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amor a TR, esposa de AJ sobre quem AJ constantemente se refere.

Trecho 1

No. Sigla Transcrição Observações relativas às condições de produção

verbal e não verbal 1 Ilm e ai seu AJ... eu tinha imaginado da

gente escrever uma ca::rta de amor pra dona TR... que que o senhor acha? 2 AJ Escreve

3 Ilm o senhor gostaria de escrever uma carta pra ela? Pra dona TR?

4 AJ escreve... escreve... é... Enquanto AJ fala, faz gesto com a mão apontando o papel em branco que está em cima da mesa e fazendo gesto de escrita

5 Ilm toma a caneta Ilm dá uma caneta a AJ 6 AJ não... não... i:: AJ faz gesto negativo com as

mãos 7 Ilm eu vou escrever?

8 AJ É AJ aponta para Ilm

9 Ilm por que? tá bom... eu posso escrever, mas o senhor me diz o que eu vou escrever

AJ não gosta da ideia fazendo uma careta e mexendo a cabeça negativamente

Vejamos a seguir, o Trecho 2 do Dado 2: Trecho 2

No. Sigla Transcrição Observações relativas

às condições de produção verbal e não

verbal 38 AJ esc... reve... se... ponto final aí

39 Ilm ponto final aqui... tá bom... vou colocar ponto final

40 AJ ae... começa outra vez... outra vez para dizer

AJ fala bem devagar, quase silaba por silaba 41 Ilm para dizer

43 Ilm com amor? 44 AJ com amor

45 Ilm É... vamos ver... vou dizer que tenho bom amor

46 AJ bom amo:::r

De maneira semelhante ao Dado 1, podemos notar, no Trecho 2 do Dado 2, o envolvimento na atividade com a escrita da carta quando o sujeito, por exemplo, pede para que eu coloque o ponto final: “es... creve... se... ponto final aí” (turno 38). AJ não assume somente o papel de dizer “o quê” escrever, mas também “como” escrever, ou seja, a forma da escrita – que o fim da sentença deve ser marcado com um ponto final. É interessante notar também que AJ narra o que sua interlocutora deveria fazer em seguida: “ae... começa outra vez... outra vez para dizer” (turno 40), o que indica, em certa medida, que ele é capaz de falar sobre a escrita.

O próximo trecho (Trecho 3 do Dado 2) revela que AJ está atento ao que acontece nas sessões em grupo, apesar de muitas vezes considerarmos que ele está alheio ao que se passa.

Trecho 3

No. Sigla Transcrição Observações relativas às

condições de produção verbal e não verbal 104 Ilm só isso?

105 AJ não só isso... ela [diz] ah aproveitar 106 Ilm aproveitar... uhum

107 AJ aproveitar... o... Jô 108 Ilm Você

109 AJ o:: falar falar sobre o::: 110 Ilm falar sobre o?

111 AJ o que? sobre o que... 112 Ilm sobre o que?

113 AJ vai dizer a:: Larissa

114 Ilm sobre o que vai dizer a Larissa? 115 AJ a Larissa

116 Ilm no caso... eu! Risos

117 AJ você que é Larissa?

118 Ilm eu que sou a Larissa, seu AJ

119 AJ o:::lha por AJ faz careta de dúvida

120 Ilm o senhor acha que eu to mentindo pro senhor?

121 AJ eu procurei você

122 Ilm o senhor tava me procurando, né? Ilm olha para Efb e Ecm que confirmam que durante a reunião em grupo ele procurou por Ilm que não estava no início da sessão.

123 AJ EI... você

124 Ilm então seu AJ... é que é assim... ó... eu tenho aula das 8h às 10h da manhã... então eu só consigo chegar aqui no CCA às 9h30... quinze pras 10... entendeu? por isso que eu chego assim tão atrasada!

AJ faz que sim com a cabeça

125 AJ então... chega atrasada? AJ fala bem devagar 126 Ilm eu chego atrasada... to::da terça-feira...

mas semestre que vem eu prometo que não vou chegar atrasada

127 AJ não? 128 Ilm Não

129 AJ vai... e o o...vai... cê vai chegar atrasada 130 Ilm semana que vem acho que não

131 AJ Não

132 Ilm não... semana que vem eu acho que não tenho mais aula... hoje foi o último dia 133 AJ último dia?

134 Ilm último dia... da aula

135 AJ o:: vai vai parabéns pra AJ olha para Efb e Ecm 136 Ilm obrigada, obrigada... foi o último dia, é...

tomara que eu passe na matéria...vamos ver

Risos

137 AJ tomara que passe.. eu também

138 Ilm o senhor também passe? Risos 139 AJ ah... eu vou vou vou

140 Ilm não o senhor vai continuar aqui no CCA... vamos ver... se o senhor terminar essa carta... aí eu vou vou passar o senhor, pode ser?

141 AJ apressar... o o

Enquanto escrevíamos a carta, ao ser questionado o que deveria ser escrito naquele momento, AJ diz “vai dizer a Larissa” (turno 113). Parece que AJ não percebe – ou não sabe ou ainda não se lembra – que seu interlocutor é a pessoa sobre quem ele está falando. Ao ser chamada a sua atenção a respeito disso, o sujeito afirma que havia me procurado durante a sessão em grupo, o que nos mostra que não estava desatento, como muitas vezes

supomos. Acreditamos que um dos motivos que pode nos levar a considerar que AJ não esteja atento, em todo momento, ao que acontece nas atividades em grupo é a ausência de iniciativa durante as interações nas sessões coletivas ou, ainda, o efeito dos remédios. Entretanto, tanto no Dado 1 (ao chamar a atenção para a ausência da coordenadora do grupo), quanto no Dado 2 ( quando mostra que percebeu que uma das investigadoras não estava presente nessa sessão) essa impressão nem sempre se sustenta.

Como AJ percebe minha ausência na sessão em grupo, explico para ele o motivo de eu não estar presente na maior parte da sessão. Após minha explicação, AJ faz um comentário pertinente, dando-me os parabéns por eu terminar o curso (turno 135) e mostrando, mais uma vez, que está na interação. De maneira semelhante, AJ “surpreende” seus interlocutores quando afirma “eu procurei você” (turno 121) ou quando, no Dado 1, refere-se à viagem da professora Rosana, afirmando “congresso... muito bonito” (turno 36).

A seguir, apresentamos a carta escrita para TR, durante o diálogo transcrito no Dado 2, na qual AJ vai dizendo o que sua interlocutora deve escrever.

Produção textual posterior aos eventos neurológicos 5: Carta de AJ para TR em sessão individual (14/07/2011)

O próximo dado diz respeito ao trabalho com a leitura, o que nos possibilita criar algumas hipóteses sobre como os recursos linguísticos estão presentes na produção oral de AJ e como são explorados para que ele possa driblar as dificuldades impostas pela afasia, a

fim de constituir seu intuito discursivo. Trata-se da leitura do primeiro parágrafo do texto referido no Dado 3 (Ponte Preta, o primeiro time do Brasil102

), com destaque em negrito para as partes que AJ leu de maneira inesperada. Em seguida, apresentamos a transcrição da interação que ocorreu durante essa leitura:

O ano era 1900 e na, cidade de Campinas, um grupo de alunos do Colégio Culto à Ciência passava suas tardes jogando bola em campos improvisados de um bairro de nome curioso: Ponte Preta. A vizinhança fora batizada em virtude de uma ponde de madeira feita pela ferrovia e que, para ser melhor conservada, havia sido tratada com piche.

Dado 3 (13/04/2010): ocorrido em sessão de acompanhamento individual no CCA, a

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