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Efeito estufa e inverno nuclear

Capitulo III Sagan, O divulgador do vôo interestelar

3.2 Efeito estufa e inverno nuclear

Mas com todas essas informações, Sagan pode fazer alguns alertas sobre o futuro da humanidade. Sagan explicou para o público leigo ao comparar Vênus com a Terra e usar seus argumentos para demonstrar o que é o efeito estufa. Mas a descoberta dos CFCs e sua relação efeito estufa e camada de ozônio foram pesquisados por Rowland e Molina que faziam cálculos de reações químicas envolvendo cloro e flúor usando os dados da atmosfera de Vênus. O trabalho teórico sobre o papel dos CFCs na diminuição da camada de ozônio foi confirmada por outros cientistas em Harvard. Portanto o estudo da atmosfera de Vênus proporcionou e ajudou a confirmar a descoberta de que a camada de ozônio da Terra estaria em perigo. Uma conexão inteiramente inesperada foi encontrada entre as comparações entre dois planetas. Um resultado importante proveio daquilo que poderia parecer a pesquisa menos realista, mais abstrata e menos prática, compreender a química de outros planetas.

Há também uma conexão com Marte. Com o auxílio da Viking descobriram que a superfície de Marte aparentemente não tem vida, sendo muito deficiente até em moléculas orgânicas simples. Essa deficiência é amplamente atribuída à falta de ozônio em Marte. As experiências de microbiologia realizadas pela Viking mostraram a matéria orgânica transportada da Terra para Marte e borrifada sobre a poeira da superfície marciana é rapidamente oxidada e destruída. A luz ultravioleta do Sol atinge a superfície de Marte sem encontrar o obstáculo da camada de ozônio; se ali houvesse alguma matéria orgânica, seria rapidamente destruída pela própria luz ultravioleta e pela química oxidante natural de Marte. Assim, parte da razão para camadas superiores do solo marciano serem anti-sépticas é que Marte tem um buraco na camada de ozônio de dimensão planetária. Portanto as conclusões a que chegaram é que o aquecimento global é previsto como uma conseqüência do crescente

efeito estufa, causado, em grande parte, pelo dióxido de carbono gerado pela queima de combustíveis fosseis, mas também pela formação de outros gases que absorvem os raios infravermelhos.

Na década de 1980 os maiores emissores de dióxido de carbono eram os Estados Unidos e em segundo a URSS e em terceiro os países em desenvolvimento. Esse fato muito importante colocou no mesmo patamar as nações ricas e pobres, porque o efeito estufa não era apenas um problema da tecnologia, pois, as queimadas para aumentar áreas agricultáveis, o uso do carvão mineral, e assim por diante, os países em desenvolvimento também estariam dando uma contribuição para o aquecimento global. E para piorar os países em desenvolvimento tem a maior taxa de natalidade do mundo, e mesmo que conseguissem atingir o padrão de vida europeu eles constituiriam uma parte cada vez maior do problema. Seguindo a ordem de emissores vem a China e a Europa e o Japão. Sagan alertava que os interesses industriais investidos eram poderosos e a resistência dos consumidores era fraca demais para que ocorresse alguma mudança significativa no atual modo de viver, ou que talvez a transição para uma civilização não dependente de combustíveis fósseis pressionasse a economia mundial viesse a causar o caos econômico.

Outras informações também puderam ser obtidas através de observações climáticas de Vênus e Marte, com base nos princípios fundamentais da física. Os modelos de computador usados para entender o clima de Vênus e Marte também foram usados para conhecer melhor o clima da Terra, para tanto foram utilizados dados sobre o clima dos séculos XIX e XX e acrescentados a história geológica do planeta, o resultado novamente é o efeito estufa. Sagan estava ciente, de outros exemplos, de cientistas que estavam fazendo descobertas praticas sobre a Terra ao estudarem as atmosferas de outros mundos, por causa desses estudos foi criada uma nova área dentro da astrobiologia, conhecida como Planetologia Comparativa.

O inverno nuclear foi calculado e nomeado pela primeira vez em 1982/83 por um grupo de cinco cientistas, ao qual Sagan fazia parte. A equipe apelidada de TTAPS que correspondia aos nomes de Richard P. Turco, Owen B. Toon, Thomas Ackerman, James Pollack e Carl Sagan, desta equipe dois eram cientista planetários e os outros três haviam publicados muitos artigos sobre ciência planetária. O primeiro indício de inverno nuclear surgiu durante a missão Mariner 9 para Marte, quando houve uma tempestade de areia global que os impediu de ver a superfície do planeta; o espectômetro da nave constatou que a atmosfera superior estava mais quente e a superfície mais fria do que deveriam. Nos doze meses seguintes Pollack e Sagan calcularam como poderia ser uma tempestade dessa magnetude, e isso os levou aos aerosóis vulcânicos da Terra, á possível extinção dos

dinossauros pela poeira do impacto e ao inverno nuclear. O inverno nuclear é o escurecimento e esfriamento da Terra devidos, principalmente, ás finas partículas de fumaça lançadas na atmosfera pela queima de cidades e instalações de petróleo que segundo se acredita, deverá ser a conseqüência de uma guerra termonuclear global. Houve na ocasião um intenso debate científico sobre qual seria exatamente a gravidade de um inverno nuclear. O consenso geral a que se chegou foi que as temperaturas globais resultantes de um inverno nuclear em todo mundo seriam mais baixas que a das eras glaciais. As implicações para a civilização planetária, especialmente devido ao colapso da agricultura seriam um verdadeiro desastre de proporções nunca imaginadas. É uma conseqüência da guerra nuclear que foram, de certo modo, negligenciadas pelas autoridades civis e militares dos EUA, URSS, Inglaterra, França e China, quando decidiram acumular bem mais de 60 mil armas nucleares. Embora fosse difícil ter certeza sobre o assunto, argumentou-se que a hipótese do inverno nuclear desempenhou um papel construtivo na tarefa de conter a corrida armamentista37.

Enfim, se estivesse vivo Sagan reafirmaria suas idéias de que, em toda a história da humanidade nunca houve antes uma época em que tantas mudanças significativas ocorreram. Acomodar-se às mudanças é a chave de um pensamento de futuros alternativos a ser perseguido para a sobrevivência da civilização e talvez da própria espécie. Essa é uma geração em que cresceu com a relação ciência e ficção científica e sempre soube que muitos jovens que irão naturalmente se interessar e não ficarão assustados se receberem uma mensagem de uma civilização extraterrestre, pois eles já estarão acostumados com o futuro. E não seria exagero dizer que se sobrevivêssemos, a ficção científica terá uma vital contribuição para a continuação da evolução da nossa civilização.

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