia-se no cerne da discussão trazida nesta tese, o risco sistêmico – colapso em todo sistema, que é visto como repercussões, resultados negativos.

O termo “efeito contágio”, que comumente está associado a algo negativo, conforme verificado nos diversos conceitos expostos na Subseção 2.1.1, sugere, na verdade, algo mais amplo, podendo ser originado tanto de fatores que geram

consequências positivas, quanto de fatores que geram consequências negativas9. Uma

prova dessa distinção referente à consequência positiva ou negativa do contágio é corroborada por Giudici e Parisi (2017), ao relacionar o contágio negativo com um aumento no spread e o contágio positivo com uma diminuição do spread.

Já o termo “risco de efeito contágio” resulta, necessariamente, de consequências negativas, podendo ser associado a um perigo, algo que possa originar uma perda (exposição às perdas) tornando-se mais perceptível nas crises.

A Figura 3 explica o processo de efeito contágio e o processo de risco de efeito contágio. Ao imaginar que os fatos geradores (canais de transmissão) já previamente citados, provoquem, naturalmente, consequências, essas podem ser positivas ou negativas. Se positivas, podem gerar mais efeitos positivos contribuindo para o crescimento econômico, por exemplo. Por essa visão, pode-se entender que o efeito contágio não deixou de existir, apenas se propagou pelos mercados, via canais de transmissão, de forma positiva. Afinal, a existência das relações comerciais se dá principalmente por se esperar benefícios ou ganhos de troca, como preconiza a teoria institucionalista.

Por outro lado, essa consequência positiva, quando associada ao excesso de confiança por parte dos agentes econômicos, gerada muitas vezes por expectativas acima do que o mercado pode sustentar, por exemplo, pode causar , num segundo momento, resultados negativos. Ademais, se as consequências forem causadas por fatores negativos, estes tendem a gerar resultados negativos, num segundo momento. Dessa forma, essas duas possibilidades podem, num terceiro momento, ocasionar ou não uma crise.

Com isso, pode-se afirmar que, tanto o termo “efeito contágio”, quanto o termo “risco de efeito contágio”, nem sempre resultam em uma crise, mas toda crise apresenta o risco de efeito contágio. De tal modo, não existe uma relação necessariamente transitiva entre as inter-relações que podem gerar um efeito contágio e uma crise, mas pode existir entre as inter-relações que venham causar um risco de efeito contágio e uma crise. Isso pode ser visto pelo processo representado na Figura 3.

9 Esse pensamento pode ser baseado nas explicações das inter -relações discutidas anteriormente pela

Figura 3 - Processo de efeito contágio e de risco de efeito contágio

Fonte - Elaboração Própria, 2017.

Diante o exposto, a Figura 3 revela que o efeito contágio tem duas vias de transmissão: uma positiva e a outra negativa. Logo, a essência de ambos os termos pode não ser negativa, mas o risco de efeito contágio sim. Também, é conveniente destacar que o efeito contágio é algo que vem tomando forma ao longo de um período, não devendo ser encarado como algo pontual, que começa em um período e seus efeitos são sofridos apenas naquele dado momento (ADRIAN; BRUNNERMEIER, 2016). Em vez disso, deve ser entendido como algo que ocorre ao longo de um tempo, trazendo a ideia de uma ação continuada. Sendo assim, pode-se pensar que o risco de efeito contágio é resultado de um caminho negativo, no qual o processo do efeito contágio é verificado.

Nesse contexto, Kothari e Lester (2012) revelam que fatores negativos não representam condições absolutas para analisar o processo de propagação do efeito contágio. Eles afirmam que, com a diminuição da taxa de juros para incentivar a concessão de empréstimos e a desvalorização do dólar para estimular o comércio internacional, os EUA começaram a crescer, e oportunidades de novos grupos de indivíduos para comprar os imóveis surgiram. Num segundo momento, as habitações com preço inflacionado e a incapacidade financeira de muitos proprietários norte-

Fato Gerador Consequências Positivas Negativas Positivas Negativas Crise Não Crise Processo de risco de efeito contágio

americanos de, finalmente, fazer pagamentos mensais, associadas a uma frouxa regulação pela má execução e aplicação das regras contábeis a valor justo, contribuíram para a deflagração da crise em 2008. Logo, essa consequência negativa, vista num segundo momento, pode culminar numa crise ou não. No caso dos EUA, resultou na crise em 2008. Nessa ocasião, o efeito contágio mostrou-se presente, caracterizando-se como risco de efeito contágio.

Vale ressaltar que esse processo de efeito contágio pode ser visto em quaisquer tipos de mercado que sejam caracterizados por relações comerciais e financeiras, tendo em vista que tais relações não se restringem a países (PERICOLLI; SBRACIA, 2003; GARTNER; MOREIRA; GALVES, 2009; SANTOS; PEREIRA, 2011; FERREIRA; MATTOS, 2014).

A ideia de evidenciar a diferença entre o termo “risco de efeito contágio” em vez do termo “efeito contágio” torna-se importante porque existe um processo de contágio, considerado complexo, por existirem, como verificado aqui, vias distintas para tal processo. Ao contrário do que predomina na literatura, ao admitir que o efeito contágio seja simplesmente algo negativo, tal sustentação é inicialmente fraca, haja vista que canais de transmissão, inicialmente positivos, também podem gerar crises sistêmicas.

Por fim, mesmo diante das complexidades expostas, os estudos sobre efeito contágio merecem atenção, uma vez que os efeitos negativos gerados em uma economia podem tomar uma proporção maior, gerando o risco sistêmico.

2.2 Risco sistêmico

Para entender o que é risco sistêmico, faz-se necessária a compreensão sobre risco em sua forma mais abrangente, destacando inicialmente que, em qualquer relação de negócios, há exposição ao risco:

Quando investidores compram ações, cirurgiões realizam operações, engenheiros projetam pontes, empresários abrem seus negócios e políticos concorrem a cargos eletivos, o risco é um parceiro inevitável. Contudo, suas ações revelam que o risco não precisa ser hoje tão temido: administrá -lo tornou-se sinônimo de desafio e oportunidade (BERNSTEIN, 1996, p. 7).